malu 26/07/2022
Cidades Afundam Em Dias Normais e o retrato do apego
"Cidades Afundam Em Dias Normais", é o segundo romance da escritora Aline Valek, autora também de "As Águas Vivas Não Sabem De Si" - um favorito, confesso. Lançado pela Rocco em 2020, é um livro bem curto até: 252 páginas de pura nostalgia.
Valek nos conduz na história de uma cidadezinha do interior do Nordeste, Alto do Oeste, que sem mais nem menos, foi engolida por um lago, ficando assim, debaixo d'água. Mas, impressionando a todos os ex-moradores e futuros visitantes, a cidade é redescoberta após a seca do rio, uns 20 anos depois.
Narrado principalmente pela Kênia, uma fotógrafa e antiga moradora da cidade, ela vê em Alto do Oeste uma oportunidade de trabalho, porém é notável ao decorrer da narrativa que quem voltou é por que esqueceu algo.
Sendo assim, acompanhamos as histórias e vivências de várias figuras da cidade e que de alguma forma tiveram influência na vida de Kênia, como a professora e a melhor amiga e até mesmo o padre que só deixou a cidade inundada após contrair dengue e quase morrer de febre.
Esta história curiosa é levada a outro patamar com a escrita belíssima da Aline. É poética sem cair no clichê de frases óbvias que impactam às primeiras impressões. É tão natural e mágica que conseguimos supor o que os personagens sentem apenas pelo jeito que eles contam suas histórias.
Além de realmente parecer uma entrevista, pois é um livro muito visual, que até me lembrou a aura de "As Virgens Suicidas", porém de um jeito bom - não sou muito fã. Confesso que fiquei imaginando como seria foda se realizassem um documentário e postassem no YouTube.
Mas como nem tudo são rosas, achei que a segunda parte foi meio vazia, não vazia sem conteúdo, e sim como se houvesse uma lacuna ou como se a autora tivesse presumido que soubéssemos de algo que ela não explicou e aí simplesmente finalizou o livro. Contudo, entretanto, todavia, não foi um fator que estragou minha experiência com a história, apenas algo que me decepcionou já que amei seu outro romance e esse, em minha opinião, não teve lacunas.
Portanto, Cidades Afundam Em Dias Normais é uma opção certeira de leitura cativante que consegue equilibrar bem sensações de angústia e leveza. Além de ser uma leitura rápida por ter capítulos curtíssimos, é também uma entrada para ler mais autorAs brasileiras!!