ANDER CELES 29/05/2023
Romance policial cheio da água de inspiração da Agatha
Gostei bastante desse livro. Nossa, fazia tempo que não lia um livro policial, policial mesmo! Pq muitas vezes os thrillers atuais trabalham esse gênero, mas mais dentro de uma história comum. Ou seja, às vezes o thriller é trabalhado dentro de uma história de um personagem que é um ser humano comum, e que é tragado pra dentro de mistério. Não que isso não seja legal, mas também gosto dos romances mais policialescos, digamos assim, no estilo Agatha Christie.
E justamente sobre isso que preciso falar. Para quem gosta dos livros da Agatha, isso daqui é um prato cheio. Cheíssimo. A autora se esbalda em influências da Rainha do Crime, e isso é até muito bem dito, quando temos, várias vezes, referências a Miss Marple. A narrativa se concentra, 80% dela, no mistério: quem matou? Ou seja, o foco é a investigação. Falei 80% pq tem algumas narrativas dentro do livro que fogem um pouco disso e que, ao meu ver, não contribuíram para a boa condução da história, além de ter desviado um pouco o clima narrativo. Foi inserida uma trama familiar que tomou mais espaço e mais importância do que deveria. Claro, isso tá cheio do meu gosto pessoal, que prefere ficar no campo da ação da investigação do que de relações familiares. Também achei um erro um acontecimento envolvendo o ex-marido da Jazz, e até a maior participação que ele ganha, dentro da história. Realmente não precisava.
Mas de resto, me empolguei muito com a história, muito mesmo. Tirando o acontecido com o pai da Jazz lá no meio, todo o resto da história se manteve atrativo. Vc quer continuar lendo para saber o que será revelado. E quando vc pega o livro de novo, depois de um tempo, vc lembra da história. E isso é um mérito da escrita, que é excelente! É muito fluida, muito natural. É incrível como vc parece conhecer a Jazz de outros livros, feito impressionante. Ela é carismática desde sempre, uma protagonista sólida. E todos os demais personagens, eles estão realmente inseridos, organicamente, nessa história.
O final poderia ter sido um pouco mais enrolado, sabe quando o Poirot demora 20 páginas pra explicar toda sua linha de raciocínio? kkk Queria algo assim, mas tudo bem.
Uma coisa que acho falho no livro é a seguinte: a resolução, apesar de bem explicada e coerente, não segue a linha narrativa da investigação que estava sendo feita pela Jazz. Em que sentido? Uma das linhas principais da investigação acaba não tendo nada a ver com a resolução do crime. Mas até aí, tudo bem, pq isso acontece mesmo na vida real. Às vezes a polícia segue uma linha que depois não tem nada a ver. Mas o que achei falta foi de que a real resolução do crime não teve sua causa muito bem explorada ao longo da história, talvez para não dar ao leitor muita chance de adivinhar o que tinha acontecido.
Mas, apesar disso, adorei ler esse livro, ele seria excelente se adaptado para uma minissérie ou um filme. Uma grande pena que a autora veio a falecer em 2021, sendo que o seu filho foi o responsável por publicar o livro, mas, segundo o mesmo, com pouquíssimos ajustes de edição. É uma pena, porque essa autora tinha uma mão tão boa pro romance policial, que fico pensando que outros livros no mesmo gênero surgiriam das mãos dela, até mesmo com a Jazz, como uma protagonista fixa.