Lika 27/04/2024
Os espaços como sujeitos
Solitária é daqueles livros de ler rápido, querer saber da história logo, de tão bom. Eliana traz em cada capítulo, um cômodo/lugar. Então tem-se os espaços que os empregados de uma elite circulam e fazem sua vida acontecer: o quartinho da empregada, a cozinha, o corredor, enfim.
Ao desenvolver a história de uma família que o serviço doméstico passa de mãe para filha, e é rompido com o desejo da mais jovem de cursar medicina, Eliana destaca histórias que circundam esse núcleo e que foram reais no Brasil do século XXI, como casos de trabalho análogo a escravidão com mulheres em trabalhos domésticos, o caso do menino Miguel em Recife, entre outros. Em forma de denúncia, e também com fundo de justiça, ela insere essas histórias muito bem ao longo do livro.
É bonito ver tanto a visão da jovem/filha, e da mãe, escritas em narrativa de primeira pessoa divididas no livro.
Existia revolta, mágoa e inconformação contra os patrões e toda lógica senhorial do trabalho doméstico e subalternizado, mas também carinho, crença e cumplicidade entre as famílias, sobretudo negras, que serviam os moradores de uma cobertura de luxo, sobretudo brancos.
Vale muito a leitura!