Kami 22/05/2020Piratas gays (título provisório)Em um milhão de finais felizes conhecemos Jonas, um jovem adulto que trabalha em uma cafeteria meio futurista e que sonha em ser escritor um dia, apesar de nunca realmente escrever as milhares de ideias que anota em seu caderno. As coisas começam a mudar quando um estranho ruivo barbado passa na cafeteria e uma nova ideia surge: piratas gays sexys. A partir daí acompanhamos Jonas nas trajetórias do primeiro amor, mudanças da vida adulta, cumprimento de expectativas impostas e amadurecimento, além de termos a chance de ler em primeira mão a história muito fofa de dois piratas suspeitamente parecidos com Jonas e “Barba Ruiva”.
“-Para ser sincero, tô achado bem ruim. Oficialmente um dos livros mais superestimados de todos os tempos. Acho que quem ama esse livro provavelmente nunca leu outra coisa na vida”
Vamos começar essa resenha deixando claro que eu perdoo, quase completamente, o Jonas por ser um idiota e falar mal de O Pequeno Príncipe. Confesso que quando li tamanha heresia pensei seriamente em parar de ler e fingir que nunca vi esse livro, porém uma alma bondosa do Skoob me disse para perseverar, pois no futuro ele ia criar um pouco de senso e, bem, eu perseverei. E me surpreendi. Muito.
Para começar “Um milhão de Finais Felizes” é uma história muito fofa e bem escrita, com muitas referências a cultura pop que tornam tudo muito mais divertido de ler. Mas o que eu mais gostei do livro foram os personagens, a ambientação dos personagens, em especial o Jonas.
Porque o Jonas é aquele personagem jovem adulto que é possível se ver nele, mesmo que o leitor não seja parecido, sua insegurança sobre o primeiro amor e sobre sua sexualidade, seu dilema com Deus para um jovem que cresceu em uma igreja e sob as expectativas de uma família crente, sua relação com os amigos e em seus sonhos e objetivos. Apesar de ser completamente diferente ao Jonas em muitas coisas não pude deixar de me ver nele em cada pensamento religioso, quando ele disse que não conseguia completar nada porque encontrava outra coisa que parecia mais interessante, como ele lê demais e por isso imagina demais como seria um romance perfeito ou quando fica inseguro sobre sua vida amorosa.
“- Tenho que confessar que eu não inventei essa ideia. O Troy fez isso pela Gabriela
- Quem? – Pergunto, confuso.
- High School Musical, Jonas! É muito difícil ter que te educar em tudo”
Por outro lado, o Arthur é praticamente o oposto do Jonas, mas ainda tão fofo quanto, e é impossível não gostar de alguém que cita Jonas Brothers e HSM (eu te o perdoei por não gostar de ler, porque ele tem bom gosto), ele é totalmente o jovem adulto que, assim como eu, não consegue largar as coisas que ama desde a adolescência, como desenhos e a Disney. Ele não é o tipo de mocinho que vemos na maioria dos livros, que são meio perfeitos e apaixonantes, ele é o cara que manda mensagens normais de um cara de 20 anos (de pratos de comida e memes engraçados), que fica nervoso no primeiro encontro e fica de boa em comer em um barraquinha (todo mundo sabe que as melhores comidas são feitas nessas barraquinhas), que tem problemas normais e inseguranças normais de alguém de 20 anos, ou seja, era um cara legal e real.
E é essa a palavra que eu usaria para descrever esse livro incrível. Os personagens eram reais, com personalidades compatíveis com sua idade e sua ambientação, assim como dramas e dificuldades compatíveis, sem precisar puxar para histórias particularmente sofridas e incomuns, é um livro que você lê e pensa “nossa, eu me sinto exatamente desse modo” ou “nossa, isso também aconteceu comigo”, além de trazer ensinamentos incríveis, principalmente para quem, assim como o Jonas, está entrando agora na vida adulta.
“É então que me dou conta de que, sem que a gente perceba, a vida continua acontecendo. O mundo nunca vai parar para que eu resolva toda a minha vida e recomece do zero. Porque por mais que eu ainda esteja me recuperando de ter sido expulso de casa, no meu do caminho meu namorado vai ter problemas com a família, minha amiga de escola vai aparecer do nada pedindo perdão e meu melhor amigo vai terminar o namoro e eu vou precisar estar aqui para ajudá-los da melhor maneira possível. Porque eles precisam de mim da mesma forma que eu preciso deles, e tudo na vida acontece ao mesmo tempo.”