Victor Dantas 28/06/2020
Lili: Uma voz no movimento transgênero.
O nosso corpo, não define o nosso eu.
Decidi escrever essa resenha hoje, dia 28 de junho de 2020, pois, nesta data é celebrado o dia do Orgulho LGBTQIA+.
E, portanto, eu não podia de deixar de falar sobre a Lili e sua representação para a nossa comunidade LGBTQIA+, e, principalmente para comunidade transgênero.
Talvez, você conheça a história de Lili, devido ao filme “A Garota Dinamarquesa” (2016), ganhador de 1 Oscar.
No entanto, a obra foi inspirada no livro do David Ebershoff, publicado em 2000.
O livro é classificado como uma ficção histórica, onde possui recortes de acontecimentos reais, que nesse caso, é a vida de Lili, e eventos históricos como a 1ª Guerra e a Crise Econômica de 1929.
Na trama, somos apresentados ao casal Greta e Einar. Ambos são pintores, e vivem em Copenhague na Dinamarca.
Greta é californiana, mas, se mudou para Dinamarca em busca dos seus sonhos, que é a Arte. E o Einar, é um dinamarquês nascido no interior de Bluetooth.
Num primeiro momento, acompanhamos o casal no período pós-guerra, onde Greta e Einar estão casados e, morando juntos em Copenhague.
O casal leva uma vida tranquila, de muito amor, companheirismo e muita Arte.
Mas, apesar de serem pintores, a Greta sempre se sentiu na sombra de Einar, por ele ser mais reconhecido por seus quadros, enquanto ela, é sempre rejeitada pelos clientes.
No entanto, tudo está prestes a mudar quando Greta está pintando um quadro de uma mulher, e, pede a Einar para que ele use um vestido e pose, para a esposa poder finalizar o quadro.
Einar, que sempre viu na sua esposa um potencial artístico, uma mulher inspiradora, decide ajudá-la, e então, veste o vestido e posa para Greta.
E, nesse momento, através da Arte, através de Greta, que a Lili... nasce.
A personagem Lili, começa a aparecer constantemente, quando a Greta recebe elogios pelos seus quadros e, começa a ter uma fila de clientes para adquirir seu trabalho.
Enquanto isso, Einar vai percebendo aos poucos que talvez a Lili não seja apenas um personagem, uma performance, talvez, a Lili seja real.
A cada dia que passa esse sentimento vai aumentando dentro dele, e a Lili vai se tornando cada vez mais presente na vida do casal.
Até que em um momento, Greta e Einar, entende que a Lili é uma mulher real, e, que o Einar, é a Lili.
O leitor então, vai acompanhar o nascimento da Lili e a sua independência enquanto mulher.
O livro é dividido em quatro partes, onde cada uma se passa num momento específico da vida da Lili e da Greta. E em um desses momentos, acompanhamos a transição de gênero e a transformação, do Einar para a Lili.
A amizade, o amor, e o apoio mútuo entre a Greta e Lili é lindo de acompanhar, e faz o leitor se emocionar várias vezes. A Greta é uma mulher fantástica e a forma como ela lida com toda a situação, em vê seu marido morrendo e no seu lugar, nascendo a Lili, é algo único.
Só lendo para você sentir o que estou falando.
A escrita do David Ebershoff é poética, e sensível. O autor conseguiu escrever personagens bastantes complexos e profundos, não só a Greta, Einar e Lili, mas, também os personagens secundários, que têm uma importância fundamental na história.
Toda ambientação foi bem descrita e apresentada, o leitor consegue visualizar facilmente a Copenhague dos anos 20 e 30, e, também as outras cidades por onde a Lili e Greta passam, Paris, Menton, Berlim, Dresden.
Além disso, vemos os primeiros passos da Medicina diante as condições de gênero e sexualidade, como a cirurgia de transição de sexo, a lobotomia e outros estudos.
O final do livro conforta o leitor, no sentido de que, vemos como a Lili foi uma mulher forte, resiliente, e, como sua jornada foi linda e inspiradora.
LEGADO:
Se você não sabe, Lili Elbe, foi uma das primeiras pessoas no mundo a passar por cirurgia de transição de gênero, seu caso, foi muito conhecido na época, onde renderam inúmeras manchetes. Lili Elbe, faleceu em 1931, e, em 1933, foi publicado um livro autobiográfico “Man into Woman”.
Essas e outras informações estão contidas no livro, após o final, onde o David Ebershoff foi entrevistado e responde perguntas a respeito do processo criativo do livro.
CONHEÇA A LILI. E SE ENCANTE POR ELA.