Izabella.BaldoAno 29/02/2024
Uma aldeia isolada em sua própria realidade, uma comunidade forjada pela necessidade de sobreviver, uma família presa às amarguras da solidão. o tempo todo tudo muda, mas nada muda.
em Cem Anos de Solidão, conhecemos a formação e o desenvolvimento de Macondo, esta pequena aldeia que não sabemos bem onde fica mas cujo contato com os acontecimentos do mundo vai se delineando lentamente: ela é, por si só, uma das personagens mais importantes da narrativa. conhecemos, enquanto cerne de Macondo, a família Buen Día, cujos membros e agregados são personagens extremamente marcantes, e que podem até ser vistos como símbolos a partir dos quais se pode tecer diversas analogias psíquicas e sociais. há aqui todo um desenrolar político a partir do qual podemos olhar para comportamentos individuais e coletivos. todas essas e mais outras várias camadas ainda estão marcadas por acontecimentos mágicos mas absolutamente naturais ao contexto da história, que, ao meu ver, fazem com que diversos aspectos da própria realidade delineada aqui sejam negociáveis.
em muitos momentos da leitura, confesso ter me irritado com a repetição de nomes interminável ao longo das gerações dos Buen Día. mas, ao longo da experiência, fui entendendo a importância dessa repetição, e até mesmo da confusão causada por ela, sobretudo pela reflexão proporcionada quanto à repetição de padrões. cada novo José Arcádio ou Aureliano nascido ali já vinha com um destino embutido; já estava determinada pelo seu nome sua função no jogo familiar, sua personalidade e as tendências às quais sua vida recorreria e, diante de tantos dos seus, cada um deles já vinha ao mundo com a marca da solidão. as mulheres também tinham nesta estrutura funções aparentemente delineadas e esta predisposição incontornável à solidão, mas havia nelas uma flexibilidade ditada pela sua capacidade de se rebelar. as mulheres Buen Día, a partir de Úrsula, fazem parte de um ciclo vicioso, mas são também a quebra dele.