Indrig 26/12/2023
Uma leitura acessível para sua época, entretenimento e raiva
Vou começar pelos pontos negativos pra depois falar dos positivos.
Comecei a ler Jane Eyre despretensiosamente como uma leitura paralela de uma discussão que aconteceria semanalmente de alguns capítulos. Nesse embalo, fui reparar que o livro tinha 536 páginas, se tornando então um dos maiores que já li. Creio que ele seria menor se não fossem capítulos e capítulos dedicados à descrição de ambientes e diálogos em 5 frases que poderiam ser ditas em apenas 1. (Sim, fiquei muito irritada com isso).
Dito isso, o livro me encantou primeiramente, pela escrita acessível de Charlotte Brontë, que para mim foi uma grande surpresa, uma vez que não estou acostumada com livros de época e esperava uma escrita muito mais crua e de difícil entendimento. Segundo, o fato de ser uma autobiografia e a autora utilizar uma estratégia para aproximar o leitor, da mesma forma que Machado faria anos depois, utilizando o "caro leitor", deixa a leitura cada vez mais acolhedora.
O livro me cativou pela construção e evolução da protagonista, que no início sofremos junto com ela e depois passamos raiva com ela. Jane se revela como uma criança rebelde, mas que encontra na fé (já falo sobre) uma forma de manter o pé no chão, passando a ser uma jovem e adulta obediente e paciente. Por muitas vezes ela foi bobinha e ingênua, mas não nego a força dessa mulher.
Quanto à sua interação com o Sr. Rochester aquilo foi entretenimento puro, aquele homem não bate bem das ideias. Juro manas, o episódio da cigana, preciso perguntar, que surto foi aquele?
Queria fazer um adendo e defender Jane por todas as vezes que foi chamada de feia e também gostaria de rir da cara do Rochester por todas as vezes que foi chamado de feio. Afinal, os feios se atraem. Viva a feiúra!
Quanto a narrativa, como eu disse, muita coisa poderia ser reduzida ou resumida, ou simplesmente resolvida de uma forma não tão coincidentemente assim, mas fazer o que né, o livro precisava ser grande, os capítulos precisavam descrever ambientes, os diálogos precisariam ser de páginas e páginas. (Sim, estou muito chaeteada com isso). Mas fora isso, a construção da protagonista e evolução desde a infância até adulta e as escolhas que fez para chegar onde chegou, foram de bom tamanho e muito bem narradas.
Quanto aos temas e críticas propostos ou identificados no livro. Gosto da ideia de Jane quebrar o padrão das mulheres da época, afinal a ideia de que mulher é dócil, só serve pra cozer, cuidar e cozinhar é chatissimo. Jane surge como educadora e enfatiza a importância desse papel na sua vida e na vida daqueles que toca. O fato dela ser inteligente, dedicada, interessada em aprender idiomas, por exemplo, demonstra o quanto seu perfil é inovador para as demais mulheres. O que me irritou foi a visão "mea culpa" cristã que limitou todo o potencial que a moça tem. Muito chato passar horas lendo que Jane não devia suprir seus desejos, devia sofrer, devia aceitar a pobreza e a falta de cuidado para ser recompensada num paraíso futuro. Gente, não é assim que funciona. Mas como eu disse ela tem uma força de pouquíssimas pessoas. Um humor muito sábio também. Postei aqui no skoob antes, numa atualização da leitura em que uma citação crítica essa ideia "da pessoa se cobrir na religião por medo de mostrar seus desejos não resolvidos". Eu achei isso crucial.
No mais, é um livro gostoso, garante entretenimento e de fácil leitura.
Ps. Só eu que achei Àdéle uma chatinha? Aff.