Monito 22/02/2017
'A salvadora da patria' - a mídia.
Este é o verdadeiro tema trabalhado de forma magistral, bom que se diga, pelo autor nesta história: o dito 4° poder. E, justamente em nome desse poder que é viciado em exercer, a dita mídia não raro apresenta exemplos e mais exemplos infelizes de indivíduos que se comportam em maior ou menor grau como o jornalista da trama. Claro que não só no Brasil, mas certamente também no Brasil. E claro que não só no Brasil de ontem, mas principalmente e infelizmente (reflexão minha) no Brasil de hoje. Considerável parte de seus 'soldados' têm o intelecto aguçado, são astutos, perspicazes, mas miseravelmente destituídos de ética, assim como o arquétipo de jornalista esculpido por Nelson Rodrigues. Importante lembrar: ele próprio, Nelson, um jornalista!, prova a um só tempo de conhecimento de causa de de que falta de ética não precisa ser a genética da classe.
O pano de fundo da história é a homossexualidade. Um tema generalizadamente mal resolvido (ainda nos dias de hoje), um verdadeiro tabu, permeado de intolerâncias, de ascos, de ódios e preconceitos, hoje travestido de aceitação, naturalidade e tolerância, mas, à época da elaboração da trama, nem isso; era ainda por cima um tema marginal, sobre o qual não se refletia, muito menos se debatia.
Excelente ilustração de como as pessoas são manipuláveis por esse poder (de o que, quando e como informar), de como as pessoas mal conhecem a si próprias e, portanto, tornam-se incapazes, mais ainda, de decifrar o mundo a sua volta.
Enfim, uma bomba! Dá o que pensar! Só lamento não ter tido a oportunidade de assistir à montagem original da peça, com o elenco de peso que foi arregimentado por Nelson especialmente para dar vida a essa obra de arte!