spoiler visualizarPedro 03/02/2024
Médio.
Um rascunho de boas ideias. A premissa é interessante. Existia, ali, algum potencial e isso desperta certa curiosidade sobre o deslinde.
No começo, parece um livro relativamente bem escrito - mesmo que não haja um desenvolvimento bastante produtivo. Ele brinca com a cronologia dos fatos. Vi que algumas pessoas se perderam em decorrência disso, mas achei tranquilo. Vai de costume e atenção, talvez.
Ocorre que, à altura do meio - e isso se repete até nas páginas finais - a escrita fica estranha, corrida. Consequentemente, a leitura também. Mas não é algo dinâmico, longe disso. É como se a autora estivesse apressada pra terminar, ou então com preguiça de escrever como nos primeiros capítulos. Sei que em alguns romances, isso é estratégico. Aqui não parece o caso.
Uma curiosidade é que a autora parece amar a palavra "neve", inclusive ela teria economizado umas sessenta páginas caso se dedicasse menos em descrever o quão frio fazia ali.
Os garotos - e a garota - realmente passam maus bocados, o que pode gerar certa empatia. Contudo, confesso que as personagens não me cativaram tanto, são tão médios quanto a escrita/estória em si.
No mais, a relação do Jack com Matty acaba carregando grande parte do romance - traduz e transmite relativamente bem um sentimento fraterno, passa certa verdade. A relação da Ava e do Matty, muito embora superficial, também é aceitável. Existem outras duas relações que, ao meu ver, tinham bastante potencial. Fiquei triste pelo desperdício, pra ser sincero. São: Ava/Bardem e Doyle/Midge.
Os Lehland (pai e tio do Jack e Matty) também tinham certo potencial. Acho que a autora poderia ter dado mais algumas camadas. De qualquer forma, são "interessantes".
A relação que deixa muito a desejar é a do Jack com a Ava, o casal principal do enredo. É platônico, súbito e mal desenvolvido. Não me estranha que dois perdidos fiquem juntos, pois a ideia é bastante clichê - ter algo no que se apoiar etc. O que """salva""" essa relação é que embora exista essa necessidade, doutro lado vem a certeza - pela Ava - de que é uma relação proibida. Ava e Jack serem filhos de quem são deixa o enredo um tantinho mais interessante. De qualquer forma, outra vez a abordagem da autora é superficial. Em determinados contextos, sei que meias-palavras são suficientes, 'entrelinhas'. Aqui, contudo, não funcionou - ao menos não pra mim.
Por fim, diria que o livro tem lampejos. Algumas citações sobre escolhas, arrependimentos, preços/efeitos etc podem te fazer refletir sim. Dentre outras coisas, ele aborda a obsessão de um pai, num tom velado que remete ao abuso/incesto. Sutil, porém perceptível.
Além disso, a autora passeia pela ideia e materialização do suicídio e seus efeitos/reflexos. Digamos que o livro começa e termina com acontecimentos parecidos e, muito embora os motivos sejam, aparentemente, completamente opostos, é possível vislumbrar uma conexão (bastante indireta, como dito anteriormente).
No geral, uma leitura que pode prender em alguns momentos. Um livro mediano que levanta uma boa premissa - com crimes, assassinatos, suicídios, vínculos inesperados etc - mas que se perde, ao meu ver, ao longo das trezentas e poucas páginas.