Resenhas - Uma Paixão Simples

paraense. 31/01/2024

Sou obcecada pela escrita dessa mulher.
O primeiro livro que li de Annie Ernaux foi ?o acontecimento?, a autora traz detalhes da sua vida e conta sobre um aborto clandestino que sofreu durante a juventude. Eu consegui sentir a dor de Annie através das palavras.

Em ?paixão simples? ela também é minuciosa. A escrita é simples e sedutora. É como se ela estivesse conversando com o leitor tomando um café e olhando em seus olhos. Eu amo a lucidez e naturalidade da autora.

paulaferrazp 28/01/2024

?Tinha o privilégio de viver, desde o princípio, constantemente, e em plena consciência, aquilo que acabamos por descobrir sempre, com um grande espanto e uma profunda deceção: que o homem que amamos é um estranho.?

emilly1176 28/01/2024

"não quero explicar a minha paixão; quero, simplesmente, expô-la."
"Paixão Simples", de Annie Ernaux, é um relato autobiográfico de uma mulher que se apaixona por um homem casado e escreve sobre a experiência de viver essa paixão.

É difícil tentar explicar o que eu senti nessa leitura, mas acho que a palavra correta seria "realidade". Ela não narra o sentimento de paixão de forma idealizada, e sim na sua forma mais crua, aquele sentimento de obsessão que experimentamos com um amor realmente intenso. Sem poesias ou borboletas no estômago, simplesmente os pensamentos (às vezes até estranhos) e vontades de uma pessoa tão apaixonada que pauta toda sua vida na existência dessa paixão.

No decorrer da obra, é comum pensar em alguns momentos "meudeus que moça esquisita", mas, ao mesmo tempo, se identificar profundamente com o relato dela. Afinal, quem nunca sentiu uma paixão tão intensa a ponto de ficar obcecado (e até meio doido) por uma pessoa?

O livro é bem curto, quase um conto, então vale a pena conhecer a escrita da Annie. Gosto muito de uma das frases finais, quando ela fala que o livro não é sobre ele, muito menos sobre ela, e sim sobre a experiência que o sentimento da paixão traz. E que ter vivido e sentido tudo isso é, na realidade, um dos maiores luxos da existência humana.

"Mas eu não escrevi um livro sobre ele, nem sequer escrevi sobre mim. Transformei, simplesmente, em palavras - que ele não vai ler, sem dúvida, que não lhe são destinadas - aquilo que a sua existência, só por si, me trouxe. Uma espécie de dádiva invertida."

Amanda Azevedo 27/01/2024

"ousada, franca, autônoma e livre"

Nunca fui uma pessoa muito entregue a paixões. Sou bem resistente, aliás. E se isso é bom ou ruim? Não sei. Acredito que sempre tem os dois lados. Eu achava que essas paixões avassaladoras acometiam as pessoas na juventude, quando estão mais dispostas a correrem riscos. Mas mais que isso. Eu associava paixão à imaturidade, porém depois de ler esse livro, eu comecei a repensar esse ponto. E penso que a paixão está mais ligada a coragem.

Esse livro da Ernaux mostra que não tem idade. Que a paixão pode vir, avassaladora, mesmo depois de alguns anos e várias experiências vividas.

Annie Ernaux foi a primeira escritora francesa a receber um Nobel de Literatura. A escritora foi laureada com o prêmio em 2022. "Paixão simples" foi publicado pela primeira vez em 1992 e chegou aqui no Brasil em 2023, pela Editora Fosforo.

Este livro é um breve relato, onde ela narra os efeitos de uma paixão que ela viveu. Já divorciada, mãe de dois filhos. Ela se apaixona por A., (é assim que ela se refere a ele o livro inteiro) um diplomata, casado.

A Rachel Cusk, também escritora, escreveu um ensaio muito interessante sobre Ernaux. Nele, ela aponta como pode existir um aparente paradoxo nesse livro. Porque ao mesmo tempo em que ela está escrevendo sobre uma paixão, ela tem uma escrita desapaixonada.
Desapaixonada no sentido de ser bastante objetiva, crua, direta. Annie consegue colocar as coisas como elas são. Sem floreios. É a sua vida. Parte da sua vida. Da sua vivência, ali, no papel.

Annie conta que no período em que estava apaixonada por esse homem, é como se ela vivesse no automático e seus dias se resumiam a ficar à sua espera. Como até a passagem do tempo ficava diferente pra ela.

A narrativa de Ernaux (que traz a sua própria vida) me chama a atenção, principalmente, pela sua coragem de ser livre. De se mostrar nas palavras. Seus livros parecem compor uma parte importante da sua própria existência. Como se suas experiências necessitassem também nas páginas de um livro.

Você não precisa ler Annie Ernaux porque ela recebeu o prêmio Nobel de Literatura. Ou ama-la ou repudiá-la por isso. Leia na medida do seu interesse se é uma literatura que faz sentido pra você.

Admiro e seguirei admirando mulheres que acreditam no poder e na verdade da sua arte.
Rachel Cusk usou alguns adjetivos pra Ernaux que eu não poderia escolher melhores: ousada, franca, autônoma e livre.

Lorena 26/01/2024

Será se eu ler em francês vou ter um sentimento diferente à respeito desse livro? porque eu sinceramente não senti absolutamente nada. achei uma escrita comum, nada extraordinária, e não me passou nem um pingo de emoção. quero acreditar que li em um momento errado. talvez com o decorrer dos anos eu faça uma releitura no original.

gio 26/01/2024

Anne Ernaux representa todas as mulheres apaixonadas
?Paixão Simples", de Anne Ernaux, envolve o leitor em uma jornada íntima e comovente, através da paixão, da perda e do processo de superação da autora. A capacidade de Anne de capturar e descrever as emoções humanas torna a leitura rápida e fluída.

safrida 25/01/2024

Acabou me levando a autocrítica. Me vejo e me reconheço em alguns aspectos: aceitando migalhas e criando fantasias para um tão pouco (ou inexistente) amor. Aceitar, se moldar e se submeter a algo que machuca tanto e que no final não existe. Quando você nunca soube o que é amor (isso inclui o amor próprio) qualquer coisa basta, você se vicia e torna-se uma obsessão autodestrutiva.

Maria.Thereza 25/01/2024

?(?)
Quando eu era criança, o maior luxo para mim eram os casacos de pele, os vestidos longos e as mansões à beira-mar. Mais tarde, passei a achar que o luxo era ter uma vida intelectual. Agora me parece que é também a chance de viver uma paixão, por um homem ou por uma mulher.?


Amei!!!!

gabi.3 24/01/2024

Lindissimo. amo o estilo de escrita da autora, amo como ela relata momentos tão intensos de uma maneira quase simples mas ainda assim poética. tantas tantas frases lindas nesse livro, que apesar de curtinho é muito profundo. amei mesmo.

Luciana 24/01/2024

Nenhuma experiência é realmente individual | ou como Annie Ernaux me pegou de jeito nessa
"Quando eu era criança, o maior luxo para mim eram os casacos de pele, os vestidos longos e as mansões a beira-mar. Mais tarde, passei a achar que o luxo era ter uma vida intelectual. Agora me parece que é também a chance de viver uma paixão, por um homem ou por uma mulher".

O ápice de uma paixão, a sensação de dependência emocional e quase física de um sentimento arrebatador, mesmo que em uma relação quase unilateral. A queda após o rompimento brusco e a sensação de sufocamento. O renascer e a retomada da vida ordinária após o arrefecimento do amor e do luto. Quem já viveu diversas desiluões se encanta com a forma simples, mas tão impactante que Annie Ernaux narra situações com as quais é fácil se identificar. Sem parecer piegas. Sem parecer forçado, lunático, obsessiva ao extremo (aquela dose de obsessão normal que as paixões arrebatadoras causam na gente). A descrição final é isso: como um mesmo corpo pode provocar sensações diferentes, em tempos e espaços diferenciados.
A identificação foi certa. Dolorosa, nostálgica, um tanto quanto até risível para o passado, presente e, obviamente, sabendo que voltará muito disso no futuro. Afinal, um dos luxos que busco é viver por paixões. Perfeito, simplesmente perfeito.

Rogers.Silva 24/01/2024

Simples? Acho que não!
"Perguntar se ele 'mereceu' ou não isso tudo não faz nenhum sentido. E constatar que essa história começa a ser para mim tão estranha quanto se tivesse acontecido na vida de outra mulher. Descobri do que podemos ser capazes de tudo. Sem saber, ele estreitou minha conexão com o mundo".

Annie Ernaux entrega aqui outro livro polêmico, intenso e sem nenhum medo de ser honesto. Por vezes foi muito difícil ler uma mulher tão promissora se submeter ao limite da submissão e humilhação por um homem que não a respeita.

Mas, enfim, é uma experiência que precisamos nos confrontar, tanto quanto foi para a autora escrever e expor algo tão íntimo com tanta honestidade, sem medo de julgamentos.

Woeth 23/01/2024

Paixão nada simples
Caí de paraquedas nisso aqui.
O livro em si é muito simples, fala sobre paixão. Não é sobre romance, amor e sim sobre a paixão, o que ela faz com a mulher.
É tão engraçado o quanto Annie conseguiu, perfeitamente, escrever e narrar a obsessão e a paixão feminina.

Em todas as páginas dedicadas a um homem, percebemos que a personagem beira a loucura do amor, sem a graça arrebatadora do primeiro amor, apenas uma paixão madura, de uma mulher madura. Se vestir para ele, pensar nele e agir por ele. Oh céus, a paixão é tão perigosa, ela perdeu as estribeiras, o sentido de viver apenas porque a sensação dessa aventura era prazerosa.

Mas há um detalhe que eu amei, o livro ganha profundidade apenas nas últimas 10 páginas. É quando o homem vai embora, e a personagem passa a viver sua vida de maneira preto e branco, e então nas últimas páginas, ela molda essa dor em um processo de amadurecimento.
Isso é a feminilidade em sua mais pura essência.

A personagem passou o livro inteiro moldando toda sua vida em outra pessoa, mas na realidade nunca foi apenas pelo homem, e sim por ela, pela sensação que ela gostava de viver. E essa é a essência da paixão feminina, e o nosso poder de transformar o processo em algo que nos fortalece.

"Ele tinha me dito: ?você não vai escrever livro nenhum sobre mim?. Mas não escrevi nenhum livro sobre ele, nem sobre mim. Somente transformei em palavras ? que naturalmente ele não lerá, que não lhe são destinadas ? o que a sua existência, por si só, me trouxe. Uma espécie de dom revertido."

Nayana 23/01/2024

Quero ler tudo dela!
?Paixão simples? é o segundo livro que leio da Annie Ernaux, curtinho, apenas 68 páginas, e confesso que não mexeu tanto comigo como o primeiro (?Os anos?), mas ainda assim foi uma leitura muito boa, intensa mesmo em poucas páginas. Lembrando que Annie Ernaux é uma escritora francesa que ganhou o prêmio nobel de literatura em 2022 pelo conjunto da obra. Sigo querendo ler TUDO da Annie.

Amo a escrita da autora, acho que ela consegue transmitir neste livro sua paixão de forma muito pessoal, me senti passando por aqueles mesmos rituais que ela narra sobre a espera do amante, me senti apreensiva e até angustiada - como imagino que ela também estivesse se sentindo - sem saber quando o veria de novo, qual mínimo detalhe da roupa que vestiria ou mudança da casa ele notaria.

O tipo de presença que nunca completa, a ausência te deixa refém de uma carência em que não se sabe de quê, a satisfação nunca chega, o vício é pela paixão e não pela pessoa (mas parece que é pela pessoa, única e especial no universo, completamente idealizada).

Adoro que ela conta da paixão sem pudor e sem julgamentos morais sobre a questão. Quando imaginei uma possível narrativa para o livro pelo seu título não me veio a ideia de que a paixão simples seria o seu envolvimento com um homem casado. A paixão não tem culpa moral, ética ou religiosa, o livro é sobre o sentimento, seu arrebatamento, seu ponto de vista de mulher madura, sem a inocência ou imprudência do primeiro amor.

byheloandrade 22/01/2024

Sem palavras?
Um livro excelente!
A Annie conseguiu descrever de maneira extremamente crua e sem filtros a respeito de alguns dos nossos momentos de obsessão e paixão feminina. Só quem já amou loucamente sabe a sensação arrebatadora e desesperadora que é ?viver em função? de uma paixão.

Leitura curta porém extremamente cativante! Amei do início ao fim.

Julia.Ribeiro 22/01/2024

Eu também já fiquei perturbada por um homem
No inicio você fica apavorada e desesperada porque não pode obrigá-lá a fazer terapia. E no final parece q tá no início. Mas quem nunca né?