Dani 06/09/2015Hoje eu sou AliceEste foi um livro que eu tinha no meu Kindle há bastante tempo, o qual eu não sabia nada sobre. Pesquisei no Skoob e tinha descoberto, após apenar dar uma olhada rápida na sinopse, que se tratava de, no caso, Alice, uma mulher com múltiplas personalidades. Como me interesso muito por tudo que envolve psicologia, decidi começar a leitura em uma tarde qualquer. Eu realmente não sabia que se tratava de uma história real, ou eu não teria lido por enquanto, pois acabava de terminar Sonhe Mais, um livro real e, de certa forma, forte. Quando comecei a ler Hoje Sou Alice e percebi que se tratava de uma biografia, pensei em abandonar, pois não estava mesmo no momento. Mas não consegui, simplesmente. Eu precisei continuar.
Este livro é o relato de Alice Jamieson sobre sua vida tão conturbada. Desde criancinha ela percebia que sua família possuía muitos problemas. A começar por seus pais, que estavam sempre discutindo e seu irmão que parecia não ligar muito para ela. Ela também conta que, desde pequena, o relacionamento com seu pai era, no mínimo, estranho. Muito estranho. A única coisa que deixava-na bem era seu avô, que foi o protagonista de todas suas lembranças felizes.
Ela se sentia deslocada na escola, tinha uma visão confusa e repugnante sobre seu próprio corpo, e acabou desenvolvendo anorexia e alcoolismo, além de se relacionar mal com as pessoas. Ninguém parecia perceber que havia algo realmente errado com Alice, mas ela definhava cada vez mais. Tudo parecia errado e ela sempre tinha pesadelos que mais pareciam lembranças turvas com um homem que vinha todas as noites "visita-la" em seu quarto.
Enquanto tenta levar a vida da melhor forma que pode, fazendo coisas que a distraem, como correr e viajar, Alice acaba percebendo que tem muitos mais problemas que imagina. Ela, com frequência, escuta vozes dentro de sua cabeça. Vozes distintas e que têm outros sexos, vozes que a mandam fazer coisas ou simplesmente dizem que ela é um fracasso. Alice Jamieson desenvolve mais de uma personalidade e, quanto alguma delas "assume", ela perde totalmente a noção do que se passa ao redor, voltando a si muito tempo depois.
Incapaz de buscar ajuda e com vergonha de si mesma, ela se concentra nos estudos e tenta desvendar os fragmentos de sua memória e infância, onde tudo começou.
Este é um livro que, por mais que eu escreva, não conseguirei passar tudo que senti e ainda sinto pela leitura. É muito forte mesmo, pois lidamos com assuntos pesados como abuso sexual na infância, negligência, transtornos psicológicos, anorexia, alcoolismo, drogas...A leitura é densa e lenta - não lenta de uma forma chata ou enjoativa, mas algo agonizante. Você começa com as lembranças embaçadas de uma garotinha que já percebe que há algo errado em casa para conhecer uma mulher cheia de problemas e angustias.
Nos leva a refletir muito sobre o quanto há crueldade dentro de algumas casa e como isso afeta demais a vida e o futuro da uma pessoa. Por causa de desejos nojentos de pessoas doentes, uma pessoa tem toda sua vida acabada, não consegue estudar, trabalhar, não consegue viver. É revoltante e muito, muito triste.
Foi interessante, no entanto, entender como funcionam as personalidades. Sempre que pensava em alguém com dupla personalidade, me vinha à cabeça aqueles filmes ou séries onde as pessoas cometiam crimes sem saber, e coisas do tipo. Aqui Alice tem consciência de suas personalidades, mas somente depois de ir à muitas terapias e consultas psiquiátricas. Mostra também que ela ouvia as vozes e, de alguma forma, sabia quem era quem em sua cabeça, pois cada um tinha uma identidade própria. Não era só outra garota, como eu pensava que seria uma vez que ela é uma mulher, mas há também homens, adolescentes e crianças em sua cabeça. Estas personalidades foram uma forma que seu subconsciente encontrou para fugir do que lhe faz mal. Mas as personalidades também contribuíam para sua vida ser um caos, pois a machucavam, cortavam-na, tentavam destruí-la.
Alice conta como foi toda sua busca por algo que a fizesse melhor, incluindo internações em hospitais, manicômios, o vício em drogas e álcool e as tentativas frustradas de se relacionar com alguém, até mesmo com amigos. Para ela, todas as pessoas queriam seu mal e ela não conseguia confiar nem gostar de ninguém. Conta também como tentou confrontar seu pai quando mais velha, tentando seguir em frente.
Como é uma autobiografia, o final não é bem um final. Alice conta como encontrou apoio em um amigo que conhece, mas nunca conseguiria se curar totalmente. Mostra o quanto é importante ter alguém ao seu lado que acredite em você e que te ajude, e que você não deve desistir de você mesmo.
site:
http://danielabyrinth.blogspot.com.br/2015/04/resenha-hoje-eu-sou-alice.html