Carol 04/07/2021Impressões da CarolLivro: A morte em Veneza {1912} e Tonio Kröger {1903}
Autor: Thomas Mann {Alemanha, 1875-1955}
Tradução: Herbert Caro e Mário Luiz Frungillo
Editora: Companhia das Letras
198p.
O livro escolhido para o debate no clube @leialgbtq, do instagram, deste mês foi "A morte em Veneza", que considero uma novela perfeita. Acabei lendo, também, "Tonio Kröger", que dialoga com o mote central da novela mais conhecida de Thomas Mann: o ideal clássico do belo e o embate do artista entre a razão e o caos.
Aschenbach é um escritor de meia-idade, renomado, que ao cruzar com um estrangeiro desconhecido, em frente a um cemitério, é atravessado pela ânsia de viajar. O que o leva à Veneza, onde irá conhecer Tadzio, adolescente de "diáfana e intangível beleza".
A admiração por este belo encarnado, de início platônica, desdobra-se em desejo sexual, em pulsão de morte, ao mesmo tempo em que a cidade de Veneza é acometida pela peste, pela cólera, que traz a ruína anunciada desde o título.
"A morte em Veneza" é um texto bastante erudito, a começar por este mote estético, que resgata a oposição entre as forças apolíneas (da consciência) e as forças dionisíacas (do instinto), conceitos abordados por Nietzsche em 'O nascimento da tragédia'.
A estrutura da novela é a da tragédia grega, com sua imagética ancorada na mitologia. Além da óbvia referência a Apolo e a Dionísio, temos a presença da deusa Eos, quando Aschenbach observa o amanhecer e do barqueiro Caronte e sua travessia no Hades, quando Aschenbach passeia pelos canais venezianos.
Mann faz referência ao espírito do tempo, de Hegel, e o preço que o artista moderno deve satisfazer para possibilitar o fazer criativo, a submissão do próprio ser. E cita, diretamente, 'Fedro', de Platão. A ideia da beleza em si passa forçosamente pela beleza sensível, mas, é necessário dela distanciar-se.
Enfim, "A Morte em Veneza" é uma novela que permite diversas chaves de leitura, suas poucas páginas enganam o leitor incauto. Eu poderia falar mais da morte como leitmotiv ou da negação do tempo ou mesmo da doença como libertação dos interditos morais. Porém, pela limitação de caracteres, deixo a minha forte indicação de leitura.
"Também do ponto de vista pessoal, a arte é uma vida mais intensa. Causa profunda felicidade, porém consome rapidamente. Grava na fisionomia de seu servidor os sinais de aventuras imaginárias e espirituais, e, não obstante a calma monacal da existência exterior, produz no decorrer do tempo um quê de fastio, ultrarrefinamento, cansaço, curiosidade dos nervos, tais como a vida cheia de orgiásticos prazeres e paixões dificilmente seria capaz de provocar." p. 23