mpettrus 13/12/2023
O Mar Mediterrâneo é Um Cemitério de Refugiados
Aimée de Jongh é uma quadrinista e ilustradora holandesa que viajou até a ilha grega de Lesbos para fazer uma reportagem sobre a situação de vida dos refugiados que vivem nesse campo de refugiados. Sem a possibilidade de usar câmeras fotográficas ou filmadoras, a cartunista usou papel e lápis para registrar tudo o que vivenciou por lá.
? O drama de refugiados na Europa tornou-se uma realidade incontornável e premente a partir dos primeiros meses do ano de 2015. Uma sucessão de acontecimentos transportou para o quotidiano europeu a contingência das vidas de milhares de pessoas em fuga, por terra e por mar, em busca de refúgio.
Todas fugindo da guerra e da violência nos países de origem, da prepotência dos seus governantes, bem como da fome e da miséria.
?Esta realidade, pela espessura humana que comporta, passou a ser designada por ?crise dos refugiados?, mas rapidamente se revelou uma crise das instituições europeias, designadamente quanto à sua incapacidade e incoerência para resolverem, política e humanitariamente, a situação.
? De 2015 em diante, lembrando que o mundo enfrentou uma pandemia em 2020, a situação econômica de muitos países piorou, acarretando um número cada vez maior de pessoas chegando pelo mar nas costas de países como Grécia, Portugal, França, Espanha e Itália.
? Os refugiados que saem de países em conflito como Iêmem e Líbia chegam pela Grécia, que possuem alguns campos (o nome do campo de refugiados retratado na hq é ?Kara Tep?) onde os imigrantes são obrigados a esperar uma autorização para que possa de fato entrar na Europa. Por isso, a Grécia ficou conhecida a partir de então como ?a sala de espera da Europa?.
? Essa Hq foi como uma forte bofetada na minha cara pois, me dei conta de que não pensava sobre esse assunto tanto quanto eu deveria. Algo muito positivo que essa hq fez na minha vida foi me incentivar a ler mais sobre o assunto.
A entender quem são esses refugiados, o porquê dessa crise, como se dão as fugas, as travessias naquele Mar Mediterrâneo que é como um verdadeiro cemitério de refugiados, as autorizações, que podem vir ou não a ser concedidas.
? A sala de espera da Europa é na realidade o último vislumbre do ser humano refugiado, quase um apátrida na terra, de usufruir da sua existência dignamente em outro inferno travestido de paraíso.
? Eu gostei muito dos breves momentos dessa HQ usados para resumir os sentimentos dos refugiados em um campo de contenção na ilha grega de Lesbos. É uma hq curta, mas que consegue captar a essência do que os refugiados estão vivendo.
Alguns diálogos são bem fortes e nos fazem refletir. Considero essa hq como um verdadeiro relatório visual retratando o quotidiano dessas pessoas, o meio ambiente no qual estão inseridas, nos dando uma ideia minimamente aproximada das suas reais condições de vida.
? Aimée retrata em seus quadrinhos as pessoas, suas casas, seus banheiros e cafés, os contêineres, as regras que lá existem para que haja uma boa convivência entre tantas diferenças.
A quadrinista foi tão mestra na sua arte, que tive a sensação, enquanto lia a hq, de estar eu mesmo caminhando por esse campo e vendo com os meus próprios olhos as dificuldades que os refugiados passam todos os dias.
? Aimée nos entregou uma obra-prima da hq moderna. Em uma narrativa sensível, por vezes, profundamente triste, nos envolve sobre uma questão atualíssima com material riquíssimo, repletos de informações nos revelando a realidade crua de homens e mulheres, crianças e idosos, amplamente ignorados pela grande mídia, pela própria Europa e pelo restante do mundo.
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