A Guerra dos Tronos

A Guerra dos Tronos George R. R. Martin...




Resenhas - A Guerra dos Tronos


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Moodreader 29/12/2021

Game of Thrones
O primeiro livro da saga As Crônicas de Gelo e Fogo, nos apresenta um mundo mais do que complexo e personagens cativantes, sendo esses bons, maus, ou algo no meio disso. Iniciei essa leitura com altas expectativa e não me decepcionei.

Mesmo sendo um pouco difícil de lembrar de todos os personagens e todas as locações, é uma leitura que vale muito a pena. É incrível ver como o autor trabalhou tudo nos mínimos detalhes e é muito animador saber que tudo vai conectando-se ao decorrer dos livros. Eu amo quando o autor/autora não tem pressa nenhuma em entregar todos os segredos da história e do mundo criado.

Tiveram muitas coisas interessantes nesse livro, mas toda a imersão cultura e o crescimento da Daenerys na tribo do Khal Drogo foi uma das melhores partes para mim, gostei bastante de como o autor desenvolveu a personagem.

As partes do Eddard Stark também foram ótimas, na minha opinião. Todas as questões politicas e a investigação dele, foram com certeza, um dos pontos altos da história.

Atualmente, estou no segundo livro, e a trama fica cada vez melhor. Com certeza essa saga é um clássico da atualidade e merce todo o “hype” que tem e muito mais.
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Gleicy | @gleicymonjardim 19/05/2021

Acho que os comentários sobre esse livro podem ser bem breves né, afinal ele dispensa muito informação, já que boa parte das pessoas já assistiram a série, e achei que foi o mais próximo do fiel possível o livro com a série.

Martin tem uma mente brilhante gente, o que é isso, uma estória com muitos seres, deuses, reinos, guerras, dragões, filhos da floresta, gigantes e por ai vai...

Simplesmente sensacional, ansiosa para começar a ler o livro dois, mas ao mesmo tempo com bastante medo de ler todos muito rápido e ficar mais 10 anos esperando o livro 6 kkkkkk. (Entendedores entenderão)

Recomendo demais a leitura.
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Nathâny | @sweetreadings 11/05/2021

A guerra dos tronos
Não tenho palavras que possam descrever o que é esse livro, então confia na mãe e LEIA!!!

site: https://www.instagram.com/sweetreadings/
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melmelmel 27/06/2023

Que livro...
Que livro bom! Eu comecei ele sem muitas esperanças... Mas conforme a história de desenvolveu, os personagens se tornaram complexos e muito cativantes. Ri, passei raiva, fiquei triste e até chorei(chorei muito no final) com esse livro MARAVILHOSO... sem palavras para descrever essa obra prima, e um conselho: se você não leu ainda, LEIA! Você não vai se arrepender ???
Robsonnn_ 27/06/2023minha estante
Espero um dia criar coragem pra ler esse tijolo


Estelaa 27/06/2023minha estante
Arrasou na resenha Melll ??


melmelmel 28/06/2023minha estante
????




LUNII 11/06/2022

Eu gosto muito desse livro, mas não deixa de ser cansativo e muito pesado. Não estou acostumada com isso. Mas, os personagens e a historias são incríveis, eu já vi a série e sei de coisas que acontecem e é interessante ver as diferenças.
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spoiler visualizar
VitAria229 16/12/2023minha estante
eu ri muito disso agora lakalkakal


Matheus 16/12/2023minha estante
Mdssss KKKKKKK desculpa eu ri


luiza luiza 17/01/2024minha estante
KKKKKKKKKK pelo menos não era o bixo




Antonio Luiz 18/11/2010

Shakespeare no liquidificador
O primeiro livro da série "As Crônicas de Gelo e Fogo" do roteirista e escritor estadunidense George R. R. Martin, "A Guerra dos Tronos", chegou ao Brasil cercada de muita expectativa. Com sucesso maior que o esperado, a série inicialmente concebida como trilogia foi promovida a heptalogia e um quarto livro foi publicado, em 2005. Vendeu, até agora, 7 milhões de exemplares, metade dos quais nos EUA. A rede HBO programou um seriado baseado nas Crônicas, que deverá estrear a partir de março de 2011. Até lá, espera-se que saia o muito adiado quinto volume.

O autor publicou seis novelas (romances curtos) derivados, ambientados no mesmo mundo ou com os mesmos personagens, além de licenciar brinquedos, jogos de cartas e de tabuleiros, videogames, RPGs e assim por diante. O livro de 1996 e suas duas primeiras sequências, de 1998 e 2005, receberam o prêmio Locus e houve quem o saudasse como “a mais importante obra de fantasia desde que Bilbo encontrou o anel”.

Com certo exagero, deve-se ressalvar. Gostos variam, mas muitas obras de fantasia marcaram época entre "O Hobbit" de Tolkien (1937) e 1996, incluindo as séries "Gormenghast", de Marvin Peake (iniciada em 1946), "Elric de Melniboné", de Michael Moorcock (iniciada em 1972), e a satírica "Discworld" de Terry Pratchett (1983). Mesmo assim, o sucesso incomum da série de Martin, principalmente nos EUA, justifica alguma atenção.

Baseia-se em parte na Guerra das Duas Rosas, uma série de disputas dinásticas pelo trono da Inglaterra ao longo dos reinados de Henrique VI, Eduardo IV e Ricardo III, de 1455 a 1485. Opôs as casas de York (cujos servidores usavam rosas brancas como emblema) e Lancaster (rosas vermelhas), que na obra de Martin, se tornam as casas Stark (simbolizada por um lobo) e Lannister (um leão), que disputam o poder em Westeros, cujo rei Robert Baratheon tomou o trono de um enlouquecido Aerys II Targaryen ao fim de uma violenta rebelião.

Fãs notam influências de Walter Scott (autor de "Ivanhoé"), Cervantes e Lovecraft, mas parece bem mais importante a de Shakespeare – embora Martin, ao contrário do grande dramaturgo inglês (súdito e adulador de Elizabeth I Tudor, herdeira do triunfo final dos Lancaster), faça dos Stark/York os heróis e dos Lannister/Lancaster os vilões. Outros arcos narrativos entram em jogo, mas o mais importante no primeiro volume é o de Eddard “Ned” Stark, chefe da sua casa, em torno do qual giram as histórias. A cada capítulo, muda o ponto de vista, passando pelo pai, pela esposa e por quatro dos seis filhos e filhas vivos, incluindo um bastardo. Há ainda capítulos narrados do ponto de vista de um dos Lannister e outros de Daenerys Targaryen, filha de Aerys II, aos quais voltaremos depois.

Eddard lembra de várias maneiras vários heróis de tragédias shakespearianas, a começar pela maneira como caminha inexoravelmente para a desgraça sob os olhos do leitor. Também como em Shakespeare, sua infelicidade se funda na decomposição dos valores feudais.

Um mundo perfeitamente feudal e medieval, esse tipo de tragédia não tem lugar: Cada um é chamado a cumprir sua tarefa atribuída pela ordem divina – orar, guerrear ou trabalhar. Só cabe o auto religioso, a representação imutável de papéis prescritos por toda a eternidade. O Senhor dos Anéis, por exemplo, é uma espécie de auto no qual Gandalf faz o papel de Cristo como pregador e líder dos apóstolos, Frodo, o Cristo sofredor que carrega a cruz e sobe o Gólgota e Aragorn, o Cristo-Rei que comanda os exércitos do bem no Apocalipse e todos aceitam seus papéis sem contestá-los. No mundo do capitalismo, também não cabe a tragédia shakespereana: as pessoas buscam seus direitos, lutam por seus interesses privados e acham isso justo. Cabe o drama, a luta do personagem por autoafirmação na concorrência com rivais.

O trágico está na inadequação dos valores à realidade durante a transição para a modernidade. A noção de contrato de direito natural ainda não compete com a de juramento feudal, nem a de fidelidade com a de interesse. Ainda não há uma solução moderna para o problema da soberania e sua disputa se torna um empreendimento cínico e sem sentido, no qual o herói não consegue acreditar: “A vida é uma história contada por um idiota, cheia de som e fúria, significando nada”: Macbeth age como um discípulo de Maquiavel, mas julga a si mesmo como um moralista medieval. As paixões e necessidades do protagonista o impelem a agir contra os ideais herdados do feudalismo (ou deixar de agir a favor, no caso de Hamlet), mas não há outros nos quais possa acreditar.

Eddard não tem, porém, a envergadura de um herói trágico shakespeariano. É apenas patético, porque não interioriza a contradição. Ela é externa, projetada como o conflito entre ele e a corte. O patriarca Stark não é uma vontade moderna com uma consciência medieval, mas um senhor feudal da Alta Idade Média perdido na Renascença como um viajante no tempo. Vem de um feudo tradicionalista onde os senhores executam pessoalmente os condenados, governam de um castelo auto-suficiente entre aldeias esparsas e se impõem aos vassalos pela coragem física. Um rei tolo, incompetente e ocioso o nomeia principal ministro numa grande capital portuária e mercantil onde reina o dinheiro, para uma corte cujas intrigas estão além de sua compreensão. Para os Stark, honra é lealdade incondicional; para a corte e seus rivais Lannister, é pagar as dívidas (o que é tanto uma promessa quanto uma ameaça).

Eddard não consegue entender, por mais que lhe expliquem. O leitor acompanha, consternado, como insiste nos mesmos erros óbvios, confia em quem não deve, desafia as pessoas erradas na hora errada e reivindica uma autoridade moral que ninguém lhe reconhece. Acaba por parecer bronco demais para merecer admiração ou mesmo comiseração do leitor: é a tragicomédia do caipira inexperiente na cidade grande, caindo em todo conto do vigário que se lhe apresenta. A impressão de estupidez é reforçada pelo fato de que o segredo que luta por desvendar ao longo da maior parte do livro não só é conhecido da corte como revelado ao leitor nos primeiros capítulos: a rainha Cersei é amante do próprio irmão gêmeo, o belo Jaime Lannister. O curioso é que Eddard acaba por encontrar a resposta por meio de uma genética mendeliana inacessível aos mais brilhantes medievais.

Os filhos, mais vítimas das circunstâncias do que protagonistas, oferecem ao leitor intrigas secundárias e personagens para amar e odiar. Bran é um garoto que é aleijado pelo inimigo e reduzido a espectador impotente dos acontecimentos desde o início da história. Jon Snow, o bastardo, nos apresenta a Patrulha da Noite à qual é enviado, um corpo de guardas votado à castidade e à guarda da muralha que demarca a fronteira norte do reino de vagas ameaças anunciadas no prólogo, mas que só começam a se concretizar perto do fim do livro.

Sansa consegue ser mais simplória que o pai, o que não é dizer pouco. Vaidosa que sonha com os luxos da corte, os romances da cavalaria e o prometido casamento com o príncipe herdeiro, deixa os inimigos manipularem seu ingênuo egoísmo para a ruína da família. Arya é uma menina rebelde, esperta – em comparação com o pai e a irmã, bem entendido – que gosta de se portar como moleque, aprende habilidades “masculinas” e graças a isso se safa, provisoriamente, do desastre.

A corajosa esposa Catelyn, nascida na casa Tully, tem um papel mais importante e uma estatura mais respeitável. Como muitas heroínas shakespearianas – pense-se em Lady Macbeth, Julieta ou a Pórcia de O Mercador de Veneza –, mostra mais ousadia, astúcia, bom-senso e energia que seu parceiro na defesa dos interesses comuns.

Tyrion Lannister, irmão mais jovem da rainha e anão (no sentido clínico e não no mitológico), é o protagonista mais ambivalente do livro. Pertence à família dos vilões, mas se relaciona com ela pelo desprezo mútuo. Busca seu apoio nos momentos difíceis, mas de resto é um individualista astuto, que procura tirar da vida o melhor que sua condição lhe permite sem causar males desnecessários, apesar de ser impiedoso na vingança. Inteligente, cínico e descarado, proporciona os raros momentos de humor (embora sombrio) e percepções agudas em um livro na maior parte do tempo sério e obtuso como Eddard Stark.

A personagem mais impressionante é, porém, Daenerys, a herdeira dos Targaryen, que vive uma história independente da trama principal, embora destinada a cruzar-se com ela em futuros volumes. Aos treze anos, o irmão, exilado com ela no continente para além do Mar Estreito, a dá em casamento a Drogo, um grande chefe nômade à imagem e semelhança de Átila ou Gengis Khan, com a esperança de que este o ajude a reconquistar o trono usurpado a Aerys II. Numa série de improváveis peripécias, a garota tímida, medrosa e submissa se assume como dona do seu destino, se torna uma amante fogosa, uma rainha respeitada e por fim a líder temível de um povo feroz. Soma dois clichês algo racistas da literatura de aventura colonial – a mocinha branca submetida à lascívia de selvagens brutais e o solitário aventureiro europeu que mostra sua superioridade sobre os nativos e torna-se seu rei-deus –, mas a combinação e suas vias heterodoxas resultam numa inovação interessante.

Os capítulos de Daenerys foram publicados também como a novela independente "Blood of the Dragon" (O Sangue do Dragão), primeiro na Isaac Asimov Magazine e depois na antologia "Quartet: Four Tales from the Crossroads". Ganhou em 1997 o prêmio Hugo, o mais importante da fantasia e ficção científica estadunidense. Deve soar mais provocante que o livro completo, ao qual seus capítulos acrescentam pitadas bem-vindas de exotismo, sensualidade e fantasia mágica a um livro na maior parte do tempo puritano, monótono e “realista”.

Pode parecer um paradoxo que um épico de fantasia medieval se faça notar pelo realismo, mas essa é a característica mais apontada pelos admiradores, que o contrastam com o idealismo de autores como J. R. R. Tolkien e seus imitadores. A trama não é governada pelo enfrentamento entre o Bem e o Mal, mas por interesses materiais de famílias poderosas. Astúcia e força bruta usualmente prevalecem, seja qual for o lado que esteja com a razão ou represente o bom, o belo e o verdadeiro. Ao menos neste volume, não está em jogo a salvação do mundo ou a perdição da humanidade, mas um “mero” trono, a magia não tem papel importante (salvo na história de Daenerys) e os conflitos são meramente humanos. As ameaças sobrenaturais do gelo (os “zumbis” do norte) e do fogo (dragões) estão presentes, mas só no final do livro começam a insinuar que terão um papel importante nas sequências.

O realismo é também ressaltado pela rudeza e concretude aparente do cenário. A aparência física dos personagens é dada de maneira minuciosa e frequentemente impiedosa, com ênfase em defeitos físicos e cicatrizes horrorosas. Idem quanto a seu comportamento, incluindo a exata maneira como se embebedam, escarram, copulam, adoecem, sangram e morrem. Árvores, construções, paisagens e armas são descritos com pormenores que parecem querer proporcionar a sensação de se assistir a um filme em alta resolução.

Como geralmente se dá em Hollywood, este é um realismo ilusionista. Embora recorra aos diferentes pontos de vista de diferentes personagens, a narrativa (em terceira pessoa) quer mostrar o real “como é” e não como uma construção. O campo de visão é sempre parcial, mas dá impressão de objetividade, de acesso direto ao que cada personagem de fato vê, supõe ou sabe em determinado momento, sem mediação ou contradição. E o que mostra é quase sempre tradução de clichês do cinema e da literatura “realistas” atuais. O senso comum e as crenças do leitor – exceto, talvez, do mais inexperiente – raramente são desafiados.

Pode passar despercebido ao leitor, por exemplo, o quanto a história é maniqueísta, ainda que não da mesma forma que um "Nárnia" ou "O Senhor dos Anéis". Não há uma guerra explícita entre o Bem e o Mal, os bons não são em geral premiados nem os maus punidos e mesmo os melhores são imperfeitos e cometem erros morais, mas não há como se enganar sobre quais são os mocinhos e os bandidos. Não se mostra visões diferentes de futuro ou de moral, mas heróis leais e honrados contra antagonistas cínicos e perversos.

É fácil deixar de notar que todos os pontos de vista, sem exceção, pertencem a uma fração ínfima da sociedade, a aristocracia. A pequena nobreza e os sacerdotes não recebem muito mais atenção que os animais, as ferramentas e o mobiliário. Os plebeus, menos ainda.

Pode-se também não perceber que, apesar de muitas cenas de sexo, frequentemente com conotações de pedofilia (do ponto de vista moderno, bem entendido – meninas se casarem aos 12 ou 13 anos era rotina na Idade Média), trata-se de uma obra puritana. Como já foi notado por outros, o único casal sinceramente apaixonado e sem fim trágico à vista é o dos arquivilões, o chefe da guarda real Jaime Lannister e sua irmã gêmea Cersei, a rainha. Os outros aristocratas espalham filhos ilegítimos pelo mundo com indiferença ou orgulho, mas o herói Ned Stark se tortura (e é condenado pela família) por ter gerado um único bastardo.

Os “bons”, sempre tensos e angustiados a respeito de seus deveres, são contidos em seus apetites, mostram pouco afeto sincero (salvo por seus lobos de estimação), raramente se divertem e nunca são mostrados fazendo sexo, apesar de fazerem muitos filhos. Já a gentalha diverte-se com paixão grosseira e violenta e os vilões aristocratas, de maneira refinadamente perversa, com ênfase em adultério e no incesto. Calvino manda lembranças: a obra deixa sempre a sensação de que sexo, prazer e diversão são vis e pecaminosos.

A geografia do “gelo” e do “fogo” reforça os clichês. O extremo norte de Westeros é uma terra gélida e misteriosa, habitada por selvagens e criaturas legendárias. Uma muralha a separa do norte austero, frio, diligente e austero, de fazendas e cidades pequenas, ligada por um istmo a uma babilônia preguiçosa, luxuriosa e cálida. E a leste há um continente povoado por exóticos bárbaros orientais de costumes indecentes e apetites desenfreados. De lá vieram os dragões que talvez voltem, pois lá se exilaram os últimos descendentes dos Targaryen, reis que no passado conquistaram Westeros domando os monstros cuspidores de fogo, agora supostamente extintos.

Westeros é separada de um grande continente por um “Mar Estreito”, seus habitantes têm nomes ingleses ligeiramente modificados e sua história evoca vagamente a Grã-Bretanha, mas suas dimensões são as de um pequeno continente. É grande o suficiente para que o norte semisselvagem onde está Winterfell, lar dos rudes e puros Stark, tenha um clima muito frio e seja tropicalmente quente o sul mais povoado e civilizado, sede dos luxuriosos Lannister e do antro de perdição que é Porto Real, a capital do reino. O sul cultua uma religião “pagã” de velas, templos, sacerdotes, imagens e hierarquias que evoca o catolicismo tradicional, enquanto o norte segue uma “Antiga Religião” baseada em um orações em bosques sagrados sem mediação de sacerdotes, que faz pensar nas formas mais radicais do protestantismo.

Uma peculiaridade desse mundo é que as “estações” duram vários anos, de maneira não muito previsível. Não se tenta encontrar nenhuma justificativa astronômica ou meteorológica, nem explicar como a vegetação, os animais e a agricultura se adaptam a isso. É antes uma metáfora: “O inverno está chegando” é o lema dos Stark e uma indicação do clima ambivalente do primeiro livro: parece indicar tanto o receio do fim da abundância quanto a esperança de que os valores puros da austeridade, do trabalho duro (para os camponeses) e do inverno voltem a prevalecer sobre as forças corruptoras do luxo, do prazer e do verão.

Vale notar que Westeros é formada por duas massas de terra, norte e sul, ligadas por um istmo, o “Gargalo”, o que vagamente a configuração das Américas. Em certo nível de interpretação, seria Winterfell a América do Norte e o sul a América Latina? No norte há neve e lobos e no sul abundam frutas sumarentas e se mencionam árvores de pau-brasil e pau-ferro. Estes nomes podem ser escolhas discutíveis do tradutor para os originais redwood e ironwood, que podem se referir também a espécies de climas temperados, mas Porto Real é uma grande cidade à beira-mar onde há morros, favelas e, nas palavras entusiasmadas do rei que tanto consternam Ned Stark, “as mulheres perdem toda a modéstia ao calor. Nadam nuas no rio, mesmo por baixo do castelo. Até nas ruas está calor demais para lã ou peles e elas andam por aí com aqueles vestidos curtos (…) quando começam a suar e o tecido lhes adere à pele, é como se andassem nuas”. Não soa como um clichê sobre o Rio de Janeiro?

Alguns admiradores brasileiros se queixam na internet da tradução: em vez de procurar um tradutor brasileiro, a portuguesa Leya comprou da editora Saída de Emergência os direitos para o Brasil da tradução portuguesa de Jorge Candeias (transação sem remuneração ou aviso ao tradutor, que se disse “estupefato”) e a adaptou superficialmente para o português brasileiro, substituindo mecanicamente construções em infinitivo por gerúndios, a segunda pessoa pela terceira e certos acentos e ditongos – por exemplo, de “o Inverno está a chegar” para “o inverno está chegando”, de “os mortos assustam-te” para “os mortos o assustam”, de de “crónicas” para “crônicas” e de “papoilas” para “papoulas”.

O tradutor original foi perfeitamente competente para o público português que tinha em vista. Do ponto de vista da compreensão das intenções do original, bem como da correção gramatical, o resultado é melhor do que muitas traduções de livros de fantasia feitas por brasileiros. Mas parece ter prejudicado a legibilidade da obra para o público-alvo de adolescentes e jovens adultos pouco acostumados ao português europeu. Não seria grande problema num conto ou romance curto, mas pode ser desencorajador em um livro de 592 páginas que seria o primeiro de uma série de sete. Para um brasileiro, a narrativa e os diálogos, mesmo “adaptados”, soam demasiado formais, além de carregados de termos pouco familiares, o que não está de acordo com o espírito do original.

Considerando tudo, vale a leitura? O leitor deve ser prevenido que a leitura é longa e inconclusiva, sem um fechamento satisfatório neste ou em qualquer dos volumes já publicados e a série, como muitos folhetins e telenovelas, corre o risco de ser encerrada pelo desinteresse do público ou do autor antes de chegar a uma conclusão lógica.

Tem algo de Shakespeare, mas sem suas percepções originais, voos de retórica, momentos de humor e desfechos grandiosos. É como um coquetel homogeneizado do Bardo de Avon com chavões da fantasia medieval, filtrado pelas lentes de um realismo psicológico e ilusionista moderno. À parte a rudeza e o clima peculiar, o mundo em que se passa a história é bastante convencional, salvo, talvez, por seus bárbaros nômades do Oriente. Os seres sobrenaturais citados – dragões, zumbis e outros – seguem clichês tradicionais.

O que tem de mais atraente, compartilha com as telenovelas e séries dramáticas: permite envolver-se com um grupo variado de personagens e com seu crescimento, suas aflições e suas intrigas intermináveis e esmiuçar sua psicologia à exaustão. Não faltam personagens sofredores e indefesos para se sentir compaixão, bem como malvadas e malvados, cínicos e arrogantes, para odiar com todas as forças. Só nos anexos do primeiro volume são listados cerca de 150 personagens vivos e 50 mortos – e isso inclui apenas as grandes casas aristocráticas e seus agregados, ignorando plebeus avulsos. O número de “tropos” ou chavões também é surpreendente: o site tvtropes.org lista mais de 500 para os livros já publicados!

O leitor que busca na literatura o que a tevê não sabe ou não quer dizer talvez investisse melhor seu tempo lendo algumas obras mais curtas, mas capazes de render mais em termos de surpresa, provocação ou diversão. Como, digamos, as peças de Shakespeare.
Nalí 15/03/2012minha estante
Não acho que sugerir Shakespeare pro público-padrão de Guerra dos Tronos seja muito eficaz. Gostei de sua resenha, tem apontamentos interessantes! Particularmente, gostei dessa tradução feita por um português, cheguei até a ler umas 200 páginas da edição da Saída de Emergência. Acho charmoso que se fale meio pomposo quando se trata de um plano de fundo medieval, com reis etc, soa mais adequado e não tenho problema de fluidez na leitura, por eu ter alguma experiência na literatura. O que não invalida seu argumento: não deve ser muito bom para o público adolescente/geração DDA.


Felipe 15/03/2012minha estante
Eu sou adolescente, pelo menos até onde eu sei 14 anos é ser adolescente. E em relação a tradução, eu gostei muito, foi uma literatura que ao mesmo tempo parecia charmosa, bonita, e ao mesmo tempo misturada com uma realidade feudal antiga, que me deu uma leitura leve e agradável, eu consegui terminar de ler esse livro em dois dias, por que eu lia, lia, lia e não conseguia parar. Eu poderia dizer que essas Cronicas são as minhas favoritas, pois não são tão clichê, assim como você diz, e em relação ao bom e mal, que você disse que praticamente estão definidos, eu não vejo assim, desde o primeiro livro não vejo Cersei ou Jaime como vilões, Cersei é apenas uma mulher frustrada com o casamento e Jaime é um soldado, e ao meu ver um bom soldado.


Eder 18/05/2012minha estante
Apesar de gostar da resenha, posso afirmar que boa parte do que foi apontado cai por terra nos próximos volumes. Foi feita uma análise muito profunda em cima de uma obra incopleta, gerando conclusões precipitadas.




Maria Rita 28/11/2022

Decepção não faz parte do vocabulário desse livro
Vamos lá, esse é com certeza um dos melhores livros que li esse ano.
Esse universo é riquíssimo de detalhes, me deixando abismada com a criatividade de GRRM!

O livro tem uma grande quantidade de POV?s, o que, na minha perspectiva, faz o livro ser tão perfeito.

A grande quantidade de POV?s com os diferentes lados da mesma história desfaz aquela polarização clássica dos livros de fantasia, como um lado sendo o certo e o outro o errado.
Porém, a quantidade de novos personagens devido aos diferentes POV?s me deixou confusa ao ponto de não me lembrar das características de alguns personagens secundários e também sinto que deixei alguns detalhes passar, mas isso é história pra outro livro.

Também gostei que nenhum personagem é completamente bom ou ruim (tirando, obviamente, o Joffrey, aquele menino é o próprio capeta e espero que ele morra e queime no mármore do inferno).

O livro contém muitos gatilhos, então não recomendo essa leitura pra qualquer pessoa.
Tem muitas menções de estupro, principalmente nos capítulos da Daenerys (sendo como de 10 palavras, 11 eram sobre estupro).

Meus POV?s preferidos nesse livro:

1º: Daenerys e Eddard
2º: Jon, Tyrion e Sansa
3º: Arya
4º: Catelyn e Bran
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Igor 01/08/2023

Você vence ou morre.
Simplesmente o que dizer sobre a Guerra dos Tronos se não exaltar a genialidade do George R. R. Martim durante toda a trama.

Desde a imersão no universo da história, até os personagens e as reviravoltas de tirar o fôlego (ou perder a cabeça), tudo aqui é feito para prender a atenção do leitor.

Confesso que antes de começar a consumir coisas sobre as Crônicas de Gelo e Fogo eu era do tipo de pessoa que não gostava do gênero de fantasia, mas essa obra me fez mudar de opinião por completo.

É uma experiência que eu recomendo pra qualquer pessoa, e estou ansioso demais para continuar lendo os livros restantes da saga.
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Jamesb13 30/10/2020

DO CACETE
Mano se tu é fã de GOT, lê isso, é maravilhoso, perfeito, apaixonante linduuuuuuu
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Lauraa Machado 11/01/2021

Muito melhor e mais divertido do que eu esperava!
Eu nem sei por que estou tão surpresa assim por ter gostado desse livro como gostei! Talvez por que a série da HBO faz parecer que vai ser só uma enxurrada de cenas de morte e sexo inúteis, talvez porque me falaram várias vezes que era difícil de ler, super hiper detalhado e parado. Imagina que incrível que foi começar a ler e rapidamente ficar viciada na leitura! Eu tinha comprado só o livro um (este), já que nem esperava que ia gostar, e acabei tendo que correr para comprar todos os outros da série, porque não quero viver em um mundo em que eu não posso ler a série inteira amanhã se eu quiser.

Eu amei o livro! Gosto muito da série de TV também, adorei ver que é tão parecido, mas é claro que o livro é melhor ainda, porque eu pude me demorar em cada parte. Amei mesmo, mas tanto! Ele é perfeito para você se você gosta de alta fantasia como eu, se gosta de histórias com vários personagens diferentes e se gosta de ler bastante de uma vez.

Acho que é esse o problema para aquelas pessoas que dizem que o livro é parado. As coisas acontecem rápido, mas como alterna entre capítulos de personagens diferentes, se você só ler vinte, trinta páginas por vez, vai demorar demais para dar continuidade nas linhas de enredo que está lendo. É melhor ler muitas páginas de uma vez. Também não achei tão detalhado assim, acho que foi bem o normal para fantasias.

Essa série é consagrada demais para eu ter algo a acrescentar aqui, é verdade, por isso minha resenha vai ser bem curta. O que exatamente eu posso dizer se a coisa que mais fiquei pensando enquanto lia era que o livro valia todo o hype por trás dele? E que eu estou muito feliz de saber que alguém deu a atenção merecida? E principalmente, nossa, como eu pude esperar tanto para ler?

É bem livro de alta fantasia mesmo, um mundo novo, culturas diferentes, personagens complexos, mundo meio medieval e intrigas da corte e guerra de tronos! É bem o que eu queria que fosse e sou feliz hoje em dia por ter os outros quatro livros na estante. Mas é claro que não seria uma resenha minha se não tivesse pelo menos uma pequena ressalva aqui, né?

A parte da história da Daenerys era uma das que mais me interessava, mas confesso que fiquei bastante incomodada por ela ter só 13/14 anos. Sim, sei que isso era comum, que faz sentido em um mundo como esse as pessoas serem considerada "adultas" na adolescência, mas eu e o autor nascemos no século vinte e já sabemos que dá para envelhecer só um pouquinho os personagens para não ficar tão desconfortável e nojenta a tragetória, além do casamento delas com caras que têm o dobro da sua idade. Na minha cabeça, Dany tinha no mínimo 17 anos.

De resto, achei que foi tudo bem na medida e fiquei surpresa por gostar bem mais do Jon Snow nesse livro! Estou realmente muito animada para continuar com a série, só não continuei ainda porque já tinha prometido ler alguns outros livros para uma maratona literária! Senão, era capaz de eu já estar em um casamento vermelho agora.
Liu 12/01/2021minha estante
Bom saber. Vi a série e estou com os livros aqui. Estava com medo de não gostar


Kelli ( kell_msa) 12/01/2021minha estante
E os livros só melhoraram! Já reli umas 3 vezes toda a série, e sempre na parte do casamento da Daenerys eu fico enjoada.


Lauraa Machado 12/01/2021minha estante
Nossa, Kelli, não consigo imaginar os livros ficando cada vez melhores!


Lauraa Machado 12/01/2021minha estante
Liu, se você gosta de livros de alta fantasia, acho que as chances de gostar são altíssimas! O livro é mais ameno que a série, é verdade, mas dá para ver que só tem o necessário no livro, só tem o que importa para a narrativa. É excelente, confia!




Andailson Lima 08/06/2023

"Quando se joga o jogo dos tronos, ganha-se ou morre."
Surpreendente! O livro me trouxe uma nostalgia da série e a escrita me fez sentir empatia por personagens que eu não gostava antes. A narração me agradou muito e sempre foi muito fluida. Além das belas descrições das batalhas que houveram.

Gostei muito de como é feito o desenvolvimento dos personagens e o decorrer de cada capítulo. O final foi lindo, com o último capítulo sendo da minha personagem preferida, a mãe dos dragões.
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lilly.ly 07/06/2020

Depois de ler o livro e revendo a primeira temporada da série percebo a geniosidade do roteiro, fora que Martin é incrível amarrando todas as histórias em sua narrativa. Super recomendado.
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JRangel 20/10/2020

Surreal de tão bom
Me prendi na primeira folha e não sai até acabar. Incrível.

"somos apenas humanos, e os deuses nos moldaram para o amor."

POR WINTERFELL!!
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Felipe Soares 19/08/2012

Do cult ao pop - www.sincopedigital.com.br
Faz mais de três anos que ouvi falar pela primeira vez de A Guerra dos Tronos. O livro vinha causando um burburinho no meio literário em razão das inovações que trazia. A literatura, principalmente a fantástica, sofre do mesmo mal que assola outros meios de entretenimento: a falta de novas histórias e temáticas. Costuma-se pensar que a Fantasia é um gênero voltado principalmente para o público infantil, na maioria das vezes considerado pouco exigente . Mas até as crianças crescem e cansam das mesmas coisas.
A literatura fantástica parece se resumir a dois tipos de livros: aquele que redefinem o gênero, mas são fadados ao esquecimento, e milhões de cópias baratas dos clássicos que fizeram sucesso. Acontece que dento da primeira categoria A Guerra dos Tronos foi exceção, a ponto de agradar aos produtores da HBO, que logo se encarregaram de produzir uma série televisiva.

No Brasil, não havia previsão de publicação dos livros. Mas Rapahel Draccon, hoje um dos maiores autores do gênero no país, convenceu a Editora Leya, que já publicara com sucesso sua série Dragões de Éter, a trazer As Crônicas de Gelo e Fogo para nós. Tudo ocorreu no momento oportuno. O livro chegou em 2010 como uma readaptação para o português do Brasil da tradução feita por Jorge Candeias em Portugal. Foi sucesso instantâneo. E de literatura cult, A Guerra dos Tronos passou a ser livro pop.
O enredo fala de Westeros, uma espécie de Europa Medieval, habitada por diversas famílias que vivem em constante guerra por aquele que parece ser o bem mais precioso do reino: o Trono de Ferro, ocupado por Robert Baratheon, que, após a morte de Jon Arryn, a Mão do Rei, homem de sua maior confiança, segue em direção ao Norte, para oferecer a seu velho amigo Eddard Stark, patriarca da família Stark e protetor do Norte, o cargo temporariamente vazio.
As estações tem duração diferente em Westeros, onde o verão foi o mais longo dos últimos anos, mas o inverno está chegando e com ele vem as estranhas criaturas que vivem além da Muralha. Construída há muitos anos pela Patrulha da Noite, um grupo de homens formado em sua maioria por ex-criminosos a quem é dada uma nova chance para continuar vivendo, a construção hoje está enfraquecida, assim como seus patrulheiros, que diminuíram consideravelmente em número e em eficiência . O mundo parece não mais precisar deles.

É por meio dos Stark que acompanhamos a maior parte da história. Lord Eddard é um homem preocupado com seu povo e que preza, sobretudo, a honra. Casou-se com Cataleyn, da família Tully, com quem teve cinco filhos: Robb, Sansa, Arya, Bran e Rickon. Ned, como também é conhecido, ainda é pai do bastardo Jon Snow. E diante da proposta do rei, vê-se obrigado a deixar o castelo de Winterfell e seguir para a capital do reino, Porto Real. A partir daí torna-se Mão do Rei e assume as responsabilidades de Robert Baratheon, que vive entregue à bebida e às mulheres, sem saber da existência da rede de intrigas ao seu redor.

Paralelamente a esses acontecimentos, para além do mar estreio, na Cidade Livre de Pentos, encontramos Viserys e Daenerys, últimos descendentes de Aeryn II, rei morto por Jaime Lannister e substituído por Robert Baratheon. Viserys, em sua loucura pela reconquista do trono de ferro, vende sua irmã para Kahl Drogo, chefe dos dothraki, com o intuito de obter em troca um exército forte o bastante para invadir Westeros e retomar o trono de ferro para si.
No princípio, e talvez até a metade da história, o livro não é fácil de acompanhar. Praticamente inexistem cenas realmente grandiosas de ação, o que pode frustrar os leitores que procuram o livro ávidos por muita aventura e pouco diálogo. Os longos diálogos, aliás, que na maioria das vezes ocupam a maior parte dos capítulos, são os verdadeiros responsáveis por contar a história do começo ao fim, representando o maior diferencial do livro. Todos são recheados de mensagens escondidas nas estrelinhas e frases de efeito. É impossível não se deliciar com as tiradas de Tyrion, Varys ou mesmo Mindinho, sempre com as línguas bem afiadas.

Cada capítulo leva no título o nome de um personagem, dentre Eddard Stark, Bran, Catelyn, Tyrion, Jon, Sansa, Arya e Daenerys, e mostra o seu ponto de vista dos acontecimentos, com as peculiaridades de cada um muito bem traçadas pelo autor.

A escrita é fácil, enxuta, mas a forma como as informações são lançadas não é das mais didáticas, por isso apaixonar-se por Guerra dos Tronos requer também paciência e perseverança. São muitos acontecimentos, tanto do presente quanto de um passado remoto, às vezes nem tão importantes para o enredo principal, ainda que relevantes para acrescentar realismo a Westeros. Além disso, há diversos personagens, com nomes muito complicados, que facilmente serão esquecidos ou confundidos até que se acostume com eles. Chega um momento em que, mesmo tendo lido várias páginas, você sentirá que não sabe de nada. Apesar disso, o fato de Martin não lançar tudo de uma vez para o leitor pode ser considerada uma estratégia muito inteligente, porque gera mais mistério e não deixa a história mais lenta.

Os personagens são outro grande destaque. Todos são muito bem construídos, com características muito peculiares. Nenhum deles é perfeito. Ao contrário, possuem falhas, medos, limitações e são capazes de qualquer coisa, principalmente de surpreender e lutar pelo melhor para si. A maioria começa estereotipado, mas à medida que vão crescendo, tornando-se singulares e isso acaba passando despercebido diante da forma como tudo é bem trabalhado.

Eddard Stark representa o homem bom por natureza. É o único que se mantem incorruptível, mesmo diante de todas as pressões e tentações que é obrigado a suportar ao assumir sua posição de Mão do Rei. Mostra-se sempre cansado e arrependido da escolha que fez, mas seu senso de responsabilidade e o compromisso assumido com seu amigo Robert, e mesmo com o povo, parecem mais fortes do que as pressões feitas por Cersei Lannister, Varys, Mindinho e outros membros da corte. Não é inebriado pelo poder. Este, ao inverso, parece lhe causar aversão. Sua tarefa se torna ainda mais difícil quando tem que cuidar dos seus próprios deveres de pai sozinho, pois precisa ensinar a suas filhas tão diferentes a lidarem uma com a outra, mesmo que nem sempre se saia tão bem.

O bastardo Jon Snow vive atormentado com seu passado, principalmente por não saber quem é sua mãe. Apesar de ser tratado igualmente por seu pai e pelos irmãos, é odiado pela madrasta Catelyn e logo compreende que nunca haverá lugar para ele em Winterfell , por isso decide ir para a Patrulha da Noite. E lá, diante de sua ingenuidade e ainda preso aos seus valores essencialmente aristocráticos, acaba por cair nas armadilhas de outros patrulheiros, dos quais é muito diferente. Nesse momento precisa se desligar definitivamente de sua família e de seu passado, além de a aceitar as críticas e imposições de seus companheiros e lutar consigo mesmo.

Não há como não sentir pena de Bran e odiar de imediato os irmãos gêmeos Lannister por jogarem-no da janela. Assim como Jon, ele precisa aprender a lidar com sua nova condição, com sua deficiência, com o povo de Winterfell, com o conflito existente em sua mente causados pelo confronto das histórias que a Velha Ama lhe conta e os ensinamentos que Meistre Luwin lhe passa. Além disso, tem que assumir o papel de pai do próprio irmão mais novo, Rickon, e tentar controlar seu espírito intempestivo.

Já Catelyn é mãe, protetora por excelência. Faz tudo no intuito de tentar ter a família novamente ao seu redor. Suas preocupações são sempre voltadas para os filhos, principalmente com Bran, com quem fica a maior parte do tempo, só deixando-o quando parte em uma busca desenfreada para tentar descobrir quem o deixou aleijado a partir das pistas deixadas por sua irmã Lisa Arryn, que parece ter enlouquecido de vez.

Sansa é vaidosa, sonhadora e fútil. É a dama perfeita. O produto do que todos querem para as mulheres bem nascidas de Westeros. Adora as histórias de cavalarias, sonha em casar com um príncipe e preocupa-se somente com seus vestidos, sua beleza e as boas-maneiras. Além de odiar intensamente sua irmão Arya, que é seu exato oposto. Esta mais parece um menino. Abomina tudo aquilo que Sansa enaltece. Gosta de espadas, de guerra, de luta e não sonha em ser uma dama. Prefere as aulas de esgrima às lições da Corte passadas por Septã Mordane. Arya é violenta, vingativa e faz apenas aquilo que deseja. É fácil odiar Sansa e difícil não amar Arya, porque Sansa é superficial, enquanto Arya não cansa de nos surpreender e fazer tudo o que mais desejamos. Mas uma das maiores reviravoltas da história separa as duas definitivamente e transforma suas vidas de maneira drástica e irreversível. Nesse momento é que damos uma chance a Sansa.
Daenarys é a personagem que mais evolui ao longo do livro. De uma marionete nas mãos do irmão louco Viserys , ela se transforma em uma mulher forte, obrigada a abandonar a inocência infantil diante de um casamento forçado com o chefe dos dothraki e assumir o compromisso de rainha desse povo tão culturalmente diferente para ela. Com Khal Drogo, ela aprende sobre o mundo, descobre o amor e precisa lutar para mantê-lo vivo. As cenas do livro que protagoniza são algumas das mais épicas e emocionantes. Absolutamente memoráveis.

Tyrion Lannister é a personificação do anti-herói. Sua ironia foi a melhor forma que encontrou de lidar com os constantes decepções por que já passou. Caçula dos Lannister, é culpado pelo pai e os irmãos mais velhos pela morte de sua mãe, quando lhe deu a luz. Ninguém parece amá-lo ou ao menos simpatizar com ele. Até mesmo o leitor se sente inseguro com suas atitudes durante boa parte do tempo, até compreender que ele é totalmente diferente do resto da família. Embora pareça mau, é provavelmente um dos melhores personagens. Tyrion é apenas incompreendido, mas também é corajoso e, no fundo, só busca alguém que realmente o ame, que o aceite como é, embora nem ele mesmo goste de si, por isso parece sempre buscar pessoas que são consideradas tão baixas quanto ele, selvagens, prostitutas, ladrões. É impossível não torcer por ele, porque é o único personagem corajoso o bastante para enfrentar todos aqueles que mais odiamos, principalmente sua irmã Cersei.

Leva um tempo até que o leitor descubra que se está lendo algo realmente novo. Há críticas aos valores, à moral e à religião por todo lugar, mas tudo feito com muita sutileza. Não se trata de uma guerra entre o bem e o mal. É apenas a luta pelo poder e pelo que cada um acha melhor para si. É fantasia, mas não é para crianças. Há sangue, há sexo, há violência, há estupros e palavrões. Tudo nu e cru. Impera o realismo, o sofrimento, o interesse. Não há histórias de amor, mas somente de dor, recheadas de infidelidade e traição. É o passo a frente que precisam dar aqueles que cresceram com Harry Potter. É o terreno não explorado por J. R. R. Tolkien em o Senhor dos Anéis, porque os personagens, inclusive os mais secundários, são de carne e osso. Não há como não se identificar com algum deles, porque parecem existir no mundo real.

A magia abandonou Westeros e os dragões ficaram no passado. Essas são apenas histórias que as amas contam para as crianças dormirem, dizem os mais sábios. Mas isso é o que os personagens contam. E nada nem ninguém é o que parece quando se joga o jogo dos tronos.
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