spoiler visualizarLucy 21/09/2020
Ótima conclusão? Na verdade, não.
Último livro da trilogia Scythe, que me conquistou perdidamente com o primeiro livro, me animou com o segundo e me desapontei com o terceiro. Graças aos livros anteriores, que beiram a perfeição, a trama de O Timbre tinha tudo para ser épica e inesquecível. Eu queria ter devorado esse livro tanto quanto devorei os precedentes, mas acabei arrastando muito a leitura já que ela veio sendo muito aquém do que eu ansiava.
O ritmo foi muito mais vagaroso que os anteriores. Além do tamanho exagerado, ao meu ver. Muitas coisas poderiam ter sido drasticamente enxugadas sem fazer a mínima falta na trama. Tivemos a adição de alguns personagens, mas a maioria não era interessante. Tem tantos pontos que me decepcionaram, que minha resenha vai ficar gigante, mas quero colocar minha opinião, principalmente por ser o completo oposto da maioria aqui. Vou pegar os pontos mais importantes para mim:
- Rowan é o maior potencial desperdiçado de toda a trilogia. Isso é visível desde o segundo livro e tudo se repete aqui. Ele foge, é sequestrado, mantido sob custódia, foge de novo. E o ciclo recomeça. Desde o final de O Ceifador eu queria ver mais do Ceifador Lúcifer e em nenhum momento eu tive um vislumbre dele. Ele é só um peão no jogo alheio, sem qualquer função própria. Ele desapareceu por mais de 80% (talvez mais) do livro, e mesmo quando aparece, não tem nada a mostrar. Que fim teve a caçada dele aos inimigos da EstrelaSolitária? Qual foi o acréscimo dela a trama? E isso me leva ao segundo ponto.
- Muita coisa é jogada e não adiciona aos arcos, enquanto outras coisas menos interessantes recebem demasiado destaque. Um exemplo disso é a aliança de Mendoza com Goddard, que prometeu muito e não entregou absolutamente nada. Literalmente. Ou toda a trama envolvendo o Rowan, que poderia facilmente ser jogada no lixo. Ou o "reinado" caricatural de Goddard que se resumiu a ataques de raiva dignos de uma criança mimada. Não tendo metade do que poderia ter sido entregue. O vilão acabou sendo mantido como um mero expectador, assim como todos os personagens mais antigos. E esse é meu terceiro ponto.
- Gosto do Greyson. Achei ele um bocó apaixonado no início do livro A Núvem, mas gostei muito dele e de sua jornada como o Timbre e como ele era genuinamente digno para o "cargo". Apesar de sentir que ele ainda merecia mais. Entretanto, também gosto da Citra, do Rowan, do Faraday, do Goddard (não da mesma forma, claro). Queria mais sobre esses personagens tão fascinantes que foram jogados para escanteio e mantidos com subtramas menos importantes. Não há o desenvolvimento deles, principalmente o do vilão, o que por só já enfraquece a trama. As mudanças de pontos de vista acabaram me afastando da história, principalmente por focar em personagens tão desinteressantes, como a ex-agente Nimbo, que não fiz questão de lembrar o nome.
- E o último e mais importante ponto: se a Ceifa tinha aquele vírus inteligente, tão mais eficaz que a própria Ceifa, por que não o usaram antes? Não era nenhuma novidade que humanos são corruptíveis, sendo que isso foi notado logo na origem da Ceifa. Então, por que ela sequer foi cogitada ao invés de plantar o vírus que mata de 20 em 20 anos? A Nimbo-Cúmulo é tão perfeita, mas não pensou nesse plano tão mais simples antes por quê? Por que tudo nesse livro é tão conveniente?
Todo o livro é bastante arrastado, com praticamente nada acontecendo e com um final muito corrido, e, para mim, pouco satisfatório. Principalmente levando o resto da trilogia em conta. E Jeri, que é a paixão de todos os leitores, achei ele tão sem graça quanto o resto. A única coisa que o torna "especial" é seu gênero. Caso contrário, teria sido ignorado tanto quanto os outros. Ou seja, ele serve unicamente para o propósito do livro se mostrar representativo. Para não dizer que sou particularmente negativa, a escrita do Neal continua (quase) impecável, tirando sua enrolação. Os finais de capítulos com personagens no futuro tentando decifrar os testamentos do Timbre são criativos e muito divertidos, mostrando como muita coisa na nossa história ou na história das religiões pode ser facilmente mal interpretada. Além disso, gostei da volta do Tyger.
O Timbre pareceu querer falar de muitas coisas, inclusive fazer crítica a política americana atual (sério mesmo que não conseguem esquecer do Trump nem mesmo em um livro de Sci-fi YA?), quis mostrar mais e ser maior, mas se fragmentou tanto que acabou se enfraquecendo e não se desenvolvendo corretamente. 80% do livro passei entediada e isso foi uma surpresa bem desagradável. Minha nota inicialmente seria 4, porém admiti a mim mesma que muito era por culpa de não ter amado como a maioria (e ter me sentido um ET por isso), e outra por ter me apegado aos dois primeiros livros. Mas sendo ainda mais honesta, quanto mais penso, menos gosto.