Tamara 20/09/2020
Em geral, escolho os livros que quero ler tendo em vista os títulos ou sinopses que me chamam atenção logo de cara, mas, quando vi pela primeira vez o nome Querido Edward esse título não me despertou nenhuma curiosidade, e por isso sequer fui em busca de saber sobre o que ele falaria.
Porém, quando visitava as leituras de uma amiga no Skoob e vi que ela estava lendo esse livro, observei melhor a sinopse e na hora senti que era o tipo de história que eu precisava ler, tanto é que passei ele na frente de qualquer outro que eu pretendesse ler naquele momento e logo o iniciei. Querido Edward foi para mim uma grata e grande surpresa, e foi uma história que iniciei sem qualquer expectativa e acabou me emocionando, impactando e tocando de várias maneiras, além de ter quebrado várias das concepções que criei quando vi o título desse livro que me fez imaginar no mínimo uma história de amor adolescente ou qualquer outra coisa, mas nunca o que realmente encontrei aqui, sendo que logo nas primeiras páginas me deparei com um livro de drama, com a história de uma criança que teve de crescer muito depressa, e também a história da queda de um voo, sendo que esse tema da aviação sempre me chama atenção.
Querido Edward traz, em resumo, a história da queda de um voo, onde os quase 190 passageiros morreram, e somente Edward, um menino de 12 anos sobreviveu. Edward estava nesse dia viajando com sua mãe, pai e irmão mais velho, e eles estavam se mudando de Nova York para Los Angeles.
Na trama, acompanhamos o passo a passo do início da viagem de Edward e da família, e acompanhamos também a vida de outros passageiros, uma mulher que fugia do marido para iniciar outra vida, uma outra que ia ao encontro de seu grande amor com a esperança de ser pedida em casamento, um homem que estava no fim da vida, outro que acabara de sair do exército e assim segue, e como já no início sabemos que Edward foi o único sobrevivente, obviamente sabemos também que todos aqueles outros passageiros cujas histórias acompanhamos vão morrer, e por isso em vários momentos me senti com um nó na garganta e com aquela vontade de gritar para eles a fim de alertá-los do que estaria por vir.
Dessa maneira, acompanhamos o passado e o presente, sendo que o passado se refere a viagem de avião, os momentos do voo e os últimos momentos de cada pessoa que morreu, e no presente acompanhamos como está Edward, sua dor e luto pela perda da família e por ser o único sobrevivente de uma tragédia de dimensão tão grande.
Apesar de ter uma temática pesada, o livro é conduzido com uma delicadeza imensa, o que nos faz ter uma imensa vontade de abraçar o querido Edward e consolá-lo, mas não foi o livro típico para deixar o leitor em prantos, embora eu raramente choro com livros então talvez eu não seja um bom parâmetro, e embora como eu relatei não foi o livro que causa um mar de lágrimas, mas trouxe nós em minha garganta em vários momentos, e para aqueles que possuem dolorosas histórias de luto, pode vir a ser uma leitura um pouco mais difícil e com gatilhos. Além disso, a condução dos temas presentes na história é muito bem feita, e passamos por nuances da adolescência, a questão da depressão, do luto e da dor, e achei que a autora soube apresentar tudo de forma bem realista, de maneira que o luto de Edward não passou em um piscar de olhos, pelo contrário, durou anos e ao final do livro esse luto nem havia passado por completo, afinal ele perdeu toda a família, mas acompanhamos o modo como ele aprende a lutar com isso e como vai evoluindo para conseguir voltar a viver, ou seja, nos deparamos aqui o tempo todo com a história de um recomeço, ainda que lento.
Outra questão que me chamou bastante atenção foi a inocência de Edward e o como ele era ainda uma criança que teve de crescer rapidamente, e confesso que senti luto pelos passageiros do avião e também pela parte de Edward que ficou junto com todos os corpos naquele voo. Também, é interessante demais o modo como em certo momento Edward tem contato com a história dos familiares dos outros sobreviventes, e aquilo de alguma forma o ajuda a superar parte da sua dor. Posso acrescentar que são lindas as diversas reflexões sobre as relações familiares, o amor entre irmãos, a relação com os pais, e a partir das descrições consegui imaginar claramente como eram aquelas pessoas e seu dia a dia.
Confesso que para mim esse foi um livro incrível, e pessoalmente não encontro falhas a serem apontadas. Mas, por outro lado, sei que outros leitores podem achar em algumas partes as descrições do voo entediantes e até mesmo cansativas, porque em partes a autora narra questões monótonas das ações das pessoas, além de o livro ser mais do tipo reflexivo ao invés de ter muita ação.
Por fim, posso dizer que Querido Edward é uma história que vale a pena ser lida pelos adeptos do gênero drama, e é um enredo que nos marca, comove e foi também um livro único e envolvente.