lagartixa albina 11/09/2020
Ler esse livro é igual comer peixe frito.
(essa resenha contém surtos sinceros)
O Colecionador é um livro peculiar, com várias críticas, que já vou comentar - a maioria feita graças a leituras rasas. Terminei três dias atrás e essa leitura ainda me balança, incitando a reflexão nos momentos mais aleatórios, o que me fez escrever a resenha.
Recomendo para todos que tem interesse na temática e querem um livro que faça ''poof'' na nossa cabeça. Mas cuidado com as expectativas. Eu mesma, achava que seria um suspense de arrepiar os ossos e recebi um livro de eletrizar a mente!
Primeiro, preciso dedicar um parágrafo para falar da INCRÍVEL E MARAVILHOSA edição da Darkside. É oficialmente o livro mais bonito da minha estante, cada centímetro desse exemplar é perfeito, cheio de detalhes. A caveirinha nunca falha.
Voltando, no caso da comparação que fiz sobre ler O Colecionador ser igual comer peixe frito, quero dizer que, assim como o peixe (que possui espinhos), o livro é para ser mastigado com cuidado, prestando atenção pois no meio da carne, você pode achar um espinho afiado. E nem todo mundo gosta de comer peixe.
É um livro que não agrada a todos, como o próprio Stephen King avisou no começo; é um livro com temáticas sobre o significado da vida, arte, sexo e política, tudo encoberto por uma camada de ação e suspense. Se um leitor mediano, nas palavras de King, ler esse livro, vai se concentrar na camada de suspense e ignorar o resto. Esquecer os espinhos.
Como reclamar que o livro tenta defender o ponto de vista de um psicopata sendo que é o PRÓPRIO PERSONAGEM que narra a história?É óbvio que Clegg vai tentar se defender, justificar os próprios atos!
Cabe ao leitor perceber a contradição nas palavras e pensamentos dele, perceber como o sujeito pensa uma coisa e faz outra, sem remorso. É a representação de um cara DOIDO na sua forma mais pura. E isso é o melhor do livro para mim, ver o desenvolvimento dele e de sua mente insana. Muitas, muitas e muitas vezes me deu vontade de entrar no livro e, como dizem, merendar ele no soco.
E como reclamar do capítulo narrado por Miranda? Sim, ela é mimada, egocêntrica e a sua historinha com G.P, aquele artista com um pezinho na pedofilia, é totalmente enjoativa e dá para ver que o relacionamento de ambos era totalmente abusivo (teria Miranda saído de uma prisão para entrar em outra?), mas apesar de 'chata', essa parte acaba sendo importante para compreender a evolução da personagem no cativeiro, que chegou a descoberta de que G.P estava sempre tentando levá-la para a cama.
Miranda muitas vezes parece ser submissa e fraca, mas não é. Com as próprias armas - dignas de uma mulher jovem de 1960 -, ela tenta lutar com seu sequestrador, tentando confundi-lo, testá-lo e observá-lo, sempre pensando na possibilidade de fuga. É interessante também ver a aproximação dos dois, que Miranda deixa claro não ser amizade e muito menos amor; o que, décadas mais tarde vai ser apontado como a Síndrome de Estocolmo, ainda que leve.
Ainda no quesito da aproximação, percebemos a desconstrução do ideal de Miranda que Fred/Caliban/Clegg/Doido de pedra criou. Ele, como colecionador de Borboletas, desejava Miranda como uma borboleta para sua coleção, serena e delicada, para que ele a visualizasse em toda sua beleza. Como a própria Miranda diz, é quando ela tenta bater as asas que Clegg a odeia.
Me passou a impressão de que Miranda e Clegg - ou Caliban, numa incrível referência a Shakespeare, - são espelhos um do outro. Tirando, claro, toda a sociopatia e a vilania de Caliban (que não deve e nem é romantizada nesse livro!), percebi uma certa semelhança em ambos. Ao mesmo ponto em que Miranda julga a classe social de Caliban como inferior e mesquinha, Caliban julga os ricos de Londres como fúteis e desprezíveis.
O começo foi instigante, o meio me fisgou e o final me deixou no chão. Não tenho reclamação nenhuma a fazer sobre esse livro e é minha obrigação exaltar o desfecho da história (de novo, QUE FINAL, MEU DEUS!!).
E estou organizando um abaixo-assinado para meter a porrada no Caliban; interessados, entrar em contato haha! SÉRIO, QUE CARA PERTURBADO! Eu realmente queria chegar perto dele e dizer ''amigo, sua vida não é nada boa, ok, mas SEQUESTRAR PESSOAS NÃO ADIANTA! Já tentou, hmmm...terapia???''