Cley 10/03/2021O potencial de todas as crianças é medido pelo seu número Q. Uma pontuação alta dá acesso às melhores escolhas e um futuro promissor, a baixa manda os jovens para internatos sem perspectiva de uma vida melhor.
Depois que a filha de nove anos de Elena Fairchild é enviada a um desses internatos, Elena fica dividida entre ser a professora e a mãe; como professora ela entende o sistema, mas como mãe sua visão é completamente diferente e fará de tudo para recuperar sua filha.
"Quando os seres humanos se encontram em situações extremas, em um trauma pessoal, um mecanismo é acionado. Um interruptor é ligado. Até o mais introvertido se abre e despe a alma."
Narrado do ponto de vista de Elena, somos levados a um mundo onde tudo parece estar alinhado, porém, à medida que adentramos na história, percebemos que há algo errado acontecendo, cabe a Elena desmitificar um sistema que está longe de ser perfeito.
Dalcher mais uma vez traz uma distopia que assusta. O que é exposto na obra é passível de acontecer, pois podemos caminhar rumo a um campo desconhecido, onde o sistema nos atrai com resoluções dos problemas, mas que não expõe suas verdadeiras intenções, e quando acordarmos para o que está acontecendo, pode ser tarde demais.
A narração é linear, porém há breves flashbacks de Elena, os quais nos mostram fragmentos de uma jovem que teve que adaptar-se, pois se não fizesse isso, ficaria para trás.
Esses flashbacks nos trazem um novo olhar sobre quem é Elena: professora, esposa, mãe, mulher. Quais delas sobressairá às novas situações?
A história tem muitos elementos psicológicos, pois constantemente somos levados às reflexões da protagonista, consequentemente provocando nossas próprias reflexões.
A história penetra em aspectos familiares, políticos, educacionais e da área da ciência. Esse último gerou certa dificuldade em mim, pois não compreendi bem o que a autora expôs.
A autora martela a ideia de que somos propensos a fazer escolhas, que é o que nos difere dos animais. Os animais agem por instinto, nós não, então, qual espécie sobreviverá?