spoiler visualizarevermwye 15/03/2024
Dua lipa eu te entendo
Eu estou simplesmente apaixonada por esse livro, me tocou muito. Foi muito pessoal pra mim porque aos oito anos eu também era como a claudia, eu era uma criança boba e inocente, mas também nem tanto, conhecia as dores da vida, apesar de desconhecer de onde elas poderiam vir. Foi quando eu cresci que entendi.
Entendi o que eu tinha passado aos oito anos de idade, entendi que nada no mundo vai preencher o espaço que a ausência do amor materno clássico deixa, entendi que a sua mãe não tem que te deixar sem comida ou sem água pra receber um título de mãe ruim, são as mínimas faltas que a tornam negligente.
Cada mínimo detalhe sobre a vivência de claudia com a sua mãe me dava uma sensação de reconhecimento, e acho que foi aí que senti um conforto, eu não tenho com quem falar sobre isso, qualquer pessoa que eu tentar falar vai só me dizer que eu estou sendo dramática e que eu deveria agradecer por pelo menos ter uma mãe que me ama incondicionalmente, mas essas pessoas não sabem metade da dor que cada atitude dela me causa, como tudo me rasga ao meio e me faz com que eu me sinta uma folha com a tinta da caneta borrada por causa das lágrimas, eles não fazem ideia de quantas vezes ela me negou o mínimo só para fazer o que acha que é certo.
Mas eu acho que onde realmente mora a dor não são nem nas cenas que a mãe da claudia a negligencia, mas sim nas que elas se conectam. É quando claudia vê a mãe com rinite e diz que agora realmente a enxerga, é quando sua mãe lhe conta sobre sua história com o patrick, quando depois do funeral a sua mãe está doce e calma, é quando a mãe dela pede desculpas e fala que vai mudar.
A maior dor que uma mulher que tem questões mal resolvidas com a mãe pode vivenciar é ter a esperança nas palavras vazias da sua mãe. Ela te conta histórias da juventude dela que te fazem pensar "por que ela era a garota mais doce do mundo e agora ela é o que é?", ela te conta histórias que machucam, histórias sobre como a vida dela também foi complicada, e você sente empatia, uma vontade imensa de abraçá-la e dizer que tá tudo bem agora, e uma hora depois ela briga com você por motivos inexplicáveis de absurdos, descontando toda sua raiva em você.
Filho não é saco de pancada. Se você bater nele, tanto emocionalmente quanto fisicamente, ele vai sentir dor. Quem machuca, esquece, quem é machucado, nunca se recupera.
Para as garotas como eu e a claudia o abismo não precisa estar em um precipício de verdade para nos causar aquele nó gostoso na barriga e o medo suplicante, as vezes ele habita em nós. Não nos resta opção, a não ser conviver com ele.