Ellen Caroline 13/09/2020
A Musa dos romances maçantes e desinteressantes.
Foi complicado dar uma nota logo de cara pra esse livro. Eu estava com MUITAS expectativas para esse segundo volume que fecha a duologia de Um Estranho Sonhador exatamente por conta daquele final. Fiquei pensando: "agora é que a Minya vai lançar o terror na galera".
Quem me dera.
[CONTÉM SPOILERS ABAIXO - leia por sua conta e risco]
Logo nos primeiros capítulos achei beeeem devagar a maneira que os personagens lidaram com a "morte" da Sarai, o que fariam com o corpo e tudo mais. Não havia luto - Sarai ainda estava lá, todos podiam conversar com ela, interagir... Não senti o luto vindo dos personagens. Foram cinco capítulos para decidir o que fariam, sendo que poderia ter reduzido a três.
Quem gostou do romance do Lazlo com Sarai vai amar ainda mais nesse segundo livro - mas foi uma das coisas que mais me incomodou durante a leitura. Eu já tinha achado esse "amor" dos dois MUITO RÁPIDO (mal da Laini) que não me convenceu tanto assim no primeiro livro, só que nesse aqui a coisa foi muito mais melosa e maçante. Temos passagens e passagens sobre os dois, atitudes que você nem imaginaria vindo de um dos dois (quem diria, né, Lazlo), porém, os momentos do romance foram TANTOS que eu só conseguia revirar os olhos e me perguntava quando aquilo ia acabar. Eu entendo que nenhum dos dois se relacionaram com outras pessoas antes, mas o relacionamento que Laini construiu aqui não é verossímil - faltou muito caminho a traçar para que Sarai e Lazlo soltassem declarações de amor. E FORAM MUITAS. MUITAS MESMO.
O casal principal não é o único a ter momentos longos - Rubi e Feral tiveram algumas conversas que NÃO DERAM EM NADA. Parecia que a Laini não tinha mais nada para acrescentar em tal capítulo e mudou a cena para esses dois discutindo sobre algo tão... Fútil. Eu fiquei como Feral: "sério que ela tá brava por causa disso?"
Como no primeiro livro, a primeira metade de A Musa dos Pesadelos é devagar, e temos a adição de mais dois personagens, e confesso que esse capítulos foram um dos melhores. Os de Minya e os de Thyon eram os que eu mais ansiava para ler - mas ai tínhamos o romance de Lazlo e Sarai.
Thyon. Ai ai. Eu gosto de ler sobre personagens que são narcisistas, cheios de si, os alecrins dourados, e estar na perspectiva de Thyon era uma coisa engraçada. Ele é ingênuo mesmo com todo o conhecimento de alquimia, e ele descobrindo sobre uma questão com um personagem foi de encher o rosto com sorrisos.
E ai é que está. A alquimia.
Eu esperava MUITO MAIS da alquimia, da descoberta de Thyon sobre o mersathium neste livro - e apesar de AMAR os capítulos do Thyon, ele acabou se tornando um personagem... descartável. A narrativa estava dividida lá na cidadela e em Lamento, onde Thyon, Calixte, Ruza e os outros estavam, e quando chegava nessas cenas, não acrescentava NADA à história. Tudo o que acontecia passou a ser conveniente, tudo se resolvia tão facilmente, o que tornou as habilidades dos personagens do primeiro livro esquecíveis. Lazlo podia fazer tudo o que sua imaginação de sonhador permitia, então o que Thyon e os outros fariam além de observar as coisas desenrolarem? Houve um momento em que eles acham uma biblioteca com livros antigos onde havia alquimia de outros seres, e fiquei tão empolgada quanto Thyon, MAS NÃO DEU EM NADA. "Ah, achamos isso aqui, mas a galera da cidadela estão resolvendo as coisas com seus poderes de deuses azuis." Não valeu de nada. Thyon podia ter feito TANTAS coisas, mas Laini não soube desenvolve-lo direito. Houve um tipo de "redenção" do personagem quanto seus princípios sobre o mundo e as pessoas, contudo, foi TÃO RÁPIDO que não podíamos sentir que ele realmente estava compreendendo as coisas e percebendo que nem tudo era o que ele achava que tinha que ser.
E Minya não lançou o terror como pensei que faria. Boa parte dos capítulos estamos em seus sonhos, entendendo mais sobre sua fúria e revolta contra os humanos, mas eu esperava muito mais chantagem por parte dela para com Lazlo depois que Sarai estava sob o domínio de seu poder. No início houve sim um momento em que ela daria continuidade aos seus planos, porém a narrativa nos mostrou que ela não parecia tão cruel assim, deixando Lazlo e Sarai tranquilos nos seus momentos de casal meloso.
Os outros personagens - Pardal, Feral e Rubi - não tiveram crescimento, tão esquecíveis quanto os capítulos sobre Eril-Fane e Azereen, e eu não me importava mais com nenhum deles. Rubi eu até tinha um apego nela por me lembrar de uma das minhas personagens, mas ela ficou tão desinteressante quanto Pardal.
O Feral, coitado, se tivesse sido cortado nesse livro, não faria diferença nenhuma na trama. Literalmente.
Sobre a narrativa, não sei o que aconteceu aqui. No primeiro livro tínhamos algo mais estável: capítulos narrados sob a perspectiva de Lazlo mesmo quando outros personagens estavam em cena, assim como os de Sarai. Nesse segundo, se temos vários personagens na mesma cena, o narrador nos contava o que se passava em cada um deles - e eu não gosto desse tipo de narrativa. Não entendi do motivo de colocar "corações" na descrição de UM personagem, como se ele realmente tivesse VÁRIOS corações. Não sei se foi a mudança da narrativa DA LAINI ou algum tipo de erro da tradutora.
Eu poderia me estender aqui, mas a resenha/desabafo já está bem longa. As últimas coisas que pontuo aqui é que:
- houve muitos momentos onde eu não me importava mais com os personagens exceto Thyon e companhia;
- a escrita da Laini é MARAVILHOSA e sua construção de mundo É INEGAVÉL;
- as duas referências de Feita de Fumaça e Osso foram bem legais;
- eu já estava com sono lá pro final do livro;
- se tiver um livro só do Thyon, LEREI.