Victoria.Olzany 29/12/2023
Muito difícil escrever sobre essa leitura. Acho que eu diria que é uma leitura tão complexa que tem muitas e muitas leituras possíveis e diferentes. Essa é a minha:
G.H. é uma madame de meia idade, rica, que vive plena, sozinha, e superficialmente na sua cobertura. Sua última empregada (de quem ela mal lembra o nome) saiu, então, decide ela mesma arrumar seu apartamento (no que, segundo ela, seria muito boa caso fosse outra a sua classe social), começando pelo quarto da ex-empregada. E a piração começa logo na porta do quarto (antes mesmo de encontrar a barata) - antes mesmo de entrar naquele quarto (que servia também de depósito), já começa o choque de realidade (tão frágil que é a sua).
Naquele quarto impecável e tão diferente do resto de sua casa, ela vê um desenho deixado na parede, e encontra uma barata no armário vazio, e, a partir disso, ela vai espiralando, tamanho é o seu espanto diante de uma representação de si mesma (e de uma barata), cada vez mais e mais em pensamentos que às vezes fazem sentido e às vezes não (no limítrofe do nonsense) - não importa.
Na minha visão, era a loucura sutil de uma socialite que envelhece sozinha (menos por convicção do que ela gostaria de admitir), que pode desfrutar do luxo de se entregar a seus próprios questionamentos existenciais, que usa camisas de seda branca e colares de ouro, e que toma muitos remédios para dormir - o que se revela muito rico em termos narrativos.
Meu destaque vai para suas reflexões de cunho religioso/espiritual, sobre Deus, paraíso, inferno, e suas referências bíblicas.