Ju Harue 18/09/2022O agro é tech mas não deveria ser popEu achei a premissa interessante, um fim dos tempos distópico - talvez nem tanto - que leva o Brasil a escassez e tudo que trás de degradação consequente, quando o uso de agrotóxicos exagerados acaba dizimando as abelhas e isso foi só o início do colapso. E acontece não somente no cenário nacional, há problemas do tipo em diversos países, medidos através do colapsômetro, mas achei bem interessante a história se passar em uma cidade brasileira pequena e interiorana. A personagem Regina, imersa em não-sentimentos, trazendo debates raciais, políticos, culturais e econômicos incomodamente próximos do cotidiano, reais demais, causou-me sentimentos que levei para o lado de não gostar da leitura, mas depois da oportunidade de ouvir a autora e outros participantes do projeto Piquenique Literário, eu entendi que foi intencional da autora e repetiu-se mesmo efeito em muitos outros leitores - objetivo atingido com sucesso rsrsrs. Esses sentimentos fazem parte de tudo que a história é e representa.
Com um estilo de escrita de experimentação, de muita intensidade e momentos fortes, Natalia trouxe histórias de mulheres diferentes e semelhantes ao mesmo tempo, cada uma com sua história e seu eixo de acontecimento, que se entrelaçam e separam-se conforme o desenvolvimento. A forma narrada é muito característica e acaba sendo uma leitura rápida apesar de ser indigesta em muitos momentos. As notícias que parecem ficção mas são reais foram outro soco no estômago e saber hoje, que ela escreveu antes da pandemia, torna ainda mais potente e significativo - ela revisou acrescentando falas pontuais sobre a pandemia, quando a obra não foi publicada originalmente na data prevista.