Camila 13/01/2021Trânsito segue no mesmo estilo que Esboço, só que agora já sinto uma propriedade maior da narrativa, das personagens e dos diálogos. É como se o livro antecessor realmente fosse um esboço (uau kk.....) e nesse finalmente tivéssemos algo mais encorpado.
A Faye, nossa protagonista em segundo plano, continua misteriosa e apática - inclusive, a apatia da personagem foi algo que me chamou muito mais a atenção agora. Parece que todas as situações ilustradas acabavam mostrando-se caóticas em algum momento: a obra em seu apartamento, os vizinhos de baixo, a chuva no evento literário, o menino no salão de beleza causando um estrago no local, o encontro que foi decorrente de um problema em seu carro, as crianças e as discussões no jantar na casa de seu primo... Enfim. Sempre acontecia algum episódio perturbador que parecia perturbar todo mundo, menos a narradora.
A forma de narrar os diálogos também é um pouco confusa, e embora eu achasse já ter me acostumado a essa altura, ainda me pegava tendo que reler algumas passagens pra realmente compreender quem tinha dito o que.
Apesar - ou por causa de - todo o distanciamento afetivo/emocional da Faye, ela me intriga bastante e fico sempre querendo saber um pouco mais da sua vida, que é contada em doses homeopáticas.
A não romantização da maternidade é um dos meus pontos preferidos em Cusk, o que novamente me lembra a Elena Ferrante. Também a retratação de todos os adultos como crianças em corpos mais velhos me chamou bastante a atenção. Perdi as contas de quantas passagens marquei nesse livro; vontade de reler de tempos em tempos só pra não esquecer.
Ansiosa para o próximo e reiterando novamente que essa trilogia precisa ser adaptada pelo Richard Linklater!!