Ivy Dos Reis 22/09/2022
Autorreflexões do último bom Imperador romano
Marco Aurélio nasceu em 121 d.C numa família nobre aristocrata e foi preparado desde a juventude para assumir o posto de Imperador romano. Entre guerras, fome e epidemias, seu governo foi marcado também pela benevolência e sensibilidade para com os problemas da plebe, o homem ocidental mais poderoso daquela época, ao contrário do que poderia ser suposto, não sobrepôs a glória ao bem da comunidade. Nesse diário, que escreveu sem intenção de publicar, são reveladas as reflexões que guiaram a conduta de Marco Aurélio tendo por base a filosofia estóica.
"Pois não é lícito que qualquer coisa de outra espécie, por exemplo, o louvor da multidão, ou o poder, ou a riqueza, ou o gozo de prazeres, oponha-se àquilo que é racional e socialmente bom."
"Em teus acessos de cólera tem em mente de imediato que não há virilidade em encolerizar-te, mas que a brandura e a amabilidade, na medida em que são mais humanas, são também mais viris; tem em mente, ademais, que o indivíduo brando e amável tem mais força, fibra e coragem do que aquele que se deixa irritar e encolerizar-se com os outros em um descontrole emocional."
A obra é marcante e com certeza ninguém que tenha feito uma leitura atenta a termina sem passar por mudanças internas positivas. Sinto que foram poucos os destaques que fiz (que são muitos em relação a outros livros) e isso implica a riqueza que as ideias trazem.
Para os estóicos existe o lógos - conjunto de relações cósmicas necessárias que regem todo o universo, tendo por fim a harmonia, isto é, a Natureza ou Divindade. A partir disso, cabe ao ser humano identificar o que está em seu controle e ater-se a isso por meio da razão e prática de virtudes como a sabedoria, temperança, justiça e coragem com a meta de atingir em si mesmo a harmonia com a natureza, mesmo diante dos considerados males por ela atribuídos, os quais são imutáves.
"Começa por fazer tuas preces nesse sentido e verás o resultado. Aquele indivíduo ora expressando um anseio: “Pudesse eu dormir com aquela pessoa!”. E tu: “Pudesse eu não desejar dormir com aquela pessoa!”. Outro indivíduo:“Pudesse eu livrar-me daquela pessoa!”. Tu: “Pudesse eu não precisar me livrar daquela pessoa!”. Outro: “Pudesse eu não perder meu filho!”. Tu: “Pudesse eu não temer perder meu filho!”. Para resumir: age desse modo, reorientando tuas orações, e observa o que acontece."
Fato é que não temos o controle senão de nós mesmos e cuidar desse jardim interior para não sermos engolidos pelos acontecimentos externos é fundamental para a plenitude da vida. Nos aproveitando de que, diferente dos demais animais, podemos usufruir da racionalidade no enfrentamento da realidade.
"Imagina todo aquele que, ante os acontecimentos que o atingem, se angustia ou se revolta à semelhança de um leitão a espernear e berrar ao ser abatido. O mesmo vale para aquele que, deitado em um pequeno leito, no que toca a nossas diculdades ou obstáculos, os lamenta sozinho e silenciosamente. Convém pensares também que foi concedido com exclusividade ao ser vivo racional a liberdade de se submeter voluntariamente aos acontecimentos, ao passo que para todos [os demais] submeter-se a eles constitui pura e simplesmente uma necessidade inescapável."
É leitura obrigatória para quem busca desenvolvimento visto que são inúmeros os preciosos conselhos sobre a vida, emoções, metas, ética, moral, conduta e morte. Apenas aconselho que, para iniciantes no estoicismo, sejam vistos os principais conceitos, como de providência, natureza, deuses, divindade interior e deus.