Debora 28/03/2022A vida na ditadura passa por esta obraLygia disse que “a função do escritor e ser testemunha do seu tempo e da sua sociedade”, o que é o mote perfeito para As Meninas.
Do posfácio do livro, de Cristovão Tezza, extraio um resumo das personagens: "Do ponto de vista da trama, a narrativa é simples e concentrada também no espaço: Lorena Vaz Leme, Lia de Melo Schultz e Ana Clara Conceição são três amigas muito próximas, mas muito diferentes. Pode-se dizer que elas se definem a partir de três “arquétipos”, ou figuras típicas da época. Ana Clara é a mais bonita, a mais liberada e a mais problemática, por ser dependente de drogas; Lia, afetivamente chamada Lião pelas outras, está envolvida na luta armada contra a ditadura; e Lorena, a mais intelectualizada, é uma jovem rica de uma família tradicional de proprietários de terras."
O que mais me marcou foi a construção da narrativa, em que o foco vai se alternando entre as 3 personagens, às vezes sem demarcação nenhuma. Mas não se assustem, depois do susto inicial é fácil perceber quem é quem, porque as meninas são personagens bem desenvolvidas e delimitadas. E contraditórias. É por meio da perspectiva dessas três jovens que Lygia traz o universo feminino sob uma perspectiva moderna.
Mas não é só isso que a autora faz... No meio da trama, principalmente por meio da personagem Lia, mas também nas interações das meninas com as freiras, principalmente com Madre Alix (a superiora), também discute o momento de repressão pela ditadura. Há, inclusive, um relato de tortura inserido no livro, apresentado por Lia e conhecido pela madre pela sua relação com a mãe do preso.
Não há muitos acontecimentos marcantes, mas sim os pensamentos, frustrações e vontades daquelas meninas, apresentados usando um fluxo de consciência. Mas muito marcante é o final do livro – duvido que esquecerei dele tão rápido, que me fez parar para sentir todo o contado até ali.