spoiler visualizarPaloma.Nobre 21/07/2022
Lewis é um mestre
Neste livro, considerado um fracasso literário de Lewis, é na verdade seu livro favorito. Ele faz uma releitura do mito Eros e Psiquê, de Apuleio. Neste livro, o foco é uma das irmãs de Psiquê, Orual. Orual era uma jovem menina, que desde muito nova era chamada de feia. Filha mais velha do Rei de Glome, Orual e sua irmã Redival eram ignoradas pelo pai, que contratou um escravo negro para ensiná-las, até que o rei tivesse um filho homem para governar seu reino. Raposa ensinou as jovens meninas, até que o rei decidiu se casar novamente. Sua jovem esposa morreu ao dar a luz a outra menina, Psiquê. Psiquê tinha uma beleza incomparável, desde menina, e um jeito doce. Psiquê era muito amada por Orual e Raposa. Psiquê amava as pessoas, amava a montanha que ficava há um dia de distância de Glome. Os deuses, tão presentes nessa narrativa, são ciumentos e cruéis e Orual evitava pensar neles. Até que um dia, o sacerdote de Ungit (Afrodite) declarou que a praga que assolava Glome (doenças, fome, esterilidade do rei em prover filhos homens) teria um fim quando Ungit recebesse o sacrifício perfeito. A pior pessoa e a melhor pessoa devia ser levada a montanha e deixada lá, para o Bruto (filho de Ungit). Após tirar a sorte, os sacerdotes viram que a pessoa a ser sacrificada era Psiquê. Orual tentou lutar por sua irmã, tentou soltá-la, fez de tudo, conversou com ela. Mas Psiquê estava resignada de seu destino. Levada a jovem a montanha, logo as pragas cessaram, Orual caiu doente, passou dias em delírios de que Psiquê a odiava e a amava. Desde esse dia, Orual decidiu usar o véu para esconder sua feiura. Enquanto aprendia a lutar com Bardia, chefe da guarda do palácio. Orual foi até a montanha com Bardia para resgatar o corpo de Psiquê, ela encontrou a jovem bem, atravessou o rio para falar com ela, porém Psiquê delirava, dizendo que havia um palácio onde ela vivia com seu marido, um banquete e todas as noites seu amante a visitava, mas ela não poderia ver seu rosto. Orual não via o palácio ou o banquete. Mas na semana seguinte retornou, dizendo que Psiquê tinha que ver o rosto de seu marido, se não ela se mataria. Orual repousou ali durante a noite e de madrugava ouviu o grito do próprio Deus da Montanha. Ali estava ele, e o choro de Psiquê. O deus da montanha declarou que Psiquê viveria como uma estranha e Orual teria o mesmo destino dela. Orual retorna para sua vida, casa sua irmã Redival, se torna uma excelente rainha e diplomática. Usando sempre o véu, seus súditos passaram a crer que ela era a própria Ungit. Orual se torna rainha, logo envelhece. Raposa morre, Bardia morre. Todos os dias ainda ouvia o choro de Psiquê. Logo Psiquê encontra na floresta um templo a uma deusa nova: Psiquê. Segundo o sacerdote, a jovem se apaixonou por um deus e suas irmãs por inveja de seu palácio pediram que ela tentasse ver o rosto dele, logo as duas irmãs morreram e Psiquê foi condenada por Ungit. Mas ao superar seus desafios ela se tornou uma deusa e se casou com seu amor. Orual fica estarrecida. Logo, passa a ter visões em sua velhice, e passa a escrever sua acusação contra os deuses. Ela tem uma visão em que seu rosto é o de Ungit. E ela diz claramente que é Ungit. Depois tem uma visão de que está em um grande salão lendo sua acusação contra os deuses, Raposa a guia pela história de Psiquê, mostrando ela colhendo grãos com a ajuda de formigas, pegando lã de ovelhas de ouro que foram esquecidas nas cercas e indo pegar uma poção para a própria Ungit. Psiquê se torna uma deusa e se reconcilia com seu amado, após receber o perdão de Ungit. Orual cai aos pés da deusa Psiquê e ela a perdoa, e seu amado chega. Ao ver o reflexo no chão, Orual vê que haviam duas Psiquês. Ela também era Psiquê.
Pra mim o mais confuso foi entender como Orual podia ser Ungit e Psiquê e também o trecho em que ela diz que pode entender que os deuses não falam com os homens, como eles poderiam falar se as palavras não forem arrancadas deles, como os deuses falariam com os homens se eles não tivessem rostos?
Não entendi esse trecho.
Orual era extremamente ciumenta, ela cria que Psiquê era sua. Não deveria ter outros amores. E no entanto, foi Orual que carregou sua angústia por todos esses anos. Também era desprovida de feminilidade. Era uma rainha, uma guerreira que escondia o rosto. Orual por tantos anos viveu como Ungit, como Psiquê e como si mesma.