Jéssika 12/04/2024
Solitária
O livro não traz nenhuma novidade. Tem uma narrativa parecida com a de Torto Arado e uma história que me lembrou o livro Suite Tóquio e o filme A que horas ela volta?, com Regina Casé. No entanto, o conteúdo trazido sobre racismo, invisibilidade, meritocracia, direitos trabalhistas, aborto, etc. é sempre atual e passivo de constante reflexão.
Uma alegoria trazida na obra é o conceito do quartinho, um ?protagonista? da história. Temos a personagem Mabel, que observa desde criança sua mãe sendo obrigada a limpar, cuidar, organizar e fazer tudo para seus empregadores brancos e ricos, que adoram dizer que ?ela é praticamente da família? ao mesmo tempo em que a relegam a um ?quartinho?. A própria Mabel, apesar de criança, tem um tratamento diferente e é destinada à lida já cedo.
Eunice também é uma personagem profunda e bem trabalhada. Para ela, de origem humilde, a vida doméstica acabou trazendo certa estabilidade pela qual ela é grata. Tudo que seus patrões fazem gera para ela, gratidão. E como no filme da Regina, vemos o conflito por ela cuidar da filha da patroa, Camila, e deixar Mabel, de lado. E isso faz com que ela sinta que Camila também é ?um pouco sua filha?. Assim, quando a garota se envolve no evento clímax do livro, Eunice é confrontada e precisa olhar para o seu passado a fim de entender qual o seu papel nos desdobramentos de tal evento. É como ler sobre o caso Miguel novamente, que ficou tanto tempo sendo o principal assunto dos jornais, só que dessa vez nas páginas de uma ficção (nem tão ficção assim).
Em conclusão: o livro é óbvio, traz mais do mesmo assunto, mas nos faz refletir sobre questões sempre importantes e pontuais. Daí, te proponho a seguinte reflexão: Vc tem quartinho de empregada em casa? Ele é mesmo um quarto ou uma solitária?