Butakun 15/01/2017
Uma boa obra e uma baita maldição/decepção editorial tupiniquim...
E após uns bons tantos anos e uma baita maratona de True Blood, resolvi saciar uma vontade já há algum tempo percebida, que é ler os livros que originaram a série de TV (que não é uma das melhores já produzidas pela HBO, mas cabe). E daí veio logo o drama: que bagunça editorial maldita é essa?! Charlaine Harris se deu mal por aqui. Mal mesmo. Primeiro com uma rápida passagem pela Prestígio Editorial, do grupo Ediouro, sendo que por lá veio apenas o primeiro livro, sob o título "Morto Até o Anoitecer" ("Dead Until Dark", no original). E aqui cabe uma observação: achei lindo isso, pois utilizaram um estilo gráfico próximo da primeira edição norte-americana e a fidelidade ao título original. Okay, okay, a série de TV ainda engatinhava, sequer havia estreado, e não deu outra: baixas vendas e abandono. Depois disso, veio a Arx, do grupo Siciliano (Sr. Saraiva, o senhor por aqui?). Relançamento do primeiro livro sob o mesmo título e lançamento do segundo, como "Vampiros em Dallas" (que é aceitável, mas...), ainda com um projeto gráfico bem interessante. E aqui cabe um esclarecimento (só para não usar "outra observação"): "Vampiros em Dallas" como titulo desse segundo - originalmente chamado "Living Dead in Dallas", ou seja, "Mortos-Vivos em Dallas", numa tradução livre) foi uma escolha editorial aceitável mas começava aí a distorção das edições brasileiras com relação às originais norte-americanas. Isso porque lá, todos os livros da série contam com a palavra "Dead" no título, como, por exemplo, os dois já citados e outros tantos, tais como "Club Dead" ("Clube Morto" ou "Clube dos Mortos", em tradução livre), "Dead to the World ("Morto para o Mundo", trad. livre), "Dead as a Doornail" ("Morto como Pregos de Portas", ou simplesmente "Obviamente Morto", ou algo do tipo - ver goo.gl/UbWOJL), "Definetely Dead" ("Definitivamente Morto", trad. livre), e por aí vai. Tal jogo de palavras se perdeu nas edições daqui, e isso já a partir do segundo livro, o "Vampiros em Dallas". E depois a coisa só piorou. A Arx virou Benvirá e então os livros mudaram de novo. Flash! Novo projeto gráfico. Flash! Algo beeeem adolescente metido a ousado. Flash! Capas inspiradas na série de TV. Flash! Casais em posições... erhh, provocantes (?). Flash! Adoooro (mentira). E sobre os titulos, a Benvirá tentou manter o jogo de palavras dos originais, apenas usando a palavra "Vampiro", no plural ou singular, no lugar de "Morto", o que até se mostrou aceitável no caso de "Procura-se um Vampiro" (Livro 4). Mas a coisa toda se embaralhou de novo com títulos como o do livro 4, "Olhos de Pantera" (Pode isso, Laurinha?), e do livro 6, "Vampiros para Sempre". O caso é que tanto o projeto gráfico quanto os títulos ficaram tão meio "Saga Crepúsculo" que desanima. E o resultado da bagunça? Nada de mais livros da série por aqui, e isso no auge da adaptação televisiva. Admito que quando vi a LeYa publicando os livros da Harper Connoly até fiquei esperançoso quanto a uma possível retomada da série dos vampiros sulistas, mas deu errado de novo e até hoje esperamos o quarto e último livro da série, "Grave Secret" ("Segredo do Além", seguindo a lógica da tradução daqui), lançado nos EUA em 2009. Para quem ainda guarda alguma esperança de ver as aventuras (desventuras?) de Sookie Stackhouse por aqui, vale saber que a jovem editora Valentina lançou bem recentemente "Os Impostores", primeiro livro/HQ da trilogia "Cemetery Girl" ("A Garota do Cemitério"), uma parceria da Harris com o ilustrador Don Kramer (Marvel, DC) e o autor Christopher Golden (da série "Body of Evidence", inédita no Brasil), mas acho bem pouco provável que eles sigam além disso. Enfim, saindo desse bando de informações e concluída a leitura, devo dizer que a obra é simples e puro entretenimento. Nela você não vai encontrar uma grande profundidade ou complexidade, nem quanto aos dilemas vampíricos ou quanto ao caráter social da legalização da existência deles. É algo para se ler com o objetivo de se divertir e relaxar, com uma linguagem simples e direta, um ritmo de escrita rápido e sem qualquer enrolação. E cativa, acreditem. Tanto que pretendo ler os outros livros da série. E para aqueles que já assistiram ou pretendem assistir True Blood, digo que tudo - ou quase tudo - que está nesse primeiro livro se apresenta adequadamente na primeira temporada da versão televisiva. Depois me perguntam por que eu amo o Alan Ball... Leían sem medo, assistam (se for o caso) também sem medo. Não será tempo perdido.
Obs.: a série saiu na íntegra em Portugal pela editora Saída de Emergência - outra que minguou por aqui - como "A Saga do Sangue Fresco" (cês entenderam, né? True Blood -> Sangue Fresco... Ai, ai, esse meus amigos portugueses, rs), o que gerou títulos apoteóticos, tais como "Clube de Sangue" (oi?), "Sangue Furtivo" (ooi??), "Sangue Ardente" (oooi???), "Sangue Impetuoso"(...), e, creiam, "Sangue Final" (...desisto) para o último livro. Bom, pelo menos os portugueses puderam ler a obra em seu próprio idioma até o fim. Já para nós, humildes brasileiros, só resta recorrer a importação, seja da edição portuguesa ou da norte-americana. De um jeito ou de outro, todos os encargos são nossos. E sabemos: não são poucos.