Djeison.Hoerlle 29/08/2023
Apesar das biografias em quadrinhos serem o provável mais aclamado subgênero da mídia, sendo justo afirmar que, no geral, funcionam de forma muito mais satisfatória do que as biografias em longa-metragem, ainda assim configuram as obras que menos me chamam a atenção.
Penso que isso se deva ao fato de eu ser um contrapontista nato, sempre insistindo nas braçadas contra a maré, seja essa maré composta por essa avalanche de relatos intimistas ocasionados pelo sucesso de Maus, ou pela insistência dos críticos, que que elegem uma nova biografia em banda desenhada como imprescindível a cada mês. Talvez por isso que eu tenha demorado mais de dois anos para finalmente me debruçar sobre a leitura de Persépolis após adquiri-la.
E devo dizer, no início desta jornada de 350 páginas, tudo dava a entender que meus anseios eram justificáveis. A história trazia um ou outro ponto galhofa, sempre intercalado com momentos mais tocantes e informativos, cumprindo bem o formulaico papel de apresentar o leitor do ocidente a uma cultura que ele não conhece, ou que julga, erroneamente, conhecer.
Mas com o avançar das páginas, não sei se por uma melhoria verídica das sacadas, ou talvez por uma espécie de erosão ocasionada pela consistência no emprego de seus artifícios narrativos, as tiradas cômicas da avó de Marjane, conseguiram, enfim, me extrair sorrisos, na mesma medida em que os ensinamentos do pai da protagonista passaram a me despertar reflexões, além, claro dos dramas por ela vividos que me fizeram verter em lágrimas. A construção do relato de Marjane como o de alguém que é ocidental demais para os padrões do próprio país, e iraniana demais para os padrões do ocidente, apesar de lugar-comum, tomou-me de uma melancólica e sincera empatia a qual nem mesmo minha má vontade foi capaz de vencer. Persépolis, ao contrário do que supunha inicialmente, não se tratava de um relato sobre os conflitos de uma parte do mundo, mas principalmente dos conflitos de uma jovem que sente que não há parte do mundo que lhe caiba.
Talvez por este ser um dos sentimentos mais inerentes ao ato de amadurecer, mesmo em recortes muito mais pacíficos do globo, é que essa história tenha me fisgado tanto. Fica, como dever de casa, assistir a animação que, segundo dizem as boas e as sinceras línguas, entrega tanto quanto o quadrinho.
Persépolis é um clássico e isso não é à toa.