Daniele 27/03/2012
mpossível falar de O Vampiro Lestat sem mencionar seu predecessor, Entrevista com o Vampiro. Não apenas por ser a continuação da saga que iniciou-se com a narrativa de Louis, mas também porque as duas histórias são intimamente entrelaçadas. Neste segundo volume das Crônicas Vampirescas, os eventos ocorridos em Entrevista com o Vampiro são retomados, mas agora relatados pelo prisma de Lestat, que inicia sua história revelando ter estado enterrado por mais de 50 anos depois de ter visto Louis pela última vez.
Sentindo-se injustiçado ao acordar e descobrir que o outro vampiro havia produzido um livro com a história da família que formavam, juntamente com Cláudia, Lestat decidiu renovar a idéia, de forma mais ousada, e lançar sua própria autobiografia, enquanto experimentava a adorável volta do espírito livre do seu século agora nos anos 80.
O livro, então, relata toda a longa vida de Lestat até o presente, e revela um personagem um pouco distinto daquele percebido por Louis: uma criatura que descobriu muito mais do que revelava, e que possuía um amor imenso pelos humanos, ao ponto de influenciar toda uma geração de vampiros a aproximar-se da sociedade e dos costumes das épocas, ao invés de viverem proscritos e escondidos em lugares lúgubres, o que deu início a uma nova forma de “mal”.
Contudo, apesar de tão próximos, os dois livros são tão distintos entre si quanto seus protagonistas. Entrevista com o Vampiro é claustrofóbico, repleto de dúvidas e divagações, com poucos personagens, características físicas pouco detalhadas e personalidades pouco compreendidas, tal qual seu introspectivo narrador,Louis; ao passo que O Vampiro Lestat tem um caráter exuberante, fantástico, floreado e revelador, tudo o que torma sua leitura facilmente envolvente, semelhante à natureza de seu “autor”. E, mais uma vez como ocorre com os seus protagonistas, os livros não podem ser separados, de modo que a leitura de um torna diretamente obrigatória a leitura do outro, complementando-se assim.
Quando Lestat termina suas memórias e retorna a 1984, transcende o mais inesperado grau de ousadia que um ser das trevas jamais alcançou: torna-se um rockstar para que, através de sua música, de sua autobiografia e de sua própria imagem de vampiro auto-confesso, o universo dos imortais tal qual conhecia fosse escancarado e finalmente deixasse de existir apenas à margem da vida mortal. Mas este é o vampiro Lestat – o “novo mal” dos séculos, eternamente renovado, sempre brincando entre os humanos, no limiar do perigo, contrário a toda razão.
Então, como desfecho de seus planos, Louis e Gabrielle voltam para os seus braços, para juntos lutarem contra a fúria daqueles outros de sua espécie, indignados com a sua inescrupulosidade. Além do que, uma estranha força mística parece ter sido despertada pelos fatos, trazendo a iminente morte a Lestat em seu leito.
E “O sol se erguera no horizonte”. Fim de mais uma noite.