Izabella.BaldoAno 29/02/2024
Claudia é uma criança cercada por abismos ? físicos e simbólicos. aqui, há sempre no entorno penhascos, despenhadeiros, longas escadas e pessoas emocionalmente feridas, com buracos internos impreenchíveis, abismos permanentes.
assim é também para a mãe de Claudia, a Claudia primeira. a promessa de Claudia para a filha, a quem deu seu próprio nome na esperança de quebrar um ciclo de abismos familiares, era de estar sempre presente, diferente do que sua mãe costumava fazer. mas para além dos abismos que a cercam, Claudia tem que aprender a lidar, na criação da filha, com os seus próprios abismos. afinal, abismo que não se cura, se transmite como herança familiar.
tenho gostado muito de livros que abordam a infância ou que, como este, são contados a partir da perspectiva da própria criança. é interessante ver aqui como temáticas tão pesadas são narradas pelo olhar infantil de Claudia, a atenção dela para detalhes que passam batidos para os adultos, suas descobertas em torno das complexidades do que sente e do que sentem e fazem as pessoas que a cercam. a maneira como os abismos se apresentam para Claudia parece torna-los ainda mais densos, insalubres e doloridos. acredito que sua delicadeza diante deles seria impossível de ser captada pelo olhar de quem acha que já viu de tudo.
na narrativa de Claudia, há sempre abismos misteriosos na iminência do porvir. passei toda a leitura dessa história me sentindo suspensa, aguardando a queda, me deixando devorar pelas bordas.