luamagnetica 28/02/2022Me faltam palavras para descrever essa obra. Finalmente, o primeiro 5 estrelas e favoritado do ano!
Primeiramente, irei falar o óbvio: sim, temos milhares de livros internacionais bons. Mas, nunca um livro internacional será tão relacionável com as nossas realidades quanto um latino-americano ou principalmente brasileiro.
Nesse livro você encontra sua família, seus amigos, seus colegas, seus vizinhos e você mesmo.
"talvez pudesse dizer algo sobre a experiência latino-americana de nem sequer conseguir curar as feridas profundas da colonização, porque as desgraças se sucediam e o povo não tinha tempo de lidar com todas elas."
Segundo, nunca li antes uma representatividade indígena tão rica e realista numa obra fictícia. (Deveriam substituir "Iracema" por este livro nas leituras obrigatórias...)
Digo novamente que aqui o colonialismo foi tratado como ele é: cruel, invasor e desgraçado. Da narrativa de Érica até a de seu pai Vicente, toda a realidade foi exposta com maestria.
"Érica Xavante tinha a idade da terra. Diziam que ela viu os brancos chegarem, viu a mata virar fazenda, os corpos castigados pelo trabalho forçado ou deteriorados por doenças impossíveis. Outros contavam ainda que ela viu de perto os seus fugirem e morrerem, os tiros, as crianças aos poucos ficando mais claras, mas ainda descalças. Viu a pobreza ser inventada diante de seus olhos."
Terceiro, o mais lindo neste livro são os detalhes.
Aplaudo novamente a escrita da autora quando ela mostra dois melhores amigos que sempre foram bagunceiros na sala de aula mas passam a crescer afastados.
Até que em um certo ponto os dois em meios miseráveis, um conhece o rap (mais especificamente, Racionais) e a arte (pixação) e após isso, quando tem a chance de escolher o crime, não o faz. Já o outro, não teve essa base e infelizmente faz o que precisa fazer para sobreviver.
Pronto, destaquei meus pontos favoritos.
E enfim, esse livro está genuinamente recheado de narrativas incríveis. Amo esse tipo de história que segue vários personagens diferentes, explorando suas versões e perspectivas.
Se você procura uma obra nacional especial com, diga-se de passagem, uma das capas mais lindas que podem estar na sua estante para ler e favoritar, leia Cidades afundam em dias normais.
"A gente sempre se acostuma, depois de um
tempo. (...) Isso me assusta um pouco. Se acostumar é não conseguir mais diferenciar as tragédias dos dias normais."