mari 03/07/2021
sobre marias
Eu somente li dois livros da Rachel até agora, porém, coincidentemente, os dois me deixaram com a mesma sensação de não saber o que sentir. "O quinze" foi avassalador, paixão já nas primeiras páginas; "As três Marias" foi totalmente o oposto. Arrebatador mas de uma maneira totalmente diferente.
Como não apegar-se à Guta? Como não se apegar a todo esse enredo, tão simples, entretanto tão bem elaborado? Essa obra foi publicada em 1939 e trata tão abertamente de temas que, se bobear, até hoje são tabus sociais. Rachel de Queiroz consegue transitar por temáticas como suicídio, relações extraconjugais, sexo antes do casamento, extremismo religioso, etc., com a mesma naturalidade que aborda temas como amizade e família.
É notório que há um pouco de Rachel em Maria Augusta, em sua recusa a seguir padrões impostos. Coincidentemente (ou não) foi justamente no ano de lançamento que a autora se separou de seu primeiro marido para viver com o amor de sua vida, em um Brasil que somente permitiria o divórcio quase quarenta anos depois. Acredito que o final, meio incerto, meio aberto, permite que imaginemos que, assim como Rachel, Guta também encontrará uma saída para sua fome de viver e saber o que é a vida.
Maria Augusta, Maria da Glória e Maria José, tão diferentes e tão semelhantes ao mesmo tempo.
"Olho as Três-Marias, juntas, brilhando. Glória reluz, impassível, num raio seguro e azul. Maria José, pequenina, fulge tremendo, modesta e inquieta como sempre. E eu, ai de mim, brilho também, hei de brilhar ainda por muito tempo -- e parece que a minha luz tem um fulgor molhado e ardente de olhos chorando."