Luccubus 10/01/2024
Talvez pelo gosto amargo que a misoginia disfarçada de admiração pela beleza de mulheres específicas me deixou no último livro da saga, esse tenha me apetecido muito mais. Charmain não é uma protagonista que inspira tanto quanto Sophie, ela não é resignada a seu destino e muito mimada. Mesmo que tenham em comum um talento mágico escondido e uma disposição e coragem sem precedentes, ainda Charmain tem uma rota um tanto mais chata.
Todos os livros da saga acabam em um Deus ex machina de qualquer forma, mas esse as complicações foram muito fáceis de ser resolvidas. Talvez eu esteja mal acostumada a outras leituras, mas o mistério contido no livro eu já havia decifrado no começo e não foi tão excitante perseguir as pistas. Tudo se encaixou muito perfeitamente e o vilão no final se revelou de uma forma muito banal e pouco condizente com a sua postura até então... O que faz o leitor ficar um tanto entediado. Ainda mais que além de tudo o interesse romântico de Charmain, do nada é revelado como herdeiro do trono de uma família real sem descendentes mas com muita bondade no coração.
O que eu gosto daqui é a ambientação. A casa dos muitos caminhos é uma delícia de imaginar e eu gosto como a autora não se poupa em detalhar melhor as formas de magia desse mundo fantástico do castelo animado. A campina, o casebre, as colinas e montanhas próximas, os elfos carregando o mago, tudo me lembra um quadro não específico de Leonora Carrington cheio de seres preternaturais que nos olham como se nós fossemos estranhos e não eles.
Me incomoda, de fato, a parte dos kobolts. Por que são escravos para os humanos? Por que dependem deles na troca de mercadorias de subsistência enquanto se matam pra produzir mercadorias de luxo?
Também me irrita o olhar benevolente para com as monarquias, como se não fosse preciso um tanto de força bruta para prevalecer uma família real. Não há cobrança de impostos e mal parece existir exército. Parece que a autora não sabe que a monarquia é diretamente ligada ao poder militar e que o chefe de estado feudal sempre foi chefe da força bruta e violência para assegurar seus privilégios.
Sim, é um livro de criança... Mas avatar a lenda de Aang é um desenho pra criança e eu acho que eles falam com uma sensibilidade incrível sobre os horrores do fascismo.
De alguma forma, A casa dos muitos caminhos é o livro que encerra a saga do castelo animado e é um livro divertido e aproveitável, embora um tanto previsível e fácil de ler até demais. Ele, como seu predecessor "O castelo no ar" parece um tanto uma desculpa para falar mais de Sophie e enaltecer sua beleza, mas sem a autora se comprometer a mostrar o quanto a vida de casada e dona de casa é maçante, opressiva e chata.