midori0 08/10/2021
bom como jogo, duvidoso como livro
Faço essa resenha como alguém que frequentemente joga e gosta muito da série de jogos da Ubisoft, usando essa experiência para falar sobre o livro e fazendo a comparação entre os dois formatos.
Uma leve introdução para aqueles não familiarizados, Assassin's Creed é uma saga de jogos de ação em mundo aberto (o jogador pode ir onde quiser, quando quiser), onde cada jogo segue um personagem num ponto importante da história, (nesse caso, durante a Renascença), sempre usando o método (e o manto) de assassino.
AC: Renascença é adaptação direta da história do jogo Assassin's Creed 2, e tenta levar o leitor por todo o processo de vingança de Ezio Auditore e suas viagens. O começo do livro é bom, narrando a relação de Ezio com seu irmão, sua posição social, e seus interesses anteriores à história, porém é logo após o "gatilho" da história ser acionado o ritmo de narração se torna cansativo.
Enquanto o jogador tem a liberdade de escolher continuar a história principal e fazer outras coisas, a ordem que lhe for conveniente, sinto que o leitor é arrastado a narrativa toda. Vindo de uma mídia famosa pela sua qualidade gráfica e paisagismo histórico acurado, a ausência de descrições claras das localizações, cidades e ambientes é um prejuízo. Mais de uma vez me vi confuso em que ambiente estávamos, ou não estava clara a presença a presença de algum objeto que era usado páginas depois da descrição. As cenas de luta sofrem muito com isso, onde os golpes não são bem explicados e tentar imaginar o que está acontecendo vira um problema
Os diálogos também se tornam confusos, já que viram um troca-troca de linhas sem indicadores de quem está falando assim que a conversa dura mais de dois parágrafos. Ezio raramente cita seus sentimentos, e o narrador não entra em detalhes sobre eles, o que torna livro um diário de viagem impessoal, pulando de um ponto importante para o outro sem pausa, explicações ou apego emocional em qualquer um.
Outro ponto importante que Bowden não conseguiu adaptar bem é a passagem do tempo. No formato de videogame, a passagem de tempo em dias é insignificante quase sempre, sendo que o próprio jogo te avisa as datas importantes assim que você atinge um ponto da história principal; e considerando como cada missão pode levar mais de 20 minutos, isso faz com que vários dias se passem no game. A narração, por sua vez, compila vários dias em poucas linhas, chegando a citar períodos de tempo específicos algumas vezes e muito vagos em outras. Anos se passam de um capítulo para o outro, sem comentários sobre como as pessoas e o mundo ao redor delas mudou, e dias duram menos de uma página.
Não há material novo inserido entre os capítulos para emular a passagem de tempo de vários anos, a ausência dos visuais e com descrições pobres e confusas é difícil acompanhar o desenrolar da trama, uma vez que tantos eventos saem direto do jogo para a página sem adaptar também a aventura que ocorre entre esses pontos principais.
Para alguém já familiar com a história, Assassin's Creed: Renascença pode funcionar como um resumo, um lembrete ou um objeto de colecionador, já como obra solitária a mesma falha em entreter e cativar. Não é que o enredo dos jogos de AC sejam impossíveis de adaptar para outra mídia, porém exige alterações, como redução de conteúdo, personagens, locais, nomes, etc. e também um livro mais longo, que tome seu tempo para explicar o que acontece com os devidos detalhes.
Para todos que possível, recomendo jogarem o jogo em primeira mão, ou acompanhar online a experiência de outra pessoa para consumir a vingança de Ezio de maneira satisfatória, clara e coerente, como a história foi desenvolvida para ser consumida.