Thalissa.Betineli 27/07/2021
Favorito da minha vida.
"E um estranho pensamento me ocorreu, o de que a luz do Inferno deveria ser tão brilhante quanto a luz do sol, e seria a única luz que eu veria de novo."
Lestat foi apresentado para nós ainda em Entrevista com o Vampiro. Retratado como um vilão por Louis, tido como um inimigo por Cláudia, a ótica mostrada no primeiro livro nos leva a considerá-lo um personagem estranho, distante e até prepotente.
Devo dizer que sim, Lestat é um poço de arrogância quando quer, e aqui já passo o meu pano. Ele pode, ele merece!
O desfecho do primeiro livro não tem uma ligação direta com o segundo, por isso, Anne Rice foi brilhante ao trazer, em primeira pessoa, quebrando a quarta parede de uma narrativa, Lestat com todo o seu esplendor no tempo atual de que o livro foi escrito, e que caiu como uma luva para a sua personalidade expansiva, extravagante, chamativa e deliciosamente cativante - como um vampiro deve ser!
O Vampiro Lestat nos traz para os anos 80 quando, ao acordar do seu sono profundo por uma banda de bairro, nas redondezas por onde escolheu repousar por longos anos, percebe que já não conseguirá mais se desprender do mundo atual. Este o chama. Este precisa dele. E ele precisa de vida.
Anne nos brinda com a cena em que ele descobre que sim, Entrevista com o Vampiro é um livro dentro do livro, que existe, e ele se lê, vê como foi retratado e ainda zomba de Louis. Dessa forma, temos então o começo da sua narrativa, uma maneira de se apresentar contando sua história desde quando era humano, nos idos de 1700, antes mesmo da Revolução Francesa, em um castelo no interior da França.
A narrativa da Anne é sem dúvidas a minha favorita, pois ela mescla erotismo, descrição, fatos históricos, metáforas, questionamentos existenciais, falhas humanas, e uma forma extasiante de nos envolver com a história a ponto que em vários livros seus, tive a sensação dos cheiros, dos sons, de vislumbrar detalhadamente a cena.
E é dessa maneira que ela se consagra como minha autora favorita: quando me leva, junto a Lestat, a Auvergne, interior da França, e mostra a vida triste, desolada e melancólica do 7 filho de um nobre sem riqueza. Fadado a viver naquele vilarejo, protegendo-o dos lobos, acaba por perder seus fiéis cães e cavalos, se tornando famoso por ser um Matador de Lobos entre as pessoas dali. Mas Lestat quer mais, ele sonha com mais. Ele precisa ver o mundo além daquelas muralhas que cercam o castelo, e então encontra o Teatro.
Lestat no palco aquece nossos corações, e Lestat, na torre, diante de Magnus, nos destrói.
Sua personalidade é tão efusiva, tão contagiante, tão brilhante e viva, que é impossível você não se simpatizar com ele. Tanto antes de se transformar em vampiro, como depois, quando precisa desbravar um mundo desconhecido das Trevas, fugir do seu amado Nicolas (sou apaixonada por esse personagem), encarar sua mãe, e confrontar Armand (meu segundo personagem favorito).
Há algumas problemáticas neste livro? Meu pano não deixou ver, pois fui tragada por essa história, riqueza de fatos e detalhes, que vislumbrei aquela Paris escura, suja, com ratos, fedor, fossas a céu aberto, a torre em que ele morava, os lugares abaixo do cemitério Les Innnocents e tantos outros lugares citados. Mas foram as emoções de Lestat que me arrebataram de vez, que me levaram a devorar cada capítulo até conhecer a história de Akasha e descobrir que Anne tem uma criatividade única, a ponto de nos levar ao Egito Antigo!
Em contrapartida, temos momentos no tempo presente, com as peripécias de Lestat como astro do Rock, nos mostrando como ele pode ser versátil, como ele é tão incrível que merece os holofotes, que nos encanta, nos questiona e traz consigo indagações pertinentes.
O Vampiro Lestat, para mim, é uma das suas melhores obras, por abrir as portas de vez a esse universo criado, e por nos apresentar o protagonista de toda essa história.
Lestat é um príncipe malcriado, e sigo irremediavelmente apaixonada por esse vampiro.