Coisas de Mineira 30/08/2020
O Silêncio da Cidade Branca, é o livro um da trilogia da Cidade Branca – considerada um dos melhores thrillers da Espanha, é escrito pela autora espanhola Eva García Sáenz de Urturi. Antes de mais nada, explico que esse livro é um romance policial com toques de mistério, e até um pezinho no sobrenatural, por que não? Temos nessa trama muita intriga, complôs, vinganças, histórias do passado se intercalando com o presente, e mortes. Como um bom thriller não poderia deixar de ter.
Tudo acontece na cidade de Vitoria-Gasteiz, uma comunidade autônoma do País Basco, província de Álava (Espanha). Iremos logo ali ao início da história conhecer através da narrativa, uma sequência de assassinatos peculiares, que se espaçaram por 20 anos. Unai Ayala é o inspetor direcionado ao caso, e ele é especialista na análise de perfis de criminosos. Dois corpos são encontrados da mesma forma ritualística que aconteceram nos casos antigos.
Vale a pena dizer que o criminoso desses antigos assassinatos está na cadeia. Ele é Tasio Ortíz de Zárate, um jovem de família abastada e muito conhecido em Vitória. Irmão gêmeo de Ignacio Ortíz de Zárate, que na época dos crimes, era policial e infelizmente, precisou decretar que seu gêmeo fosse preso. Tasio está cumprindo seus últimos dias na prisão e logo será colocado em liberdade condicional.
“Resolva uma coisa de cada vez e chegue ao final desse maldito dia como puder. Seus ombros são largos por algum motivo, você aguenta, certo?”
De forma totalmente negativa e no pior momento possível, os assassinatos voltam a acontecer nesse mesmo período temporal da futura liberdade de Tasio. Será que o arqueólogo foi condenado erroneamente? Será ele inocente, e o verdadeiro assassino está novamente à ativa? Ou será que Tasio tem um cúmplice, ou um pupilo que está colocando as mãos à obra sozinho? Um imitador também pode estar continuando os crimes. Ah, é bom ressaltar que Tasio tem um perfil no Twitter que é periodicamente atualizado – porém, ele não tem acesso à internet na cadeia…
O modus operandi do assassino é sempre matar um casal. Geralmente, as vítimas não se conhecem e não tem nada em comum. São da mesma idade, e são encontrados nus, com a mão na face do outro. E o par de vítimas conforme são encontrados, coloca uma nova gama de pessoas na reta do assassino. É porque ele mata pessoas com 25 anos, depois uma dupla de 30 anos, em seguida 35 e assim sequencialmente. O crime antigo começou com um casal de bebês. Tudo bem triste e drástico.
“Esta é uma das piores etapas do herói: a noite sombria da alma, a decisão mais difícil, eu sei. #FaçaOCerto #Kraken”
Podemos perceber, assim como o inspetor Ayala concluiu, que isso é fruto de uma mente obsessiva e cruel. Além disso, sua investigação é direcionada a múltiplas teorias. Diversos focos de possíveis assassinos são mostrados à Unai, o que faz O Silêncio da Cidade Branca ser um thriller diversificado. Não conseguimos construir uma teoria durante a leitura e seguir nela por muito tempo.
Um trecho da narrativa acontece anteriormente, nos anos 70, e é extremamente importante prestar atenção nos detalhes que acontecem ali. Esses capítulos por algum tempo são intercalados com os capítulos que narram os tempos atuais. Nada confuso, nada que faça com que você se sinta perdido ou, sem se situar na história principal. Acho válido ressaltar que a autora recheou seu romance policial com dados históricos, e com informações sobre Vitória. Acredito que sejam muito importantes essas informações para que consigamos nos “teletransportar” inesperadamente para dentro do espaço e tempo onde acontece toda trama.
Porque isso era o que o diabo fazia, não é? Ferir todos os que cruzavam com ele.
Unai e sua parceira, Estíbaliz de Gauna, às vezes divergem em suas teorias sobre o caso, mas acima de tudo são bastante companheiros. A impressão que tive é que praticamente todo mundo conhece todo mundo nessa cidade. O que fica muito mais difícil em decifrar quem seria capaz de realizar crimes tão hediondos. E por qual motivo. Pois nem com a prisão de Tasio, esse motivo foi esclarecido.
Se você achar que tudo está muito lento na primeira metade da obra, o clima muda completamente na próxima metade. O passado e o presente se encaixam, e conseguimos caminhar pela história sem ficar tateando no escuro. Não sabemos se amamos ou odiamos os gêmeos. Se um é culpado, se o outro que é o assassino, ou se os dois tramavam tudo e só um foi pego. Gosto muito desse tipo de mistério que deixa a gente a mercê do que a autora idealizou.
Em O Silêncio da Cidade Branca, surpreendentemente podemos tirar nosso chapéu para a autora, uma vez que ela conseguiu construir perfis complexos para seus personagens de forma muito constante e fiel. Quando descobrimos o real assassino, todas as informações encaixam muito bem, e as razões são bem explicadas. Não senti que ficaram pontas soltas ao concluir a leitura. Também fiquei muito encantada com Unai. Um personagem sofrido, triste por natureza após se tornar viúvo por motivos tristes e catastróficos. É muito fácil criar empatia por esse policial que é tão humano e tão falho como todos nós.
“Quando quem sai matando em série é um baita de um gênio, só o que resta é rezar para que não sorteiem seu número na loteria da morte.”
Recomendo está leitura afinal, para leitores que gostem de um thriller mais lento, que constrói peça por peça uma imagem maior. A autora criou uma trama inteligente e muito bem elaborada. Não de forma poluída, mas com um reforçamento até em demasia dos fatos históricos, talvez, a leitura possa parecer que demora em engrenar e chegar a onde deva chegar. Contudo, creio que você será recompensado com um final muito honesto e bem pensado!
Finalizando, a edição de O Silêncio da Cidade Branca é bastante simples, com capa branca, bem neutra. Sua formatação e diagramação também são simples, e tudo muito confortável para leitura. Em suas 416 páginas, o livro me enredou de tal forma, que os olhos ficaram marejados na página final. E assim conquistou o total de 4,5 estrelas no Skoob. O livro deu origem ao filme homônimo que está disponível no streaming Netflix.
“Ainda bem que com rifles não se matam as palavras.”
Por: Carol Nery
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