Livrendo 17/01/2023
A sutileza através do choque !
O TERROR MODERNO QUASE nunca é sutil.
A maioria daqueles que praticam essa inquietante arte costuma ir direto na jugular, esquecendo que os melhores predadores são furtivos.
Não há nada de errado em mirar na jugular, claro, mas escritores de habilidade e talento verdadeiros têm mais de uma carta na manga.
Nem todos os contos de O telefone preto e outras histórias são de terror, por sinal.
Alguns são melancólicos e sobrenaturais, outros são de ficção convencional, perturbadoramente sombria, e um não tem nem mesmo um traço de maldade, sendo, na verdade, bem doce.
Mas eles são sutis.
Joe Hill é um 🤬 #$%!& sutil.
Mesmo o conto que tem um garoto que vira um inseto gigante é sutil e, falando sério, com que frequência dá para afirmarmos isso?
Em ?Você ouvirá o canto do gafanhoto?, o autor combina seu amor e conhecimento sobre a ficção científica e os filmes de monstros dos anos 1950 com os mesmos medos atômicos que geraram essas obras.
O efeito é, ao mesmo tempo, sombriamente humorístico e comovente.
Há uma elegância e uma sensibilidade aqui que nos faz lembrar de outra época, de Joan Aiken e Ambrose Bierce, de Beaumont, Matheson e Rod Serling.
Na sua melhor forma, Hill chama o leitor para completar a cena, convida-o a fornecer a resposta emocional necessária para a história ser completamente bem-sucedida.
E suscita essa resposta de forma maestral.
Estes são contos colaborativos que parecem existir apenas quando o leitor os descobre.
Eles precisam da cumplicidade dele para cumprir seus objetivos.
No primeiro, ?Melhor estreia de terror?, é impossível não reconhecer certa familiaridade e perceber para onde a história está caminhando, mas isso não é um fracasso, e, sim, um grande feito.
Sem a sensação quase exausta de expectativa, a narrativa não funcionaria.
Joe Hill atrai o leitor para a intimidade de ?Fantasma do século XX? e o desespero de ?O telefone preto? de maneira que ele passa a fazer parte do conto, compartilhando os acontecimentos com os personagens principais.
Um número exagerado de escritores parece achar que não há lugar no horror para sentimentos verdadeiros, substituindo isso por respostas emocionais pré-prontas sem maiores significados que as instruções de direção em um roteiro.
Não é assim com Joe Hill.
Por mais estranho que pareça, um dos melhores exemplos disso é ?Bobby Conroy volta dos mortos?, que não tem nem um pingo de terror, embora se passe no estúdio de filmagem de O despertar dos mortos, o clássico filme de George Romero.
Gostaria de falar com você sobre cada história desta coletânea, mas um dos perigos de escrever algo que vai entrar nas primeiras páginas de um livro é entregar coisa demais?