@literatotti 16/12/2022Quando começou o fim do (teu) mundo?Natália Borges Polesso em "A extinção das abelhas" resume muito bem a sensação do que foi viver os anos entre 2018 a 2022. A sensação de fim de mundo, a sensação de tentar sobreviver em meio ao caos. Este livro só poderia ter sido publicado na pandemia e resume nossas vidas durante esse período ao tentar responder à pergunta que nos rondou nesses anos: como chegamos até aqui?
O livro desconstrói o conceito de distopia ao retratar uma realidade muito próxima ao que a gente viveu. Talvez o fim do mundo não venha através de asteroides ou bombas nucleares como nos mostrou os filmes de Hollywood. Talvez, o fim do mundo esteja na invenção de um jogo em que ganha quem mata mais lésbicas e trans ou, até mesmo, na extinção das abelhas.
Este fim do mundo acontece quando os alimentos ficam tão caros que as pessoas já não conseguem pagar. Para algumas pessoas, o fim do mundo já começou há muito tempo. "Quando tu imaginou o fim do mundo, não era o fim do teu mundo que tu imaginava, era?”.
O livro apresenta algumas possibilidades de respostas a essas perguntas através da história de Regina. Ela foi abandonada pela mãe que fugiu com o circo para ser a Monga, a mulher-gorila. Diante de tantas políticas que atacam nossas vidas, Regina, assim como as abelhas, tenta sobreviver como dá.
“Aí a gente vive no medo, Regina. Não é nem com medo é no medo, enfiado no medo. Querem a gente assim, que a gente pense a partir do medo. E o foda é que isso acaba nos paralisando ou nos fazendo agir na exaustão na maior parte das vezes. Tem que parar de sentir pra poder sobreviver. Tu me disse uma vez que tínhamos que revirar o medo pra existir. É verdade. Só assim pra existir.” (p. 75)
Sem respostas fáceis, o livro de Natália Borges Polesso não se isenta de culpa. Todos nós temos parcela na construção e destruição deste mundo. Diante deste cenário, só nos resta viver, afinal, "viver é a revolução".
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