Manu 06/08/2022
O pacto da branquitude é um acordo tácito, silencioso que beneficia um segmento (o branco) em detrimento da escravização/exploração do "outro". Tal acordo não é verbalizado e tampouco explicitado por quem se beneficia e se considera o "eu-universal", "não racializado". Afinal, numa relação de poder, dificilmente quem está em posição de privilégio quer abrir mão do mesmo e reconhecer que "os méritos" são fruto, na verdade, de uma herança escravocrata. Por mais que este grupo não tenha responsabilidade pelo ato anti-humanitário dos seus antepassados, que foi a escravização, é importante, que pelo menos, este grupo reconheça que as riquezas que acumulam, não foi fruto de grandes esforços. Mesmo porque, quem permitiu que eles obtivessem riquezas e prestígios foram as escravizadas e os escravizados que perderam suas vidas em razão disso. A Europa, tida como local civilizado e referência de bem estar social, deu início a esse processo de exploração e apropriação das riquezas que não lhe pertencia e ainda hoje, é considerada o berço do Mundo.
A autora, a partir de estudos no mestrado e no doutorado, assim como, diante da sua vivência como psicóloga organizacional pôde observar como o pacto se estabelece sem precisar ser dito. Ele é feito, por exemplo, a partir de seleções para emprego, onde, sob o discurso meritocrático, o que vemos, são pessoas brancas ocupando altos escalões, enquanto as negras, sequer, são selecionadas. Estas pessoas, ainda que reconheçam a necessidade de promover a diversidade no ambiente institucional, possuem um grande medo em serem sucumbidas por pessoas negras altamente competentes. Nestes espaços de poder, figura, principalmente, o homem branco, ocasião em que a autora vem trazer uma discussão sobre a masculinidade branca. Não obstante, não foi surpresa perceber que as mulheres negras permanecem na base da pirâmide, recebendo três vezes menos que as pessoas brancas, ainda que tenham qualificações maiores e melhores. Infelizmente, não nos é suficiente ter diplomas, mestrado, doutorado, pós-doc, especializações, se o pacto da branquitude está sempre imbuído de fortalecer os seus e perpetuar uma herança que não deriva de méritos, mas sim, de exploração. A autora também nos apresenta a branquitude tida como aliada, mas que, infelizmente, em determinados momentos, ela não estará disposta de abrir mão dos seus privilégios para permitir que pessoas negras ocupem seus lugares. A leitura do livro é muito fluída e é possível fazê-la numa sentada. Compreender o pacto como um acordo não dito, mas solidificado, é importante para que possamos ter mudanças significativas se pretendemos, de fato, romper com as barreiras do racismo e das desigualdades sociais.