Edkarl 22/02/2021PesadíssimoÉ revoltante ler sobre a vida de uma pessoa se esvaindo em situações desumanas que lhe acontecem desde antes da primeira infância e suas consequências físicas, psicológicas e sociais. Alice dissocia durante a maior parte de sua vida pra não precisar "estar presente" em momentos de horror que seu corpo (e suas personalidades) vivem. Mas, onde Alice está quando não está no seu corpo? Longe de mim querer fazer uma análise clínica real do caso de Alice apenas baseado nos relatos de seu livro, até pq não tenho discernimento para isso, portanto, baseado apenas em achismo:
Alice "não viveu" sua infância, como a própria descreve diversas vezes em seu relato, durante grande parte da sua vida eram suas outras personalidades que assumiam o controle. Mas ainda assim, em algum momento ela começa a "observar" de fora essas personalidades passando por tudo aquilo, e quando começa a entender o que de fato está se passando ela sente pelos "outros" e não por ela mesma, afinal, quem viveu tudo aqui não fora ela.
Nas sessões de regressão Alice consegue cada vez mais "coexistir" junto a suas personalidades, e fica claro PARA MIM que todas essas personalidades não só fazem parte dela, como são parte de Alice, formam o ser "Alice". E apesar de bastante pesado, e de tanto sofrimento, fico feliz de ao final Alice conseguir se conectar mais a suas personalidades, ao ponto de conviver com a patologia.
A parte isso, é nítido que a dissociação, as personalidades, a depressão, o abuso de drogas, as tentativas de suicídio e até mesmo os medicamentos que Alice toma, roubam a vida dela, a que ela poderia ter se não houvesse tudo isso, mas também é nítido que tudo isso tem origem nos traumas de abusos sofridos na infância e adolescência. Alice não consegue durante muito tempo se relacionar, ter amigos, trabalhar, estudar, manter relação com familiares, é literalmente uma vida roubada.
Até por isso, comecei a enxergar as personalidades que a formavam inimigos de Alice, um equívoco, já que as mesmas eram fragmentos de uma Alice só, cada um viveu algo com Alice, tinham suas memórias e sua forma de reagir, e ao mesmo tempo, eram a infância que Alice não viveu, portanto só entendendo-as, acolhendo elas Alice conseguiria reagir a esses traumas. Isso ficou claro quando uma personalidade tenta suicídio e a outra a salva.
Esse livro é pesadíssimo, mas é também a oportunidade de conhecer uma história real, de saber que existem pessoas que passam por isso, e que sobrevivem.