livmchdo 30/01/2023Ratinho-nho-nho-nhoCara, que livro trasheira. Tinha tanta gente hypando e eu, de novo, fui cair no conto do spicytok. Mas ele é interessante por outros motivos que não o sexo. Aqui vai uma review de livro pornô com consciência de classe.
Os personagens são leibe do biruleibe, a trama é fraca e a motivação de todos eles é literalmente tirada do éter.
Addie manipuladora? Colega, tu não consegue nem convencer uma criança a comer doce. A menina é um dois de paus que tudo fica aiaiai minha casa lá fantasmas aiaiai meu corpo não resiste ao stalker. Ela fica excitada assistindo filme de terror. Longe de mim fazer kink shamming, mas ela vai ao cinema, assiste ao filme, se torna praticamente uma cachoeira, vai pra casa e antes de dormir toca uma música lembrando do filme e pensando nos jump scares. Assim, né? Limites.
O plot da véia lá. Chato. De. Mais. E ela assinar as cartas com um beijo de batom vermelho é TÃO piegas.
Daya é a clássica amiga negra por conveniência. Nossa, como eu odeio o plot da melhor amiga negra. Impossível ter uma personagem bem escrita, só pode ser a melhor amiga pra não atrapalhar o resto do elenco.
Agora, o que me pegou mesmo é todo mundo ser hasquer nesse livro. Assim, te contar, eu trabalho com TI e é sempre uma tortura ver esses filmes que as pessoas digitam furiosamente no teclado e acessam o backdoor para derrubar o multisimikey. Maluco, não. Não. Primeiro que hackear envolve muito mais engenharia social do que hard coding. Ninguém fica lá, amassando um teclado e pá, descobriu os dados da sua vida. Primeiro que é preciso usar o mouse também, hackear no brute force, o que esse cara provavelmente faz porque engenharia social ficou com cristo, envolve uma quantidade absurda de espera. Tipo absurda mesmo. Deixar o computador lá pensando e sair por uns dias, dependendo do caso. Ao ponto de ser mais fácil você ligar pra alguém é convencer ela a te passar o código que chega por SMS pra recuperar a senha do que tentar ficar invadindo a conta dela só nos computer.
Aí eu sou obrigada a ver esse Z lá tec tec tec pá derrubei o governo. Estamos falando dos stads unids. Me respeita.
E, mano, percebe como ideologia é um porre e está presente em tudo. A autora em diversos momentos traz aquele discurso anticorrupção digno do Sérgio Moro. "O problema do governo é a corrupção." Não, não, errou feio, errou rude. A corrupção não é uma entidade que paira sobre nós e atinge somente certas pessoas. Existe um sistema que permite que a corrupção ocorra, inclusive nos EUA, país da democracia e liberdade, país dessa autora, tem o lobby como atividade LEGAL. Uma empresa (ou conjunto de) pagar pro governo trabalhar pelos seus interesses é legal. Não foi só alguém do governo que aceitou o dinheiro, teve uma empresa que ofereceu. A gente não ouve por aí o discurso de que todas as empresas são corruptas. Ah, não. O doce e meigo empresário está sofrendo.
Então, durante mais da metade desse livro, temos essa ideologia liberal doidinha das ideia sendo normalizada como pano de fundo pra essa trama de "acabar com a pedofilia e tráfico internacional". O Zade só mata pessoas pra fazer de exemplo e isso nem de longe é uma forma efetiva de acabar com o problema. Pro Z conseguir alcançar o que ele planeja, é preciso lutar contra o sistema que permite que isso ocorra. Combate a corrupção sem luta de classes é banco imobiliário.
E você aí achando que esse livro era só sexo proibidão, né?
Tudo tem ideologia. Tudo. E quando a gente é sempre exposto a esse discurso de anticorrupção, quando chega na realidade, estamos tão alienados pela mídia que dizer "todo político é corrupto" ou "todo governo é corrupto" sai da nossa boca sem nem que a gente pense "mas por quê?". Tô dizendo que a autora está trabalhando para mídia burguesa? Longe de mim. Ela é americana. Nem passa pela cabeça deles pensar nisso. O nível de alienação ali é um troço de doido.
As cenas do final, meu deus, que agonia. Mas a forma como a autora lidou com elas? Broxante. Eu não senti absolutamente nada lendo as cenas de secso selvagem *voz do paulo guedes*, tão incomodada que eu estava com o resto. Não senti ela se apaixonando por ele e nem achei sexy nada entre eles. Aquela parte de reencarnação, sinceramente? Tenha dó.
Ainda bem que acabou, mas confesso que estou curiosa pra saber o plot do Zade. Tenho certeza que no final eles ficam juntos, consciência de classe não foi criada, então é isso.
A única coisa que nós temos a perder são nossas correntes.