Renata (@renatac.arruda) 06/06/2021
A perda de uma pessoa amada é sempre uma ocasião traumática, uma dor que, mesmo quando compartilhada com outras pessoas, é individual e solitária. Parece completamente absurdo que o mundo siga sua rotina como se nada tivesse acontecido, enquanto a pessoa enlutada sente que o tempo está em suspenso. Ninguém está preparado para vivenciar o luto, principamente quando a perda é inesperada, e nunca sabemos exatamente como iremos reagir. Ou quando vamos nos recuperar.
É a respeito desse processo que escreve Chimamanda em Notas Sobre o Luto. Embora já tivesse enfrentado a perda de parentes queridos, a morte repetina do seu pai amado, de quem era muito próxima, levou a autora a experimentar uma dor até então jamais sentida e ela compartilha em seu livro como foi receber a notícia, acompanhar os preparativos para o funeral e receber condolências enquanto lutava para aceitar a realidade imposta e assimilar a ausência definitiva.
Ao longo da leitura, me identifiquei bastante com o mecanismo de defesa de Chimamanda de simplesmente querer se recolher e sumir, não responder mensagens ou falar com ninguém, enquanto vivia sua dor. Em uma época em que vivemos conectados, sendo estimulados a não parar de interagir, engajar e produzir, renunciar ao desgaste de lidar com os outros e se recusar a fugir da realidade com o excesso de trabalho para enfrentar as emoções de frente, me parece um movimento mais do que compreensível - necessário mesmo - para conseguir se reerguer. Nesse sentido, a escrita do texto (publicado no site da New Yorker antes de virar livro) me parece menos uma necessidade de produzir e mais o resultado de um processo terapêutico.
Nesses tempos de pandemia, em que milhões de pessoas ao redor mundo perderam entes queridos para a covid-19, o livro acaba funcionando como uma ferramenta de consolo, uma maneira de se sentir menos só ao ler a experiência e as reflexões da escritora.
Infelizmente, durante a divulgação do livro, e menos de um ano depois da morte do pai, Chimamanda perdeu também a mãe. Ela escreveu: "Como um coração pode se partir duas vezes? Ainda estar imersa no luto, mal respirando de novo, e ser insensivelmente mergulhada de volta em uma dor que não é capaz de articular". Eu nem consigo imaginar a sua dor. ?