As meninas

As meninas Lygia Fagundes Telles




Resenhas - As Meninas


577 encontrados | exibindo 16 a 31
2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 |


Thales 20/02/2021

Eu não sei nem por onde começar
É muito difícil fazer uma resenha sobre "As meninas". Essa obra é quase uma entidade metafísica com vida própria que continua caminhando entre nós. Mas vamo tentar.

Embora seja considerado um livro muito difícil, entender o enredo é fácil. Acompanhamos os acontecimentos de um curto período de tempo, papo de dois dias, na vida de três jovens moradoras de um pensionato de freiras: Lorena, menina da burguesia paulistana, de família cheia de causos trágicos, extremamente mimada e culta, amante virgem de um pai de família que a gente mal sabe se liga pra ela; Lia, filha de uma baiana com um ex-nazista fugido, tão envolvida com a causa socialista que seu namorado estava preso pela repressão; Ana Clara, menina de beleza rara que se diz modelo, vive na encruzilhada entre um amante rico - que a gente mal sabe se realmente existe - e um traficante, profundamente afetada por uma infância de abusos psicológicos e sexuais, drogada a ponto de nunca estar realmente sóbria.

E é seguro dizer, entre todas as aspas, que quase nada acontece. Daria pra eu contar praticamente tudo, tirando o último capítulo, sem cair em spoiler. Realmente a gente meio que "só" acompanha a rotina das três nesse curto período de tempo.

"Uai Thales, qual a graça então?" Calma...

O que importa de fato é por onde a Lygia quer nos conduzir a partir do entendimento que as meninas tem da realidade, investigando seu íntimo, seus impulsos, pensamentos mais crus. E aí que o bicho pega.

"As meninas" é "só" um pano de fundo para a autora colocar em debate temas sensíveis como abuso, política, tortura, moral e hipocrisia, drogas, o papel da igreja e etc. num momento em que a ditadura anulava qualquer contraditório. Esses temas permeiam o enredo de cabo a rabo, ora de forma mais sutil, ora mais escancarada. Essa foi a forma da Lygia dialogar com a sociedade de seu tempo. Lembrando que o livro foi publicado pela primeira vez em 1973, momento em que o Brasil vivia os anos de chumbo dentro dos anos de chumbo. Era o auge do governo Médici.

"Nossa, mas então como ele passou pela censura?"

Amado, olha pra nossa situação. Olha pros nossos generais. Olha pra cara do Pazuello. Os cara não entendem pergunta de repórter em coletiva de imprensa, vão entender esse colosso??? Reza a lenda que quando o censor responsável pegou a obra para avaliar desistiu bem antes do famoso relato de tortura.

E quando a gente diz, corretamente, que esse livro é super duper difícil, rebuscado, enfadonho, a gente tem que pensar nisso. O fluxo de consciência de fato exige muito do leitor - eu juro que fiquei com dor de cabeça algumas vezes -, mas ele não serve somente à narrativa, para que possamos junto com a Lygia mergulhar no labiríntico psicológico da juventude dos anos 70 e perceber seus desejos e contradições mais profundas; era também uma forma de driblar atenção indesejada da intelligentsia reacionária da época. Uma pessoa que não tenha uma vontade gigantesca de saber onde esse "nada com nada" vai dar não passa da página 10. E essa era a intenção.

Por tudo isso, a história de "As meninas" é completamente secundária. E digo isso sem nenhum desejo de diminuir sua envergadura. Trata-se de um tapa na cara, a fina flor do brilhantismo narrativo. Mas a existência per se da obra supera qualquer coisa que possa ser dita sobre seu conteúdo geral.

Teria nem como se pensar em dar nota prum monumento desses. Ele tá fora de qualquer possibilidade de escala. Mas em termos de Skoob não tem como ser outra.

Viva Lygia Fagundes Telles! E foda-se a academia sueca que a preteriu em favor do Bob Dylan - que recusou o Nobel! Bem feito.
Débora 20/02/2021minha estante
Resenha show!!!


Thales 20/02/2021minha estante
Brigado, Débora!


Gabi Rached 03/03/2021minha estante
Obrigada! Sua resenha me ajudou muito.


Thales 03/03/2021minha estante
Muito bom ler isso, Gabi!


stelajanuzzi 08/06/2021minha estante
é isso! entender o contexto em que foi lançado e o quão subversivo foi é prioritário e indispensável para analisar essa obra. Adorei a sua resenha!


Thales 08/06/2021minha estante
Valeu, Stela. De fato entender o entorno desse livro é fundamental, acho que não teria gostado tanto se tivesse lido sem saber


Alê | @alexandrejjr 05/05/2022minha estante
Baita resenha, Thales! Esse livro já tá na minha lista há tempos e parece ser o meu tipo de romance. Fiz a burrada de comprar "Ciranda de pedra" antes pois confundi esse livro com um romance da Lya Luft que eu detesto, chamado "As parceiras". De qualquer maneira, vou começar o lado romancista da grandiosa Lygia por esse livro e o teu texto só reforçou esse sentimento.


Thales 05/05/2022minha estante
Alê, tu acredita que eu não suporto essa resenha? Acho de uma inocência brutal ? Confesso que eu tenho um carinho maior pelo Ciranda e acho ele mais acessível, mas esse aqui é sem dúvidas o maior romance da Lygia. Acho inclusive que é 100% teu tipo mesmo


Marydalle 18/07/2022minha estante
??




Marcia 28/04/2024

Minhas impressões sobre o livro
O livro "As meninas" relata a história de três meninas, Ana Clara, Lia e Lorena, que vivem em um pensionato de freiras em São Paulo, na época da ditadura militar. Lorena pertence a uma família rica , ela é culta e tem um relacionamento meio que platônico com um homem casado, porem é virgem mas o tem como seu príncipe, como aquele que a tornará mulher. Ana Clara,é noiva e tem um amante traficante. Ela é muito bonita, tem certos traumas de infância e é viciada em drogas. Lia é meio que rebelde, faz parte de um grupo revolucionário e luta contra a forte opressão da ditadura. Tem um namorado que é preso e com ela vemos muito do cenário das ruas, dos jovens, das reuniões escondidas, das universidades e prisões dessa época. As três,por morarem nesse pensionato se tornam amigas, apesar de bem diferentes uma das outra, no pensionato elas se protegem dos seus medos, frustrações e descobertas.
A narrativa é em primeira pessoa e a cada capitulo vemos claro as característica de cada uma. É um livro lindo ,envolvente e nos torna parte da historia. Quando Lorena esta " em cena" ela da ênfase à música clássica, citações em francês, latim , arte e alguns lugares do mundo por onde o irmão viaja. Ana Clara já é mais simples, porem mais complicada e podemos perceber a realidade de muitos que vivem com drogas e trazem traumas de infância, sofrimentos fortes desde pequenos. Aprendemos muito com essas três meninas. A mim fez buscar informações politicas e também culturais para entender o que Lorena gostava de ouvir e poder compreende-la melhor. Busquei narrativas de ex-drogados e pesquisei informações de tratamentos a viciados para avaliar o cenário de Ana Clara e entender a vida de muitos jovens até hoje.
Recomendo a leitura dessa belíssima obra e faço a observação que o livro foi em 1973,período que não se podia falar, manifestar opiniões, fatos e a autora relata a te sessão de tortura.
comentários(0)comente



Fraoliveira180 10/05/2022

Ficção se faz com gente
Uma narrativa muito poderosa e ao mesmo tempo impactante, o qual Lígia Fagundes Telles vai discorrer sobre muitos assuntos cascudos como Homossexualismo, libertinagem Liberdade política; e e a narrativa se passa durante o ano de 1969, a ditadura militar no Brasil.
O livro é repleto de fluxo de consciência que tem a troca involuntária de narradores, os quais são quatro tornando o livro um romance polifônico muito interessante.
comentários(0)comente



lolo :) 09/06/2024

Meu Deus... eu não esperava grandes coisas desse livro. Comecei para conhecer Lygia, mas nas suas primeiras 50/60 pgs eu estava achando TÃO tediante. Mas quando segui na leitura... uau... mergulhei em outro livro. Depos li em um lugar que o livro tinha essa proposta mesmo, bom suponhamos, já que foi publicado enquanto havia a censura na época de ditadura no Brasil, e o livro retrata exatamente esse momento da história - chegando a relatar sua oposição de ideias por uma das personagens e seus diálogos e pensamentos.
Eu não tenho palavras p esse livro. Eu mergulhei na mente de 3 garotas e me senti nelas, já que o livro tem um narrador com fluxo de consciência. Recomendo demais demais. Aprendi e me diverti muito.
comentários(0)comente



Rita 17/04/2021

Eternas meninas
Para ler esse livro, é necessário passar a barreira do estranhamento que a narrativa impõe, o "fluxo de consciência". O leitor enxerga a estória pela percepção das três personagens, por isso a persistência para não desistir da leitura, que a medida que avança, vai se tornando cada vez mais envolvente e interessante. As três "meninas" - Lorena, Lia e Ana Clara - são amigas e universitárias em tempos sombrios da década de setenta no Brasil. Por serem jovens, pressupõe-se que as três poderiam ter um futuro promissor, mas se o tempo presente lhes é complicado e o passado se mostrou cheio de traumas e infelicidades o que esperar então do futuro? A uma delas não caberia essa promessa...
Esse romance é o primeiro de sua época a relatar uma cena de tortura durante a ditadura militar brasileira; é um dos que apresentam personagens femininas com opiniões distintas e sob o ponto de vista de uma escritora; é um romance que passeia pelas diferentes classes sociais e mostra como isso influencia o modo de enxergar e de estar no mundo.
As últimas páginas envolvem o leitor de uma tal forma que parece que o romance chegou, não ao fim, mas ao seu clímax. "A estória acaba assim?" pergunta o leitor inconformado... e surge aquele momento de reflexão, no qual a estória, de trás pra frente, passa pela sua mente e detalhes que antes passaram despercebidos, agora, fazem sentido. Embora fossem adultas, os contextos social e histórico não permitiam que as personagens pudessem crescer e se libertar para viverem plenamente, por isso, faz sentido pra mim, o título "as meninas". É um romance que deixou marcas permanentes na memória.
comentários(0)comente



Tina Lilian Azevedo 03/06/2022

Magnum Opus da Literatura Brasileira
Lygia Fagundes Telles relata em entrevista que chorou quando terminou de escrever este livro pois achou difícil se despedir das personagens. Eu não chorei, mas resisti a dar esta leitura por concluída. Demorei a dar por encerrada minha incursão no Pensionato Nossa Senhora de Fátima e na mente das três protagonistas - Lorena, Lia e Ana Clara. O que caracteriza um clássico é sua constante atualidade. Lygia, nesta obra magnífica, nos fala de acontecimentos passados em dois dias da vida destas jovens no ano de 1970, porém, as temáticas e os problemas que as envolvem são atuais. A opressão dos valores da "tradicional família brasileira"; a violência sexual contra crianças; o tabu inerente à masturbação; o aborto clandestino; o abandono familiar; o abuso de entorpecentes como fuga de uma realidade massacrante; enfim, a história se passa em 1970, mas modificado alguns elementos poderia ser hoje, sobretudo em tempos de saudosismos da famigerada ditadura brasileira. A narrativa, feita em fluxo de pensamento, nos conta a vida destas três meninas, jovens universitárias e suas vidas díspares mas que se entrelaçam. Tão diferentes entre si, mas que se complementam. É uma escrita magistral que condensa estilos e cria o seu próprio estilo. O estilo Lygia Fagundes Telles, único na literatura brasileira e merecedor de todos os elogios que lhe são destinados. Vou ler novamente, estudar a obra e, pretendo ler textos de referência de pesquisadores. Com certeza, darei de presente, especialmente àqueles que dizem não gostar de literatura brasileira. E, pretendo ler as demais obras da autora. Minha preferida, dentre todos os escritores brasileiros.
comentários(0)comente



Maria Clara Mendes 29/09/2021

Acho que descobri pq não houve censura... Mas não vou contar
As Meninas - Lygia Fagundes Telles - 1973 - ?????

Que loucura de livro, mas a época dele simplesmente não tinha o menor nexo também, venhamos e convenhamos. Sim, meus amigos, estamos falando da ditadura militar.

Mas vamos por partes. Nesse livro temos três personagens, três meninas: Lia, Lorena e Ana Clara, universitárias da USP e moram num pensionato. A história então se passa ao redor da vida delas. Cada uma contribui com o seu ponto de vista e a gente ainda tem a impressão de que tem mais alguém contando os fatos, mas não se sabe exatamente quem ou sabe né, vai ver é a própria Lygia.

Falando um pouquinho delas: Lorena é a mais equilibrada. Namora um cara casado, mas segue virgem. Lia é militante. Ana Clara é drogada. Consegue imaginar o que se passa, né? Não, não consegue. Confia kkkk

E a história vai sendo contada através desses olhares tão próximos fisicamente, mas mentalmente tão distantes entre si que você vai ficando boquiaberto com os diálogos e monólogos, mas principalmente pelo que se passa na cabeça de cada uma, mas que não é externado num diálogo, sabe? (????)... aquele tal de fluxo de consciência que está brevemente explicado nas imagens do post.

E aí que foi o maior pulo do gato pra mim nesse livro. O fluxo de consciência é completamente frenético nesse livro e por ter mais de um narrador, no início você fica louco sem entender de que cabeça vem aquele pensamento até que você descobre a personalidade e tudo faz sentido, pq fatalmente você vai associando os arquétipos durante a leitura. A pessoa já pensa: "essa só podia ser a Lia mesmo!"

Mas é difícil, principalmente por causa da vida delas. O que elas viram e viveram até esse momento aqui ainda parecia pouco pelo o que estava por vir.

Lygia escreve esse livro na época mais repressora da história desse país falando de sexo, drogas, dependência emocional e política e ainda assim não foi censurada. E aí eu te pergunto: como, né??? Depois de ler você tem uma breve ideia, mas não vou te contar o segredo. Tem que ler porque a mulher é simplesmente gênia.

Leitura tensa, desafiadora e rica. Li poucos nessa pegada e recomendo fortemente!
comentários(0)comente



Josiane Gonzaga 24/05/2024

As meninas
Estou devendo a mim mesma duas resenhas rs

Bom, não gostei muito desse livro. A premissa é bacana, mas não atingiu o objetivo comigo, eu acho.
É um livro que fez com que a Lygia fosse premiada, conta a história de três garotas muito diferentes. Ele é escrito durante a ditadura militar no Brasil, e passa pela censura por um deslize do governo, já que nele há críticas ao regime.
O começo é muito confuso, você demora um pouco a entender qual garota esta falando, mas depois pega o jeito. É uma leitura rápida e fácil, super fluida, escrita muito bacana, mas a história não me pegou.
Terminei o livro com a sensação de que só aconteceu uma ou dias coisas relevantes no máximo.
A história não me pegou, mas não tiro o brilhantismo da autora.
Vou assistir a aula do clube do livro e, creio que entenda mais sobre a história.
comentários(0)comente



Lobo 10/03/2021

Cometário
Vozes singulares que criam e determinam seus próprios mundos em uma mistura que expressa o ambiente conturbado de 1970, trazendo um romance de formação de gênero humano que apresenta personagens imperfeitas e inacabadas, assim como nós. É a trajetória dessas meninas para se torna outra coisa...
thalyta.vsc 11/03/2021minha estante
??




Morgan 04/07/2020

No começo achei uma leitura bem difícil de se ler, não por ser chato, mas por ser confuso de quem era quem os capítulos, as vezes tinha uns diálogos que não eram diálogos, mas em si eu amei o livro.
A ousadia da autora de escrever de assuntos tão delicados em época de ditadura, e o quanto tem coisas complexas, esse livro deveria sim ser lido por muitos, mas nos 3 últimos capítulos você não consegue parar, quer ver onde vai dar, e não poderia ser diferente. Um ótimo livro falando da vida de 3 garotas/mulheres e o amadurecimento.
comentários(0)comente



Cinara... 18/06/2020

"Não sei explicar, mas todo aquele que luta com plena consciência para ajudar alguém em meio da ignorância e da miséria, todo aquele que através dos seus instrumentos de trabalho, do seu ofício der a mão ao vizinho, é santo. Os caminhos podem ser tortos, não interessa. É santo. "

Perfeito!!!!!
comentários(0)comente



Camila 06/06/2022

Desafiador
Um texto completamente diferente de tudo que já li um dia.
Uma leitura verdadeiramente desafiadora pela sua estrutura e caminhar de pensamento.
A história de três jovens garotas, moradoras de um mesmo pensionato, envolvidas cada qual com seu conflito pessoal e ao mesmo tempo com os conflitos das demais.
Uma história que transita pelo fluxo de ações e pensamentos de cada uma delas com uma fluidez que muitas vezes nosso pensamento falha ao acompanhar.
Um texto perfeito que traz menos respostas do que gostaríamos, mas que nos entrega um detalhamento interessante de muitas situações.
Certamente encontrarei com esse texto novamente para uma nova leitura.
comentários(0)comente



Fabricy 07/09/2021

Arrebatada!!!
Foi o primeiro livro da Autora que li, confesso que foi muito difícil no início sair da minha zona de conforto, porque a narrativa acontece através do fluxo de consciência das 3 personagens, fora que em alguns momentos temos um 4 narrador!

Uau!!! Depois que começamos a perceber quem está narrando fica mais fácil entender! E que final surpreendente!

É incrível como Lygia sabe abordar assuntos sérios, trazer gatilhos emocionais assim, sem ser incômodo! Ainda assim é uma leitura densa e um pouco confusa às vezes, mas é maravilhosa!!! Estou fascinada!!!

Além de ter sido de extrema coragem a Autora abordar assuntos sérios e tabus em uma época tão conturbada no Brasil.

Lygia Fagundes Telles virei sua fã!!! Que escrita singular! Quero mais!!!

Leiam!!!
comentários(0)comente



Karlla.Daltro 14/05/2021

Vozes femininas colocando em pauta assuntos até hoje polemizados.
Esse é o terceiro romance da autora Lygia Fagundes Telles, onde 'As Meninas' que intitulam o livro são as amigas Lorena Vaz Leme, estudante de Direito, de comportamento guiado pelo ideal romântico de feminilidade, Lia de Melo Schultz, a militante de esquerda que estuda Ciências Sociais e a linda Ana Clara Conceição, estudante de psicologia assombrada pelo passado marcado por abusos sexuais e pelo presente dominado pelo uso de drogas.

Em 1969, ano que se passa os acontecimentos, as três vivem no Pensionato Nossa Senhora de Fátima, ao redor do qual ronda o fantasma da ditadura militar brasileira.

O livro merece constar entre os mais ousados da literatura brasileira, em primeiro lugar porque discute e relata explicitamente a barbárie dos porões da ditadura enquanto esta ainda estava em vigor no país, reproduzindo corajosamente e pela primeira vez na ficção do Brasil, um depoimento de tortura de um preso político.

Aliás, a razão pela qual 'As Meninas' escapou da censura é bem curiosa: segundo Lygia disse no documentário “Lygia, uma escritora brasileira”, produzido em 2017 pela TV Cultura, o setor responsável por avaliar o romance, achou o livro tão monótono que não passou das primeiras quarenta páginas lidas (ainda bem kkk).

Sendo assim, os efeitos da intervenção do regime político na vida individual da burguesia paulistana são amplamente questionados através da íntima trajetória das três amigas no intervalo de tempo em que a história acontece. Ainda que a opressão as afete de maneiras distintas, considerando as próprias diferenças de personalidade das meninas, o autoritarismo constitucionalizado as cercam com igual eficiência, mantendo elas em um mesmo cativeiro.

A autora não poderia escrever um romance "morno" no ano de 1970 (ano que ela planejou o livro). Ela sabia realmente os vícios daquela sociedade.

Por meio das vozes de Lorena, Lia e Ana Clara, são colocados em pauta assuntos até hoje polemizados, como a emancipação sexual feminina, a homossexualidade, o uso de drogas e o papel do militarismo dentro do Estado.

site: https://www.instagram.com/projetolerautoras/
comentários(0)comente



Paula 18/07/2012

Toda a genialidade de Lygia Fagundes Telles num só romance
Sempre tive vontade de ler "As meninas", pois apesar de nunca ter tido contato com um romance de Lygia Fagundes Telles, já tinha lido diversos fragmentos e contos de sua autoria. Já estava, então, ciente de sua genialidade. Porém, devo dizer que Lygia se superou.
"As meninas" nos remete a um contexto de ditadura em meados dos anos 70, tempo difícil para qualquer jovem cidadão residente no Brasil. Supressão da liberdade, prisão e intolerância marcam o período. No romance, acompanhamos a trajetória de três amigas que vivem em um pensionato em busca de seus objetivos e sonhos, passando por situações críticas como envolvimento com drogas, futilidade e rebeldia.
A autora faz questão de ressaltar as características de cada personagem e talvez esse detalhe tenha sido o que mais me chamou a atenção. A narrativa é cheia de minuciosidades e pequenas percepções, o que nos faz entender muitas questões do passado das meninas.
Lorena é uma jovem típica burguesa com grande apego às questões materiais. Tem uma forte ligação com a música e a literatura. Cultiva um relacionamento tenso com um homem casado e com filhos. Ana Clara é uma jovem linda e complicada. Submergiu no mundo das drogas e não há um trecho no romance no qual ela apareça sóbria. Seus parágrafos são os mais difíceis de serem compreendidos. Lia é uma esquerdista extrema, revolucionária. Faz parte de grupos perseguidos pelo governo que estudam a filosofia e a sociologia. Namora um preso político.
Aqueles que nunca tiveram muito contato com o estudo da literatura certamente estranharão a leitura de "As meninas": interpretar certos trechos de Lygia não é tarefa fácil. Porém, quando nos habituamos, o romance flui de forma agradável. A autora intercala a 1ª e 3ª pessoa livremente, por vezes usando um narrador onipresente. Usa-se o humor e há trechos do presente que remetem ao passado o tempo todo.
Lygia Fagundes Telles recebeu ótimas críticas com a publicação de "As meninas" e não há razão para dizer o contrário: ela conduz o leitor com maestria e sua narrativa é impecável. Só senti falta de um desfecho mais concreto para certas personagens, porém o final é surpreendente.
Que eu possa apreciar outras obras da autora, essa que ganhou mais uma fã através do sutil impacto de suas palavras. Prato cheio para amantes da literatura brasileira, 5 estrelas.


Mariana 18/07/2012minha estante
Já sabe que em algum momento vou seuqestrar o seu livro, né?


Paula 18/07/2012minha estante
Hahahaha pra ficarmos quites você precisa sequestrar uns 5 meus. Empresto com prazer :)




577 encontrados | exibindo 16 a 31
2 | 3 | 4 | 5 | 6 | 7 | 8 |


Utilizamos cookies e tecnologia para aprimorar sua experiência de navegação de acordo com a Política de Privacidade. ACEITAR