Nati Sampaio 04/12/2023
To pensando aqui como pode esse livro ter essa nota tão baixa. É um livro que tem muitas,
muitas camadas pra analisar? Lógico que é um livro desconfortável, mas esse sentimento vem justamente por ele ser tão real.
Adorei a escrita do autor, gosto muito de narrador onisciente, onipresente e etc. Achei a escrita, acima de tudo, bonita: há muitas passagens interessantes, de grande reflexão. Marquei esse livro todo.
Como eu disse, esse livro tem muitas camadas: nem mesmo o nome dos personagens foi dado ao acaso. Paul, Cindy, Bobby, John? são nomes comuns, pessoas (crianças) comuns. Mas Dianne, por outro lado, é um nome mais excêntrico. É justamente o cérebro de toda a operação.
Bárbara, que nome lindo, não? Não te lembra a Barbie? Inocência, beleza, pureza me vem a mente quando penso nesse nome. Não foi à toa que eles a mataram: eu interpretei justamente isso - eles estavam matando todas essas coisas dentro deles, da própria vida e infância.
O livro conta com minúcias as torturas e tormentas que Bárbara passou, e isso não foi a toa, tínhamos que sentir tudo aquilo que estava sendo infligido a ela, de que outra maneira entenderíamos o nível de selvageria dessas crianças? De que outra maneira entenderíamos que CRIANÇAS estavam fazendo tudo aquilo, sem que, de alguma maneira, tentássemos ?passar um pano? ou até mesmo ?relevar? a violência causada por eles?
Achei interessante a forma que o narrador nos passou a visão de mundo dessas crianças, embora essa visão seja muito complexa. Achei muito bom o desenvolvimento de cada personagem, em especial Bobby e Dianne.
Por fim, adorei a forma que o autor criticou as autoridades: era muito mais fácil eles acreditarem que um simples colhedor hispânico-descendente fosse capaz de cometer tal atrocidade, do que crianças brancas, ricas, e ?inocentes?. Afinal, o crime e a maldade tem face, cor, classe social, não é mesmo?? O próprio detetive ainda comenta, ao entrevistar as crianças Adams, ao lado do pai (médico): ?Não é bom colocar certo tipos de pessoas em investigações criminais?.
Duas coisas que não gostei: O autor relativizou a violência sexual da Bárbara. No final, quase que tornou bonita. Isso não gostei, ele poderia ter escrito de maneira diferente. Nos dias atuais, quem sabe ele não teria reescrito de outro modo?
Segunda coisa: como que os detetives e afins não coletaram amostra de sêmen de dentro de Bárbara, para que pudessem comparar com o DNA do colhedor? Gostaria que tivesse algo ao menos falando sobre essa pequena ponta solta.
De um modo geral, gostei muito da leitura, e recomendo esse livro. Não é um livro fácil de ser lido - somente pelo seu conteúdo - mas achei importantíssimo. É impressionante vermos como funciona o mundo da impunidade, e como sempre os menos favorecidos acabam pagando o preço no final.
Recomendo!!!