Regiane 10/03/2012
Envolvente e marcante até a última página
A verdade. A sensação é fresca, como água correndo sobre meu corpo grudento de suor. Resfriando um coração que a vida inteira me queimou por dentro. Verdade, digo para mim mesma outra vez, só para sentir aquilo de novo.
Esse foi o primeiro livro que solicitei de parceria com a editora Bertrand Brasil. Não poderia ter escolhido melhor, pois me surpreendeu e me emocionou totalmente. É uma obra e tanto, que deve ser apreciada sem pressa alguma. Cada acontecimento, cada detalhe, foi capaz de dar um nó enorme em minha garganta, a ponto de me fazer refletir intensamente sobre o preconceito e a maldade, mas também sobre a bondade e amizade.
Skeeter acabou de se formar na faculdade e não vê a hora de ter uma chance de tornar-se uma escritora. Logo que retorna a casa dos pais, consegue um emprego como colunista no jornal regional. Diante de atitudes - que ela considera injustas - da maioria das pessoas que a cercam, a jovem tem uma ótima ideia, porém muito perigosa: Escrever um livro, onde as empregadas domésticas negras pudessem descrever seus relacionamentos com suas patroas brancas. Isso tudo na década de 60, em Jackson - Mississipi.
Apesar do risco e do medo visivelmente destacado nas feições de Aibeleen, ela permite-se ajudar Skeeter em seu livro. Felizmente para a alegria da jovem e futura escritora, Minny - que dificilmente engole sapo - também aceita declarar tudo que já vivenciou em seus empregos. A partir disso, inicia-se uma história emocionante, cheia de feridas, que marca o leitor do começo ao fim.
Quando eu terminei de ler essa obra, resolvi escrever a resenha imediatamente, mas não deu certo. Antes de qualquer coisa, foi essencial digerir lentamente tudo que havia se passado na história, controlar minhas lágrimas e sentimentos, para transmitir minhas palavras da melhor maneira possível, por tudo aquilo que senti ao decorrer da leitura.
A Resposta é um livro que ouso dizer que é impecável, perfeito, onde a emoção escorre por entre suas páginas. Tocou meu coração em todos os sentidos. A autora mesclou fatos e ficção com toda maestria. Foi impossível não me render a essa obra - até o presente momento, considero a melhor, e também a minha preferida desse ano.
Uma das coisas mais interessante que temos aqui, é a narração. Apesar de ser em primeira pessoa, é intercalada entre Aibeleen, Minny e Skeeter. Eu achei ótimo, pois dá uma visão totalmente precisa de tudo que ocorre, além de explorar pontos de vistas diferentes, mas que ao mesmo tempo, se casam perfeitamente bem. Sem contar que Kathryn Stockett conseguiu proporcionar uma sensação de realismo, sem igual. Em determinadas cenas, eu tive a impressão de estar diante delas, como se estivesse fazendo parte da história, vivenciando tudo, sentido o cheiro das coisas, sentido o sol quente e o calor insuportável de Jackson - Mississipi, inundando meu corpo. Minny é uma cozinheira de mão cheia, e quando ocorria às descrições de seus pratos, era como seu eu pudesse sentir o sabor. A autora possui uma escrita totalmente rica em detalhes, e o melhor de tudo, em nenhum momento soou cansativa.
Fazia muito tempo que eu não me afeiçoava tanto assim a personagens. Esses aqui são um show à parte. Senti-me demasiadamente apaixonada pela maioria deles. Aibeleen é uma mulher que criou 17 crianças brancas, que na medida do possível, sempre se esforçou em passar um pouco da sua bondade aos corações delas. Ela é dona de uma vida extremamente triste, com um passado repleto de dor. É tão comovente vê-la tendo forças para lutar dia após dia, mesmo diante de tantas injustiças e sofrimentos. Amei-a cada segundo, assim como suas atitudes.
Skeeter, a mulher que foi capaz de arriscar tudo em nome do seu grande objetivo: lutar contra a barreira que separa os brancos dos negros em Jackson. Impossível não admirar essa garota, pois sua coragem e determinação ultrapassam qualquer limite. Já Minny tem a façanha de sempre ser mandada embora de seus empregos, por não conseguir segurar a língua. Tem uma personalidade forte, é arisca, dá uma de durona, mas no fundo tem uma alma tão generosa quanto de Aibeleen e de Skeeter. De longe, ela é a minha personagem preferida. Apesar dos tempos difíceis, ela consegue ser engraçada. Como eu ri nos capítulos que eram narrados por Minny. Teve muitos trechos que adorei, mas esse é um dos melhores.
No final de junho, uma onda de calor de mais de trinta e sete graus se instala e não vai embora. É como uma garrafa de água quente derramada em cima do bairro dos negros, deixando ele dez graus mais quente que o resto de Jackson. Faz tanto calor que o galo do seu Dunn chega perto da minha porta e se empoleira, todo ruivo, bem na frente do ventilador da cozinha. Chego e encontro ele olhando para mim, como quem diz: "Não saio daqui de jeito nenhum, minha senhora." Ele prefere apanhar de vassoura a ter que voltar lá pra fora..
Os personagens secundários são tão bons quanto as três queridas protagonistas. Fiquei fascinada pela Mae Mobley a criança que Aibeleen cuida no atual emprego. Apesar de tão pequena, ela é muito inteligente, doce e carinhosa. Bem diferente da mãe, a Sra. Leefolt, que só sabe se preocupar com suas amigas, suas reuniões e clubes que participa. Hilly Holbrook é simplesmente detestável, racista até o último fim do cabelo. Por mais repugnante que ela possa ser, ela é tão real, que fica difícil não contemplar sua participação na história. Também temos Celia, que é desprezada pelas demais mulheres de Jackson e faz de tudo para ganhar a atenção delas. Ela é meio esquisita e cheia de mistérios, mas tem o seu encanto, que acabou me conquistando.
A Resposta é um livro que pode ser considerado volumoso por muitos -por conta das suas 574 páginas - mas a leitura é tão envolvente, que não dá para perceber o tempo passando. A cada capítulo que eu lia, eu me sentia mais sedenta pela história. Além disso, as inúmeras sensações que são transmitidas, só me fizeram admirar muito mais o trabalho incrível de Kathryn Stockett. É uma obra triste, porém fascinante, que enche os olhos. As palavras nunca serão suficientes para descrever o quão valiosa ela é.
Três mulheres, três vidas, três histórias que se cruzam e fazem desse livro inesquecível. Uma obra que recomendo a toda e qualquer pessoa, independente de raça, cor ou religião.