Aline.Guimaraes 22/06/2023Que livro!Solitária narra a história de duas mulheres pretas - Eunice e Mabel - mãe e filha que vivem na casa dos patrões, uma cobertura luxuosa no Edifício Golden Plate. Lá são relegadas aos pequenos espaços que a classe trabalhadora deve ocupar: quartinho, banheirinho, caminha... Tudo no diminutivo ? inclusive o respeito e consideração por estas pessoas, tantas vezes negado. Até mesmo a existência dessas mulheres é negada pois devem fazer seu trabalho caladas, sem serem vistas ou percebidas pelos patrões.
Mabel desde cedo entende que para ter uma vida melhor e mais digna precisa estudar e faz isso sempre que pode, com afinco, na companhia de Cacau, outro filho da classe trabalhadora ? seu pai, Jurandir, é porteiro do prédio e ele também mora ali junto com seu irmão João Pedro. É João quem trava com Mabel um dos diálogos que mais me impactaram nesta história ? ele lembra à menina que não foi o estudo que fez daquelas pessoas muito ricas, mas a herança de famílias que sempre tiveram fortuna. Seria então os estudos e todo o esforço em vão?
Nesse ponto me emocionei muito, pois eu mesma cresci ouvindo que estudar seria a única forma de vencer na vida para pessoas vindas de famílias pobres como eu. Hoje posso dizer que sim, que estudar salva e transforma. Mas também sei que isso está longe da vida confortável, segura e cheia de poder que as pessoas super ricas tem e que obviamente querem manter.
No decorrer da narrativa vemos que muitos daqueles trabalhadores que moram ali no Golden Plate passam por situações absurdas e são vítimas de crimes horrendos. Aliás, um crime passado ali abre a história, que é chocante do início ao fim.
Solitárias é um livro denso, mas curtinho e fluido, com muitas reflexões sobre a realidade da classe trabalhadora no Brasil. Se você gosta de livros deste tipo, recomendo muito esta leitura.