Kamyla.Maciel 21/05/2023
Por mais Mabel a cada nova geração!
Às vezes, demoro um pouco para fazer a resenha de livros que me marcam muito. Com esse livro foi assim, porque ele traz tantos assuntos, tanta complexidade da sociedade brasileira que eu queria falar coisa por coisa, mas sei que seria cansativo. Então, vou tentar ser breve e passar tudo que senti ao me encontrar com ele.
Eliana traz a história de uma mulher, Eunice, que trabalha como empregada na casa de uma família rica, e com isso fala não só dessa família, fala da sociedade brasileira como um todo, da complexidade existente na relação classe média/elite com seus empregados. Fala de tantas mulheres pretas brasileiras que precisam morar no quartinho de empregada com uma filha e tentam sobreviver, apesar das tantas limitações que sofrem, muitas vezes disfarçadas de cuidado e afeto.
Fala de uma geração de 'filhos de empregadas' que não mais toleram o intolerável, que conseguiu chegar na faculdade, que entende seu lugar, que entende as opressões que as mães passaram e que não querem isso pra si. Mabel, filha de Eunice, vem para quebrar esse vínculo da mãe com os patrões, essa servidão que se confunde com amor também, já que ''ela é quase da família''.
É uma conversa muito muito rica e que espelha muito o que ainda vemos, tudo isso de forma leve, fácil de ler e de se conectar. Me lembrei muito do filme 'Que horas ela volta', mas achei ainda melhor porque traz muito forte não apenas a questão de classe, mas de raça também, que é inevitável nessa relação.
No outro livro que li de Eliana, ela trouxe o período da escravidão, nesse ela fala das consequências dela nos dias de hoje, fala da herança que ficou, fala da elite dependente de alguém para fazer todas as suas tarefas mais básicas, elite essa completamente descompromissada com qualquer tipo de reparação, fala das cotas, e até mesmo da covid, das diferentes formas que a covid afetou cada parcela da sociedade.
Achei muito interessante o fato dela humanizar as pessoas, Eunice não é só a empregada, ela é uma mulher com vida fora dali, com desejos, medos, dúvidas, sonhos, com afetos e família. Família essa que ela precisava deixar de lado um pouco para cuidar da família de outra pessoa. Ao humanizar, Eliana tira essa situação que é apenas uma notícia no jornal, como tantas que vemos, e nos coloca dentro dela.
O que torna ainda mais maravilhoso (e triste também) esse livro é que esses personagens estão perto da gente, seja como Eunice ou como Dona Lúcia, são reais, eles têm rostos, e ai a literatura faz a mágica dela, faz com que o leitor saia do livro e traga para a vida real os questionamentos? e nisso o livro tem o poder de transformar uma sociedade.
Enfim, recomendo MUITO!!