Michele Soares 24/03/2021
"I am nothing; I have nothing to do with explosions."
muito boa essa edição. acompanha material datilografado pela poeta ao lado das traduções, com breves notas sobre os poemas ao final do livro. Ariel teve uma dupla origem e a versão pensada pela autora antes da morte não foi a versão que Ted Hughes, o marido, organizou (mutilou e repensou) para publicação. essa é a versão da Sylvia, com os poemas que ela queria na versão em que ela queria.
esse é um livro bastante doméstico, etéreo e cru ao mesmo tempo. muito pessoal, com versos em que se fala da maternidade na sua face luminosa e na sua face grotesca, separações, adultério, mulheres sempre de material frágil como papel, a natureza dilacerante das coisas e dos homens.
visceral e carregado de violência, mas de uma delicadeza e de uma musicalidade que empurram o leitor sempre pra frente, sempre pra frente como um daqueles carrinhos mecânicos de casa do horror levam a criança sempre pra frente independente dos seus gritos e espantos. é o passeio por uma vida apodrecida, constantemente explorada com imagens cirúrgicas/médicas. uma constante alucinação que parte tanto de compostos químicos, quanto da própria lucidez e seus passeios pelo passado. um acerto de contas com o marido, com a mãe, com o pai, com os filhos. preciso e rigoroso como faca.
marquei muitos como prediletos: O candidato, Mulher estéril, Lady Lazarus, Tulipas, Olmo, Danças noturnas, A detetive, A lua e o teixo, Rival, Papai e Um presente de aniversário.