Colecionando Planetas 10/07/2022
Primeira vez que me vejo como princesa
Por muitos anos achei que representatividade fosse besteira, eu admito. Mas com o tempo percebi a influência que a falta dela tinha sobre mim. Quanto menos pessoas pretas eu via mais feia me sentia, isso porque meu referencial de beleza era moldado de uma forma que eu mesma não me encaixava. Sofri muito com baixa autoestima, sofri querendo alisar meu cabelo, deixei de sair de casa para diversos lugares por me achar feia, sorria pouco por vergonha, ainda carrego marcas disso e apesar desse livro não ser perfeito, por diversas vezes foi emocionante me ver nas páginas.
Vou admitir que as vezes imaginava a personagem branca, como se meu cérebro estivesse programado para automaticamente ver a protagonista com essa cor, as vezes eu lia a cena e tentava imaginar ela preta e meu cérebro dizia "mas ela não combina" e isso era um soco no estômago, perceber que eu não me via e via meu povo como merecedores desse lugar. As vezes ainda é difícil superar esse pensamento embranquecedor, mas espero que livros assim ajudem.
Não é fácil admitir que as vezes, em pleno século XXI ainda me veja como inferior (ainda mais agora que mudei para um lugar onde a maioria massiva da população é branca e que me alertaram muito para o racismo), as vezes dói se sentir deslocada ou você se sente a pessoa "mimizenta" por comentar algumas coisas que meu namorado, por exemplo, nunca vai entender (mesmo que ele tente, e ele tenta), como o fato de colocarem "branca" no meu cadastro do sistema de saúde. Quando comentei com alguém preto, a pessoa entendeu o fato de me sentir apagada, mas quando comentei com alguém branco "não era nada demais".
Desculpe o desabafo kkkkkk mas foi isso, sobre o livro em si, senti o final meio rápido por isso tirei uma parte da quinta estrela, mas adorei a proposta, a personagem principal e o quanto a autora foi certeira ao falar sobre pesquisas científicas e feminismo (outro ponto onde fui representada).